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Educação

“O INÍCIO DO ANO NÃO TEM DE SER UMA CONFUSÃO” – AS ALTERNATIVAS À PRAXE

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Apesar da sua pequena escala, as outras formas de iniciar a vida académica sempre existiram paralelamente à praxe, ora associadas às próprias instituições, ora independentemente criadas. O crescente debate referido anteriormente, assim como a questão cada vez mais levantada sobre se a praxe é realmente necessária e se fará sentido nos dias que correm, têm permitido uma maior abertura da janela de atuação destas atividades.

São principalmente as Associações de Estudantes que fazem a primeira ponte entre estudantes mais velhos e mais novos, estando presentes desde a disponibilização de ajuda no decorrer das semanas de matrículas até à apresentação dos próprios órgãos e grupos (desde culturais a desportivos) que os novos estudantes podem integrar.

 

Que ofertas existem então, alternativamente à praxe académica, como modelo de integração dos recém-chegados ao ensino superior?

 

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Associação de Estudantes – a primeira ponte entre mais novos e mais velhos

Neste novo ano letivo, a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (AEFCUP) colabora com a direção da própria instituição, auxiliando os novos alunos na sua chegada. A preocupação geral é fornecer informações que os integrem tanto na cidade, como na faculdade. Em primeiro lugar entregam uma lista com contactos de alojamento, um folheto de apoio à candidatura às residências universitárias, um mapa da cidade do Porto, um folheto dos STCP,  um kit contendo o Jornal INFO – Jornal da AEFCUP -, numa edição especial para os novos estudantes, um Guia de Integração Académica e flyers das parcerias da AEFCUP e da FAP.

Ao lado do Palácio de Cristal, a Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (AEFFUP) segue um protocolo idêntico, desenvolvendo ainda um workshop de técnicas laboratoriais, de forma promover uma melhor adaptação ao tipo de ensino da faculdade.

É este o primeiro elo de ligação criado entre os estudantes do primeiro e os dos outros anos. A importância da ajuda na formalização da inscrição no curso, que vai preencher muitas horas dos próximos anos, trata-se de um dos momentos mais cruciais para que os novos estudantes adquiram uma boa imagem do local que os vai acolher.

Mas porque nem só de formalidades o Ensino Superior é feito, a AEFCUP organiza outras atividades. Possui uma maratona fotográfica, uma sessão de cinema ao ar livre, um quizz e um dia desportivo, visando promover o convívio e o desporto. Há atuações dos grupos académicos da instituição e uma Jam Session, assim como insufláveis e um touro mecânico nos jardins da mesma. A semana acaba com um churrasco designado “IV Rainhas da Noite” e com a festa de receção no Via Rápida, organizado pela AEFCUP em associação com a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (AEFCNAUP).

A Faculdade de Belas Artes da UP, no ano em que possui pela primeira vez atividades praxísticas, contou contudo com as suas habituais iniciativas alternativas. Os novos estudantes foram recebidos com uma sessão de abertura e com uma visita guiada à cidade, às instalações da faculdade e ao museu de Serralves. Contaram ainda  com um mini churrasco,  uma churrascada final, um rally das tascas, um piquenique e  vários workshops. O programa contou também com vários concertos, como o de Jurassic Cat, Big Red Panda, Makishi e DJsets de Dungeon_Explorer.exe e Shuggah Lickurs. Possuiu ainda uma sessão com o professor, pintor e poeta Diogo Alcoforado, a Noite Belas Artes no espaço Maus Hábitos e a possibilidade de ingressar numa viagem a Santiago de Compostela.

Sob o lema “os primeiros dias na faculdade não precisam de ser uma confusão”, a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da UP organizou, nos passados dias 17 e 18 de setembro, atividades que pretendiam integrar os novos estudantes. E se o primeiro dia visava essencialmente os aspetos mais relevantes desta integração, passando desde a visita às instalações até ao convívio entre alunos, o segundo dia permitia essencialmente realçar o enfoque cultural que nunca deve ser colocado de parte. Houve lugar para a exibição do filme “The Dreamers” de Bernardo Bertolucci e, apesar de não efetuado devido a condições climatéricas, estava previsto um percurso noturno pela cidade do Porto.

