Artigo de Opinião
A Europa Que Quero: Defesa e Energia num Ano Decisivo

Todos já reconhecem que a Europa vive um ano decisivo relativamente à questão da guerra na Ucrânia, conflito que está a abrir um precedente gravíssimo no que diz respeito à segurança internacional. Este facto continua a moldar a atualidade no âmbito da política externa e de segurança da União Europeia, levando os Estados-membros a reforçarem os seus orçamentos militares e a procurarem uma maior coordenação na defesa comum, especialmente tendo em conta que o fenómeno Trump, após a sua eleição, promete agitar as águas do sistema internacional – e já o está a fazer relativamente à cooperação na NATO.
Paralelamente, todos nós acordamos com a realidade da crise energética, que expôs a vulnerabilidade do continente face à dependência de fornecedores externos. Torna-se, assim, urgente apostar na diversificação das fontes de energia, bem como reforçar os investimentos nas energias verdes.
No fundo, já todos percebemos que a União Europeia precisa de definir as suas prioridades e encontrar um caminho que lhe permita alcançar a sua soberania estratégica sem comprometer o bem-estar das suas populações. Neste artigo, decidi expor de forma sucinta a minha opinião relativamente à questão da defesa europeia e da segurança energética.
Gastos com Defesa: Um Passo Necessário
Infelizmente acho que já percebemos que a Europa acordou tarde no que diz respeito ás questões geopolíticas e a realidade das ameaças internacionais um exemplo disso é como a Rússia que já tinha dado aviso na questão d Geórgia , 2014 com a invasão da Crimeia que culminou com a invasão ao território ucraniano em 2022.
Num contexto de instabilidade global cada vez maior e de desafios geopolíticos crescentes, os gastos com defesa têm sido tema de debate intenso na União Europeia. O aumento dos orçamentos militares dos Estados-membros, impulsionado pela guerra na Ucrânia e por outras ameaças emergentes, tem sido visto como um passo necessário para reforçar a segurança do continente A percentagem do PIB gasta em defesa acaba por ser uma referência para assegurar e ajustar a política de segurança à realidade internacional.
Contudo, este aumento dos gastos levanta questões cruciais sobre a eficiência dos recursos investidos. A necessidade de uma maior coordenação na defesa europeia não só visa alcançar independência e evitar duplicidades, como também reduzir a dependência da NATO. Uma defesa integrada, que partilhe tecnologias, inteligência e estratégias, poderá permitir uma resposta mais eficaz às ameaças comuns. Esta cooperação reforçada é, para muitos, o caminho para uma autonomia estratégica que beneficie a própria União.
Adicionalmente, a situação reforça a importância de uma abordagem coletiva e coordenada na defesa europeia. Uma maior integração dos recursos e das estratégias entre os Estados-membros não só otimiza os investimentos realizados, como também fortalece a posição da UE face a ameaças externas, reduzindo a dependência excessiva de aliados. Assim, a defesa não é um gasto exagerado , mas sim um pilar fundamental para garantir a soberania e a estabilidade a longo prazo do continente.
Um exemplo disso é uma ideia que, pessoalmente, defendo enquanto europeísta: o projeto do exército europeu. Trata-se de uma iniciativa com a qual concordo, que ambiciona criar uma estrutura militar comum, permitindo a partilha de recursos e a definição de estratégias integradas, visando sobretudo retirar a esfera de influência americana, uma vez que as relações da Europa com os Estados Unidos a nível de defesa têm sido estreitas, devido à nova abordagem de Donald Trump.
Esta proposta poderá potenciar uma resposta mais eficaz às ameaças comuns, promovendo a autonomia estratégica da UE.
Por outro lado, os elevados investimentos na área militar podem ter um impacto significativo no orçamento da UE, desviando fundos que poderiam ser aplicados em setores sociais essenciais, como a saúde, a educação e as políticas de coesão social.
A prioridade deve ser encontrar um equilíbrio entre a segurança e o bem-estar dos cidadãos. Assim, o desafio reside em conceber uma estratégia de defesa que otimize os recursos disponíveis, promovendo uma coordenação mais estreita entre os países europeus e integrando projetos como o exército europeu, que contribuem para a proteção do continente sem comprometer o crescimento económico sustentável e a qualidade de vida da população.
