Artigo de Opinião
PORTO. PONTOS.
O Porto surgiu com uma nova cara. O Porto, agora, é azul e branco. O Porto, agora, são linhas geométricas. O Porto é Porto, só, com um ponto final no fim. Porto. Ponto.
A câmara municipal do Porto decidiu mudar a sua imagem. A nossa imagem. Mas com que sentido? O Porto não é azul e branco. O Porto tem muito mais cores. É cinzento, com a chuva que cai em grande parte do ano. É amarelo, vermelho e verde, de todas as suas casas. É um arco-íris de todos os seus cidadãos e cidadãs. Não é homogéneo. Vai da baixa ao Bairro do Aleixo, da Foz do Douro a Campanhã, das pessoas mais pobres às pessoas mais ricas. Acima de tudo, o Porto não é um clube de futebol e não faz sentido representá-lo com as cores deste último.
O Porto também não é um ponto final. Um ponto final significa uma certeza. E não há certezas nos portuenses. Há estudantes que não podem estudar. Há desempregados, que não têm dinheiro para subsistir. Há pessoas sem casa que dormem nos bancos de jardim. Há um mercado do Bolhão ainda a desintegrar-se. Há bairros sociais a precisar de reabilitação. Uma rede de transportes que está a ser desmantelada. E tantas coisas mais que gritam urgentemente por intervenção. Um ponto final significa um fim, uma coisa que não muda, uma afirmação. E o Porto precisa de mudar, precisa de ser reinventado, precisa de se tornar mais inclusivo, precisa de um plano social eficaz.
Tentar meter o Porto numa imagem tão simplificada que a Câmara nos impinge em massa por todas as ruas, rotundas e por onde quer que pousemos o olhar, é, para mim como portuense, absurdo. Não somos simples. Não somos geométricos. Não somos bicolores. O Porto desta nova imagem não é a cidade onde vivo. A cidade onde vivo é mais como a whipala, bandeira de todas as cores que Evo Morales escolheu para representar a Bolívia. São umas reticências ou um ponto de interrogação: algo que não é perfeito nem está terminado e que necessita de constante reinvenção.
Esta nova imagem da Câmara Municipal do Porto, mais não me parece que uma tentativa de a tornar mais parecida com todas as outras cidades europeias. Bem limpa e geométrica como os turistas gostam. Eu, o que eu gostava, era de uma imagem onde eu e todos e todas estivéssemos também incluídos. O que será mais importante?
Aeroplano
28/10/2014 at 12:21
Infelizmente não se pode agradar a todos. Abraços!
Afonso Loreto Aguiar
29/10/2014 at 04:16
Gostei muito. O Porto não é um clube, não é uma instituição, nem são as pessoas que estão no poder. O Porto são todas as pessoas que fazer parte desta linda cidade. São todas as casas que estão a cair e que, mesmo degradadas, trazem aquele ambiente antiquado, mas charmoso.
David Guimarães
29/10/2014 at 19:52
Está bastante melhor do que a escolha do Rui Rio. Esteticamente não é muito criativo mas, não acho mal. Sobre o azul e branco aconselho-a a ler um artigo que escrevi aqui à uns meses neste mesmo jornal http://juponline.pt/2014/05/o-porto-e-uma-nacao-foto/