Fica clara a importância das Associações de Estudantes na receção dos estudantes do primeiro ano, num papel de colaboração exercido de colega para colega. O seu papel visa sobretudo mostrar aos novos alunos que os próximos anos podem ser um importante motor de conhecimento a vários níveis, assim como de experiências vastas. No entanto, e como referido por Carolina Pimentel (AE da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto), “este tipo de ações realizadas não devem surgir como alternativa a qualquer outro tipo de iniciativa, mas sim como uma necessidade principal. É função de uma Associação de Estudantes integrar os estudantes e promover o seu convívio e outros conhecimentos, independentemente do que outros grupos ou projetos existentes na faculdade ou fora dela  possam fazer.”

 

Cria’ctividade – Coimbra, uma nova tradição?

JUP_integração académica_MarianaRio_04Coimbra é uma lição/ De sonho e tradição”, cantava Amália Rodrigues, em 1947, no filme Capas Negras. Com o objetivo de, como nos diz a canção, criar uma nova tradição, Cria’ctividade, o novo projeto da cidade, surge de um sonho e do esforço das várias repúblicas conimbrenses. O seu objetivo é, essencialmente, integrar os alunos da universidade de uma forma em que não exista, fazer “uso de qualquer ritual de iniciação tradicionalmente usado”. Procurando mostrar a cidade menos acessível a toda a gente, o projeto contou com várias atividades, que promoviam as tradicionais repúblicas, mostrando a sua recetividade e disponibilidade para ajudar os alunos. A programação, referente à semana de 15 a 21 de Setembro, contou com concertos, debates, festas, roteiros, workshops, jantares e até com o lançamento de um livro e um quizz. Algumas das atividades foram comuns a todas as repúblicas, como a Festa Cria’ctiva (inauguração do evento), o debate sobre Tradição Académica e Movimento Estudantil em Coimbra, e a Feira Cria’ctiva. Houve também um campeonato de latixa (carica) e um concerto designado À(s) Beira(s) do Hip Hop, com procurava mostrar este estilo de musica na zona do centro da cidade.

Numa altura em que o debate em torno das tradições académicas cresce, o projeto tem gerado opiniões diversas, misturando-se a apreensão e a curiosidade. Segundo Isis Sousa, organizadora, a relação com a comunidade praxística “tem sido um contacto interessante. Tem suscitado diálogos e debates ideológicos bastante produtivos, cujos frutos se vão recolhendo aos poucos”. Relativamente à opinião daqueles que não concordam com praxe, ou que estão fora da comunidade académica, “têm-se mostrado muito interessados e felizes por se ter criado algo como o Cria’ctividade”.

O evento esteve aberto a toda comunidade, e não apenas aos alunos do primeiro ano, e assim pretende continuar. Surge como um projeto pioneiro, pois “é a primeira vez que um grupo de pessoas formaliza um evento aberto a toda a comunidade (estudantil ou não), não se restringindo a grupos específicos, como por exemplo, uma faculdade”. Não significa, contudo, que seja o único acontecimento não relacionado com praxe a ocorrer ao mesmo tempo na cidade. Quando questionada relativamente ao apoio económico recebido para a realização do projeto, Isis refere que “obter apoios nunca é uma tarefa fácil, ainda mais em primeiras edições de projetos sobre os quais não há qualquer tipo de expectativas”. Ainda assim, pela originalidade do projeto, houve empresas que se mostraram recetivas e contribuíram. Finalizada a semana, a organização espera ter criado pontes para que os apoios voltem a existir nas próximas edições, e que existam também em iniciativas de carácter semelhante.

 

JUP_integração académica_MarianaRio_03Universidade do Algarve – Uma Praxe Alternativa

Longe daquela que tem sido apelidada a praxe tradicional, uma comitiva que se distribui entre estudantes e professores do curso de Educação Social da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve organizou uma semana de campo com o objetivo de dar a conhecer aos novos alunos a região e as principais instituições existentes. A Universidade refere que “esta iniciativa inédita apresenta-se como uma alternativa às praxes tradicionais. A organização espera que esta primeira atividade entre estudantes do 1º ano, estudantes representativos dos 2º e 3º anos e professores do curso de Educação Social abra novas perspetivas, contribuindo para uma melhor integração e um melhor futuro académico dos novos alunos”.

Talvez numa perspetiva idêntica à anterior, os cursos de Biologia e Biologia Marinha foram dar a conhecer aos novos alunos o CIAA – Combate à Indiferença e Abandono Animal – um grupo informal que resgata e ajuda animais abandonados ou negligenciados.

 

Universidade do Porto – O que a “nossa” pode oferecer num modelo extracurricular?

