Artigo de Opinião
A TÁTICA DA OPINIÃO OU A OPINIÃO TÁTICA?
Após mais um desaire perfeitamente evitável, desta vez na casa do Estoril Praia, voltam a cair as críticas sobre o alvo mais fácil, o alvo do costume.
A alteração tática para a Taça de Portugal contra o Sporting foi um erro que custou caro, mas que se tivesse surtido o efeito surpresa esperado teria sido um golpe de mestre. O problema é quando não se aprende com os erros, e esse é o mote para este meu texto – o primeiro erro grosseiro de Lopetegui.
O treinador de bancada generalizado resume a culpa a um só elemento – Adrián López. No entanto, no futebol não se podem analisar os culpados em ceteris paribus*.
O problema não é o Adrián ter sido titular. O problema é o FC Porto ter mudado o sistema de jogo em função da sua introdução no onze.
Quando temos um ponta-de-lança com a capacidade do Jackson de baixar, jogar de costas para a baliza e vir buscar jogo, jogar em 4-4-2 com dois avançados em cunha não faz sentido.
A este fator agrava-se a inexistência no onze de um jogador capaz de ocupar o espaço entre linhas (posição 10), o que retira à equipa opções e variedade de último passe em terrenos mais avançados. Sem Quintero ou Óliver a ocupar essa zona do relvado, o jogo do Porto fica previsível e limitado a passes longos e a rasgos individuais. Não há um elo de ligação entre o meio-campo e o ataque.
Compreendo e apoio a aposta no Adrián. É preciso dar oportunidade ao jogador para recuperar a confiança, assim como ao clube de rentabilizar o forte investimento. Isto não é possível com o espanhol sentado no banco.
No entanto, aqui surge um dilema. Para não alterar o modelo tático é preciso colocar Adrián numa das faixas, preferencialmente a esquerda, onde as qualidades do melhor jogador da liga portuguesa são otimizadas – Yacine Brahimi.
Como nota final, gostava de chamar a atenção para as críticas das quais o Quaresma tem sido alvo. Criticar o jogo do Quaresma no Estoril é uma injustiça e uma ignorância. É certo que a sua capacidade de drible no 1×1 está longe do outrora visto, mas que eu me recorde centrou pelo menos 3 ou 4 bolas redondinhas. Se em vez de um Adrián forçado a mostrar serviço e sem confiança, estivesse um Jackson ou um Aboubakar no mesmo sítio, a história deste jogo teria sido diferente.
* Ceteris paribus é uma expressão do latim que significa “as de mais a par” ou “tudo o mais constante”, isto é, mantendo-se “todas as outras variáveis inalteradas”.
David Guimarães
16/11/2014 at 05:04
Muito bom artigo Miguel! Tens a porta aberta para uma colaboração perene.
Um abraço!