Desporto
SALTA, REBOLA, ARRISCA E ULTRAPASSA OBSTÁCULOS – BEM VINDOS AO PARKOUR
Já se imaginou preso no trânsito, sabendo que o local onde quer chegar está a 100 metros, mas para atingir o objetivo tem de dar a volta ao quarteirão? Porque não atravessar pelo meio dos prédios e chegar lá mais depressa? Esta é a forma de pensar de um praticante de parkour, a nova modalidade que acaba de chegar a Portugal. A adesão tem sido grande ao ponto de já haver cerca de 3.000 adeptos registados, de todas as idades, no Fórum online.
Para alguns adeptos da modalidade, o parkour pode ser encarado como “uma filosofia de vida” ou um “estado de espírito”. É o caso de Nuno Gonçalves. Este estudante de 22 anos, antigo praticante desse desporto, começou a treinar devido “à influência de algumas pessoas que praticavam e ao grande crescimento da atividade na altura”.
Para ele, “era uma boa forma de ganhar estrutura física sem gastar dinheiro, uma vez que pode ser praticado em qualquer sítio.”. Conhecido como Nunoo (não é gralha, é mesmo assim que se escreve) no mundo do parkour, Nuno Gonçalves confessou ter adquirido o conhecimento e desenvolvimento dos movimentos típicos do desporto “como autodidata (visualização de vídeos no Youtube) e também através da influência de praticantes mais experientes.”
O traceur (praticante de parkour) de Rio Tinto, no concelho de Gondomar, deixou de praticar parkour há 5 anos, mas assegura que não desistiu da modalidade: “Eu não desisti completamente do parkour, aliás, esse espirito ainda está presente em mim, mas com a vida e o crescimento, as pessoas seguem caminhos diferentes”.
Por seu turno, Gustavo Silva, de nome artístico Kenin, começou no mundo do parkour “com amigos que tinham o mesmo gosto”. “Todos achavam fascinante a exigência física do desporto”, salientou. Gustavo Silva revelou que aprendeu os primeiros movimentos através da visualização de vídeos de quem fazia e quem tinha mais experiência, tentando, posteriormente, aplicá-los.
O antigo atleta de 21 anos, que deixou de praticar este desporto há 6 anos por “falta de tempo”, analisa o parkour “como uma mistura entre desporto e umas filosofias de vida interessantes”.
A História do Parkour
Corria a década de 80 do século passado quando a família Belle, o pai Raymond e o filho David, e o seu amigo Sebastien Foucan inventaram uma corrida insólita. Decidiram ultrapassar obstáculos para mais depressa chegar ao destino pretendido, sem usar qualquer tipo de veículo com ou sem motor. Assim, nasceu o Parkour.
Porém, a origem do Parkour até remonta a 1902, quando o vulcão Pelée entrou em erupção, na ilha caribenha de Martinica. Um oficial naval francês, o tenente George Hebert, coordenou o resgate e fuga de mais de 700 pessoas da cena, tanto indígenas como europeus.
A experiência teve um efeito profundo sobre ele enquanto observava as pessoas a moverem-se em torno dos obstáculos em seu caminho, na tentativa desesperada de se salvarem. Tendo viajado muito, Hebert ficou impressionado com o desenvolvimento físico e as habilidades de movimento dos povos indígenas na América, criando uma disciplina de treinamento físico que ele chamou de “método natural”.
Esta disciplina usava a escalada, a corrida e a ultrapassagem de obstáculos artificiais para recriar o ambiente natural. O método de Hebert logo se tornou a base para toda a formação militar francesa. Inspirados pelo seu trabalho, os soldados franceses nas selvas do Vietname desenvolveram o que veio a ser conhecido como “parcours du combattant” (“O caminho do guerreiro”).
Anos mais tarde, Raymond Belle, um ex-soldado das forças especiais francesas, retornou à sua cidade de Lisses, nos arredores de Paris, onde mostrou ao seu filho David os ensinamentos de Hebert. Foi David Belle quem começou a combinar o que tinha aprendido e, com os seus conhecimentos de ginástica e artes marciais, voilá… nasceu o PARKOUR.
Apesar de ter surgido nos anos 80, o parkour desenvolveu-se principalmente na década de 90. Durante o século XXI este desporto ganhou um novo panorama mundial, culminando com a criação da Federação Internacional de Parkour e Free Runing em 2007 e do Campeonato Mundial de Free Running em 2008.
O parkour atualmente tem já algumas escolas. No entanto, a maior parte dos traceurs aprenderam sozinhos, ou durante jams (encontro de vários traceurs combinado online ou via telefone), ou através do recurso ao Youtube, onde se encontram vídeos sobre como fazer os movimentos essenciais para a prática do desporto.
Rivalidade com o Free Running
No entanto, ao longo das décadas, principalmente durante o século XXI, surgiu uma vertente com maior espetacularidade, sem ligações filosóficas, que derivou do parkour. Assim nasceu o rival free running, que muitos, erroneamente, julgam ser o desporto original.
Mas afinal o que é o free running e qual a diferença ou semelhança com o parkour?
O parkour é um desporto radical e diferente que consiste na ultrapassagem dos obstáculos, naturais ou feitos pelo homem, para se ir do ponto A para o ponto B o mais depressa e eficazmente possível. Os movimentos naturais do parkour são: os vaults (com a ajuda das mãos), os cat leaps (salto de um muro para outro), os gaps (saltos normais), a corrida e as subidas de muros.
Por outro lado, o free running é uma desporto meramente artístico assemelhando-se à ginástica, pois os atletas utilizam os obstáculos como forma de concretizar movimentos atraentes aos olhos do homem. Alguns exemplos desses movimentos são: os mortais, os pinos, os cat leaps, os rolls (uma espécie de cambalhotas) e alguns vaults mais estilosos.
Tanto um como o outro desporto rejeitam qualquer tipo de requerimentos especiais para serem praticados. Ao contrário do futebol, onde é preciso comprar uma bola e uma baliza; do skate – é obrigatório ter-se um skate; ou o surf – a prancha é indispensável; o parkour e o free running só necessitam de um calçado desportivo, uma roupa confortável (fato de treino, ou calções mais t-shirt) e, ocasionalmente, umas luvas.
Gustavo Silva
14/11/2014 at 00:46
Olha que os rolls também são uma parte importante do Parkour, dado servirem para amortecer quedas (e não das imprevistas) sem correr risco de lesar joelhos e tornozelos. Bom artigo 🙂
Afonso Loreto Aguiar
14/11/2014 at 00:51
Sim, mas os rolls também são usados muitas vezes no freerunning de uma forma mais artística. Enquanto no parkour é apenas um elemento que te suaviza a queda, no freerunning é usado recorrentemente de forma a embelezar a o trajeto e os movimentos.
Tiago Santos
14/11/2014 at 22:16
Muito bom 😉 um desporto muito exigente e divertido que não me importava de treinar. Abraço