Ciência e Saúde
Desmistificar mitos na ciência
É comum, nos nossos dias, ouvirem-se falar de uma série de “factos” científicos que, na verdade, não passam de meros mitos que foram sendo integrados na cultura geral.
A verdade é que essas crenças, que nascem da necessidade de explicar o porquê das coisas, mesmo sem qualquer base científica, devem ser desmistificadas e corrigidas.
“Laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata.”
O ditado de que “laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata” é um dos mais difundidos, principalmente pela população mais velha. Contudo, os cientistas explicam que pela sua riqueza em vitamina C, fator importante para a boa saúde dos vasos sanguíneos, esta é uma fruta que deve ser incluída na dieta de toda a gente. Além disso, a laranja ajuda na fixação de ferro no organismo, na cicatrização de tecidos e para o crescimento. Alguns cientistas acreditam que a base deste mito se prenda com o facto de este ser um alimento ácido, o que poderá causar desconforto na hora de dormir, caso tenha sido o último alimento a ser ingerido ou ainda que o teor de vitamina C contido na laranja possa interferir com alguma medicação. A verdade é que a resposta a este alimento, assim como a qualquer outro, depende do organismo de cada indivíduo, portanto o recomendado é manter uma alimentação equilibrada e variada.
“O ser humano utiliza apenas 10% do cérebro.”
Uma outra frase muito ouvida, inclusive em alguns filmes, é que o ser humano é capaz de utilizar apenas cerca de 10% do seu cérebro. A realidade é que, este mito é desmentido com o recurso a uma simples imagem de ressonância magnética funcional, através da qual neurocientistas podem identificar quais as partes do cérebro que são ativadas quando realizamos as mais diversas atividades. Assim, através deste estudo é possível verificar que um simples movimento de abrir e fechar de mão requer uma atividade cerebral muito superior a uma décima parte. Ademais, responsável por apenas 2% da massa corporal do nosso corpo, o cérebro utiliza 20% de energia, na forma de glicose, para funcionar, facto que corrobora a ideia de que são utilizados mais do que os ditos 10% do cérebro. Acredita-se que este mito, criado e espalhado por alguns cientistas e psicólogos se baseie no facto de que apenas 10% do volume total do nosso cérebro sejam neurónios, e a restante percentagem sejam células da glia, cuja função é dar suporte e proteção aos
neurónios.
“A lua tem um lado negro.”
Segue-se agora a ideia de que “a lua tem um lado negro”. A verdade é que a lua tem um lado próximo e outro distante, porém as quantidades de luz que incidem sobre ambos os lados são semelhantes, ou seja, não existe um lado negro, mas sim um lado que nunca foi observado a partir da Terra. Tal explica-se pelo fenómeno denominado por “rotação sincronizada” que se baseia no facto de que o tempo de rotação, ou seja, o tempo que a lua demora a rodar em torno do seu próprio eixo, é igual ao tempo de translação, isto é, o tempo que a lua leva a girar em torno da Terra.
“A água conduz eletricidade.”
Um outro mito, prende-se com a ideia de que a água conduz eletricidade. A verdade é que a molécula de água (H2O) sozinha, é incapaz de conduzir eletricidade, ou seja, a água destilada não tem essa capacidade condutora. Aliás, a água pura pode ser considerada um isolante, e não um condutor, devido ao seu alto nível de resistividade. O que permite à “água” possuir esta característica são as impurezas que se encontram dissolvidas na mesma, como sais minerais. Estas impurezas contribuem com iões que, em solução com a água, lhe fornecem a capacidade de conduzir eletricidade. Como a água que se encontra presente no quotidiano da população não é pura, irá conduzir eletricidade, daí a crença neste mito.
“Os peixes têm uma memória de três segundos.”
Por último, a crença de que os peixes têm uma memória de apenas 3 segundos, também é errónea. Esta expressão é frequentemente direcionada a alguém que, por norma, é esquecido, daí a frase “tens uma memória de peixe”. Todavia, segundo o biólogo Culum Brown, “Os peixes são mais inteligentes do que parecem. Em várias áreas, como na memória, as suas capacidades cognitivas equivalem ou excedem às dos vertebrados, incluindo às de alguns primatas”. Além disso, um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Israel mostra que os peixes podem lembrar-se de certas coisas por um período de quatro a cinco meses, o que em muito supera os três segundos.
Muitos mitos científicos persistem na cultura popular, o que indica que ainda há muito a ser desmistificado. Como tal, a educação e a divulgação científica têm um papel crucial na correção de mitos e na promoção de um conhecimento mais fundamentado.
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Artigo redigido por Beatriz Novais Ferreira. Revisto por Joana Silva.