Segurança Energética: Caminho Para Autossuficiência
Num cenário marcado por crescentes tensões internacionais, a crise energética está a assumir um papel central na agenda política da União Europeia. A dependência de gás e petróleo provenientes de fornecedores externos revelou-se uma vulnerabilidade crítica, sobretudo em contextos de instabilidade geopolítica.
O avanço das energias renováveis surge como uma resposta promissora, embora não isenta de desafios. A transição energética implica a modernização das infraestruturas existentes, o investimento em tecnologias inovadoras e a adaptação dos sistemas energéticos a fontes menos poluentes, como a solar, a eólica e a hídrica. Contudo, a implementação destas soluções exige não só recursos financeiros, mas também um esforço coordenado entre os Estados-membros para ultrapassar barreiras regulatórias e tecnológicas.
A descentralização da produção de energia é um elemento-chave neste processo e pode ser incentivada através de programas de apoio a comunidades locais e pequenas empresas.
A implementação de micro-redes e sistemas de armazenamento de energia são exemplos de medidas que aumentam a resiliência e permitem uma gestão mais eficiente da energia produzida a partir de fontes renováveis
Harmonização das políticas regulatórias a nível europeu é imprescindível para facilitar a transição energética. Um quadro regulatório claro e flexível reduzirá as incertezas para os investidores e criará um ambiente propício à inovação e à adoção de novas tecnologias, assegurando, ao mesmo tempo, a proteção dos interesses públicos e ambientais.
A criação de um mercado energético europeu mais integrado, no que diz respeito às políticas energéticas entre os Estados-Membros, e o fortalecimento da interconectividade elétrica e do gás permitirão uma distribuição mais eficiente da energia, bem como a criação de reservas estratégicas e mecanismos de compra conjunta de gás, fatores que podem contribuir para uma maior estabilidade de preços.
Para mitigar o impacto dos preços da energia na economia europeia e no bem-estar dos cidadãos, a União Europeia deve investir na diversificação da matriz energética, reforçando as energias renováveis e modernizando infraestruturas para garantir maior estabilidade de preços. A integração do mercado energético europeu, aliada a mecanismos de compra conjunta e a uma regulação eficaz, pode reduzir a volatilidade e fortalecer a segurança energética.
Além disso, medidas de apoio às famílias e empresas, como subsídios e incentivos à eficiência energética, são essenciais para aliviar a pressão dos custos.
A promoção de políticas de eficiência energética e a taxação justa sobre os lucros extraordinários do setor energético contribuirão para um sistema mais sustentável e acessível, garantindo o equilíbrio entre competitividade económica e justiça social. A regulação do mercado deve ser um esforço conjunto dos Estados-Membros, como demonstrado pela aplicação de políticas de taxação sobre os lucros extraordinários das empresas energéticas.
Investir na transição energética é um passo essencial para garantir a segurança energética da União Europeia e reforçar a sua autonomia estratégica num mundo cada vez mais instável.
Europa: Um Futuro Desafiador
A Europa enfrenta desafios estruturais que exigem respostas concretas e coordenadas. A defesa e a segurança energética não são apenas questões técnicas, mas pilares fundamentais para garantir a soberania estratégica da União Europeia num mundo cada vez mais instável. A guerra na Ucrânia demonstrou que a paz e a estabilidade não podem ser tomadas como garantidas, reforçando a necessidade de um investimento robusto na defesa europeia e de uma menor dependência de aliados externos.
Da mesma forma, a crise energética expôs a vulnerabilidade do continente, tornando imperativo apostar na diversificação das fontes de energia e na transição para um modelo mais sustentável.
Aquilo que devemos exigir, não apenas como portugueses, mas como europeus, é o fortalecimento da autonomia estratégica da UE, o que passa por decisões políticas corajosas que garantam segurança sem comprometer o bem-estar dos cidadãos.
Faz parte da natureza humana preocupar-se com o conforto e a qualidade de vida, e investir em defesa e energia não deve ser visto como uma despesa, mas sim como um investimento no futuro. Só assim a Europa poderá afirmar-se, ultrapassando as limitações do soft power e atuando cada vez mais como um ator global forte, resiliente e capaz de proteger os seus valores.
Artigo da Autoria de Alexandre Ribeiro