Porque não só de formação curricular o estudante do ensino superior deve ser moldado, na Universidade do Porto existem alguns projetos que abordam desde temáticas culturais ao voluntariado jovem. Os exemplos abaixo enunciados são apenas os mais destacados, sendo que, normalmente, cada Associação de Estudantes tem também integrados outros projetos menores dirigidos a cada curso. Este tipo de atividades, não sendo exclusivas a determinado grupo de alunos, poderão apresentar-se como uma alternativa para aqueles estudantes que pretendam ocupar o seu tempo extracurricular de outras formas diferentes.

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  • Associação de Voluntariado Universitário

A Associação de Voluntariado Universitário (VO.U.) é uma instituição sem fins lucrativos existente desde junho de 2008,  que tem como objetivo sensibilizar, formar e integrar voluntários, dirigindo-se principalmente aos estudantes do ensino superior, de modo a promover ideais humanos, princípios de não-agressão e tolerância.

 

  • Teatro Universitário do Porto

De dois em dois anos o TUP abre as suas portas a quem quiser aprender um pouco mais de teatro (ou mesmo começar do zero). Apesar de a oportunidade já ter passado este ano e as novas vagas voltarem apenas em 2016, será com certeza importante referenciar aquilo que tanto este grupo de teatro como outros menores (de que é exemplo o SOTAO, na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar) procuram: explorar as capacidades criativas de cada um como um processo de formação tanto profissional como humana.

 

  • ESN Porto

O Erasmus Student Network (ESN) é uma associação que promove a integração dos estudantes Erasmus chegados à cidade do Porto. No seu leque de atividades, conta com o programa buddy, que se baseia na temática do voluntariado e da troca de valores culturais. Assim, o objetivo será que os estudantes portugueses recebam e ajudem os novos alunos vindos de outros países.

 

  • Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto

O Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto (NEFUP) é uma associação cultural académica apoiada pela Reitoria da Universidade do Porto que tem como principais objetivos a recolha, compreensão e divulgação do folclore Português, apresentando-o sob a forma de espetáculo de danças, cantares e outras manifestações da cultura popular.

 

  • Jornal Universitário do Porto

Fundado em 1987, o Jornal Universitário do Porto (JUP) é o órgão de informação estudantil mais antigo do país, tendo sido criado por estudantes e gerido pelos mesmos. Este, apresenta um espaço onde os estudantes podem confrontar diferentes ideias e desenvolver competências ao nível do jornalismo, design e fotografia. O JUP permite explorar uma área informativa diferente da área de estudos de cada um, sendo aceites pessoas de todas as faculdades e cursos. A participação é livre e voluntária a todos aqueles que quiserem colaborar.

 

  • FAP No Bairro

Há 4 anos atrás, surgiu a necessidade de criar um espaço físico que permitisse a intervenção estudantil duma forma social e voluntária. Dessa ideia surgiu um centro comunitário concebido por estudantes, com o objetivo de ajudar, mudar ou tocar solidariamente o quotidiano de algumas crianças, pré-adolescentes, idosos e famílias com graves carências socioeconómicas, culturais e de saúde. Os estudantes têm assim a possibilidade de contactar com uma realidade existente num bairro social, muito diferente do seu dia-a-dia, sendo-lhes possível intervir ativamente nesta.

 

É um facto real que a praxe académica continua a encontrar-se bastante presente no quotidiano de uma grande fatia daqueles que frequentam o ensino superior. O seu inquestionável significado para tais estudantes não é fachada e deve ser tido em conta. É lógico que, ao integrar um grupo que realiza atividades tantas vezes interligadas com momentos como o final do curso (de que são exemplo a Serenata do Finalista ou a Queima das Fitas), e que têm a capacidade de interromper o período letivo por uma semana, qualquer estudante se sente de alguma forma conectado com uma identidade que pode representar, efetivamente, a Universidade do Porto ou outra qualquer onde se encontre inserido. Contudo, em igual pé de igualdade devem ser colocados aqueles que não pretendam participar nela. A criação de modelos de atividades alternativas vem vincando essa urgência, através de eventos que, não sendo exclusivos a não praxistas, pretendem isso mesmo: favorecer a troca de experiências entre pessoas que encaram o ensino superior de forma diferente, aceitando a diversidade e incitando a criação de plataformas saudáveis de discussão. Formam-se, assim, interações em que aqueles que já frequentam o ensino superior há mais tempo podem ajudar a integração dos novos alunos, através de uma divulgação igualitária e sem qualquer ideia de ridicularização daquilo que a outra pessoa possa idealizar como o melhor modo de o fazer.

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