Desporto
ROBERT ENKE: UMA VIDA REALMENTE CURTA DEMAIS…
A dificuldade na escolha de um tema para esta semana não desapareceu. No entanto, naturalmente encontrei o tema certo. Acabei por realizar um desejo que já tinha há muito. Hoje é dia 10 de Novembro de 2014. Se recuarmos 5 anos, as nossas vidas deviam ser bem diferentes do que são agora. Pelo menos a minha era.
Há 5 anos, no dia 10 de Novembro de 2009, encontrava-me no meu 10º ano de escolaridade, e nesse dia estava de saída para uma visita de estudo da disciplina de Biologia e Geologia.
Logo pelas 10h da manhã uma notícia marcou aquele dia, sem ter ainda noção da sua real dimensão. Morrera Robert Enke, guarda-redes titular do Hannover 96 e principal opção da seleção alemã. Dadas as informações da comunicação social, teria posto termo à própria vida atravessando-se à frente de um comboio numa localidade perto do seu local de residência.
Não tinha nenhuma admiração em especial pelo alemão. Não conhecia o seu trabalho, nem sequer o realizado na passagem pelo Benfica. Tinha uma noção de que era bom, mas não do seu real valor.
Com o frenesim que abalou os noticiários e jornais investiguei e realmente acabei por dar a mão à palmatória. Registos videográficos e notícias mostravam um guardião alemão fantástico, com imensa qualidade e que teria hipótese de jogar ao mais alto nível por mais anos.
Enke começou a sua carreira no Carl Zeiss Jena, onde apenas disputou 3 jogos oficiais. Foi no Borrussia Monchengladbach que se começou a evidenciar mais e, em 3 épocas passadas aí, deu o salto para um histórico europeu, o Benfica. Aí passou mais 3 épocas onde se afirmou como figura principal na baliza dos encarnados. Sem sombra de dúvidas foi o melhor período da sua carreira, ou pelo menos em que a sua carreira e vida pessoal estavam mais projetadas para o sucesso.
De seguida seguiu-se o Barcelona, chegou ao topo. Mas não conseguiu impor-se e uma transferência seguinte para o Fenerbache teve consequências ainda piores. Maltratado pelos adeptos, renunciou ao dinheiro e a tudo o que tinha direito e desvincula-se do clube turco. Depressa se deu a queda da estrela em ascensão. Dramas profissionais e pessoais corroeram o seu desempenho, sobretudo o emocional. Depois disto teve uma breve passagem pelo Tenerife e mais tarde ingressaria no Hannover, naquele que viria a ser o seu último clube.
Em 2006 dá-se talvez o momento-chave de toda esta história. Morre a filha de Robert e Teresa, Lara. A partir daí, o alemão entrou numa profunda depressão, da qual nunca mais saiu. Pelo meio, momentos de superação, de esperança e de reconquista marcaram a sua vida mas tudo iria dar àquele fatídico dia 10 de Novembro de 2009.
As circunstâncias levaram Robert de vencida. Pode dizer-se talvez que morreu por amor à sua filha. A verdade é que a partir do momento em que a filha desapareceu, nada mais fez sentido, nada mais deu força para Enke fazer o que quer que fosse.
O alemão teve direito a um funeral no Estádio do Hannover e a minutos de silêncio que ecoaram por todo o mundo.
Passado algum tempo da sua morte, foi lançado por um amigo seu e em conjunto com a viúva Teresa um livro, uma biografia de Robert. “Rober Enke – uma vida curta demais” é um livro que eu próprio comprei mas ainda não consegui tempo para ler, mas em breve terei de arranjar tempo para o fazer.
A história é realmente fascinante e interessante e há alguns pormenores curiosos. Como tudo poderia ter sido diferente se Lara não falecesse ou se profissionalmente tivesse tido melhor sorte.
Ainda hoje não se percebe muito bem. Na hora da morte Enke era o titular do Hannover e parecia estar a relançar a carreira. Era o principal utilizado do selecionador Joachim Low e possivelmente seria ele a assumir a posição no Mundial 2010. Diz-se que um problema físico que o afastava na altura por 2 meses dos relvados poderá também ter impulsionado os acontecimentos.
Robert faltou à consulta que tinha marcada com o psicólogo para aquele dia. O carro encontrava-se a poucos metros da linha do comboio, aberto, com a carteira e um bilhete de despedida.
Na biografia pode ler-se que Robert e Teresa tinham planos para a vida. Sonhavam em conseguir ter novamente filhos. E sonhavam com um regresso ao Benfica, onde Robert desejava acabar carreira, para assim poderem permanecer em Lisboa, cidade que tanto adoravam e onde pretendiam assentar de vez.
Como gostava de poder dizer que é verdade e aconteceu mesmo. Mas não posso. A realidade é cruel. E a realidade é que Robert morreu. Esse homem que nutria tal amor pela filha que depositou nela a sua alma. Esse homem que só queria fazer o que gostava e ser feliz. Esse homem que sempre tentou dar a volta mas sem sucesso. Esse homem. Esse guarda-redes enorme, que conseguia agarrar tudo ou quase tudo o que tentava violar a baliza, mas que nunca conseguiu agarrar-se a nada que o pudesse realmente salvar.
Espero daqui a 5 anos já ter lido a biografia de Robert Enke, e espero poder saber mais sobre a sua intrigante história. Espero daqui a 5 anos poder estar a trabalhar naquilo que mais amo, o futebol, se possível num patamar superior ao que estou hoje. Espero daqui a 5, 10 ou 50 anos lembrar-me deste homem, lembrar-me que as pequenas coisas da vida é que nos fazem ser aquilo que somos e nos dão alegria, felicidade e força para viver.
Até Sempre, Robert Enke!
David Guimarães
17/11/2014 at 16:43
O caso deste jogador dá que pensar… O facto de muitos profissionais atingirem o patamar de “stars”, granjeando admiradores, respeitabilidade, dinheiro e fama, nem sempre lhes permite adquirirem estabilidade ou felicidade profunda. O Homem é um ser muito intrigante e os seus estados de alma não evoluem de uma forma previsível ou linear! A estabilidade é muito volátil e as suas razões variam de indivíduo para indivíduo.
Um abraço.