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Artigo de Opinião

Self-lie e Simulacro: “Sonho Acordada com Susana Estrada” da Artista Sophia Cavalcante

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“Sonho acordada com Susana Estrada” é uma experiência estético-plástica das histórias que marcam a vida da artista Sophia Cavalcante. A exposição estreia neste sábado (30), na Galeria do Sol e fica aberta ao público até o dia 1 de janeiro de 2025, na cidade do Porto, em Portugal.
Sob o alter-ego Susana Estrada, Sophia mergulha no conceito de “Self-lie”, uma exploração provocadora da identidade digital | Imagem: Divulgação

Envolvida pela temática da materialização da ideia de hiper-real, “Sonho Acordada com Susana Estrada” é uma experiência estético-plástica das estórias que marcam a vida da artista cearense Sophia Cavalcante. A exposição estreia neste sábado (30), na Galeria do Sol e fica aberta ao público até o dia 11 de janeiro de 2025. 

Sob o alter-ego Susana Estrada, Sophia mergulha no conceito de “Self-lie”, uma exploração provocadora dessa identidade digital e-contemporânea. Inspirada pela abordagem pós-moderna da fotógrafa e diretora de cinema estadunidense, Cindy Sherman, a brasileira constrói narrativas fictícias dessa ordem imaginária que dá vida à sua personagem: “há cinco anos, nos encontramos no centro do mundo, com as mãos na mesma posição. Foi um sinal entre nós”.

A artista combina técnicas variadas como pintura a óleo, bordado e o uso de materiais industriais como látex, silicone, além de peças fundidas em alumínio e latão. Com essa diversidade de recursos, ela constrói a narrativa que transporta Susana Estrada do universo dos sonhos para a esfera da hiper-realidade, que é um estado no qual a realidade e suas representações se tornam indistinguíveis, em que a imagem simulada se sobrepõe ao real.

Caminho na Estrada: Uma Estreia Individual

Segundo a artista, a sua primeira exposição individual representa a concretização de uma conexão profunda com sua “cara-metade”, Susana Estrada. “Hoje, a vejo com tanta vivacidade nos meus sonhos de meio-dia”, confessa, sempre a entrelaçar realidade e imaginação em suas palavras:

“Sua claridade quase apagou com a luz dos meus olhos, é tão forte, como um soco de fogo na boca do estômago. É fisicamente desconfortável absorver toda a sua irradiação, assim sendo a única forma de existir, eu vou sair para que você possa entrar no meu lugar”.

Por meio de suas criações, Sophia projeta um olhar crítico e feminista sobre o cotidiano, examinando, com sutileza e ironia, as dinâmicas das redes sociais e as ações que nele se desenrolam. Além do conceito de “Self-lie”, a multiartista trás essa ideação da “Escultura do Pensamento Performático” onde faz essa transposição da sua presença digital para um contexto físico, dando forma as suas esculturas performáticas.

Alter-Ego e a Hiper-Realidade: O ‘Self-lie’ do Eu Digital

O conceito de “Self-lie”, explorado pela artista através de seu alter-ego Susana Estrada, oferece uma rica reflexão sobre as dinâmicas de identidade e representação na era digital. Motivada por Sherman, conhecida por seus autorretratos conceituais, Sophia fabrica narrativas fictícias capazes de nos levar a questionar a autenticidade do eu nas redes sociais, um espaço onde a identidade é constantemente performada e reconstruída. 

Sonho de uma noite de verão. Essa ideia ressoa com a teoria dos simulacros e hiper-realidade do filósofo francês Jean Baudrillard, que estabelece essa ideia de que vivemos num mundo onde a realidade é continuamente substituída por representações reproduzidas ao infinito. No contexto das redes, o “eu” torna-se um simulacro: uma versão idealizada ou fragmentada de si mesmo, que não reflete mais a essência original, mas se torna uma nova “realidade”, consumida e acreditada pelos outros.

Essa reprodução do eu ocorre de forma semelhante à lógica do simulacro, onde a identidade digital deixa de ser uma mera representação para se tornar uma “hiper-realidade”.

O “Self-lie” de Sophia vai além da mera simulação, ao propor uma relação consciente com a ficção, onde o falso é usado como ferramenta crítica para revelar as construções artificiais que todos, inevitavelmente, desempenhamos online. E nem vamos falar do uso (e abuso) da Inteligência Artificial na criação e mediação da arte no século XXI. 

A Materialização Desse Alter-Ego Digital

Sophia Cavalcante é uma artista que trabalha com a performance cotidiana em simultâneo com investigações que aproximam a ficção e a realidade como motor da performance. Por função, trabalha em partido de uma performance escultórica e informal, inserindo conceitos associados a performance do pensamento como meio de emancipação do objeto escultórico. Em meados de 2020, a artista decide inserir o alter-ego Susana Estrada como veículo de exploração da performance social.

Essa figura de mulher artista imigrante brasileira — e isso já faz dela presente — a faz ser reconhecida como uma aluna pulsante na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, sempre a provocar e surpreender com performances e obras que desafiam convenções. O seu trabalho transborda o “fora da caixa”: roupas feitas de carne de frango, colunas de som estridentes tocando brega – o popular e vibrante ritmo brasileiro. 

Como já disse outra vez por aqui num texto que “revelo” a obra Reflexão do Dia, performance da artista presente no Serralves em Festa 2023, todo o seu repertório parece fugir deliberadamente dessa estética colonialista ainda tão presente na academia: ideal de beleza geométrica, estruturas simbólicas e conceitos higienizados — religiosidade, normatividade e patriarcado. 

Ao criar momentos e narrativas fictícias para Susana Estrada, Sophia desestabiliza as expectativas de autenticidade, ao mesmo tempo que reflete sobre os padrões normativos e o impacto social das interações digitais. Nesse jogo de máscaras, ela aponta para a ironia de um mundo digital onde a mentira não é apenas tolerada, mas frequentemente necessária para validar a própria existência.

 

Serviço: 

Sonho Acordada com Susana Estrada

Inauguração: 30.11 às 16h — até dia 11 de janeiro de 2025

Galeria do Sol, R. do Duque de Loulé, 206

Fontaínhas, Porto, Porto

 

Texto da Autoria de Ícaro Machado

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