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Artigo de Opinião

APOLOGIAS DIONISÍACAS

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Sofia Carvalhinha

Sofia Carvalhinha

Creia-se nessa ténue linha de trapezista que delineia as mais profundas divergências entre o homem e a mulher. Há, inquestionavelmente, um facilitismo assumido entre o modo de vivenciar a sexualidade no respeitante à figura masculina. Para ser mais precisa, um facilitismo de aceitação dos comportamentos libertinos.

Jamais ousaria em cultivar uma igualdade neste processo de acolhimento da dita “sexualidade livre”. Reflito, neste espaço, a concepção de sexualidade e de liberdade em si mesmas.

O sexo, numa abordagem meramente fisiológica, compreende uma atividade necessária e incontornável que sustenta a continuidade da existência animal. Mas será o sexo uma atividade, na sua significação crua e dionisíaca, similar no que concerne ao ser humano e ao animal?

Uma primeira análise incentivar-nos-ia a uma afirmação positiva. Sim, o sexo é uma atividade praticada de igual modo nos animais racionais e irracionais. Tem por finalidade o prazer ou a reprodução ou ambos. Contudo, contemplo este comportamento no Homem numa perspetiva de complementaridade e auto-realização. O sexo pelo sexo animaliza-nos. O corpo pelo corpo é a negação da identidade. A racionalidade, aquilo que tão orgulhosamente invocamos para legitimar uma existência privilegiada, é a condição primordial que nos permite pensar o sexo em dimensões complexas e profundas. O sexo como concretização de prazer, mas, essencialmente, como encontro entre dois seres. A celebração da vida, do Amor! Isto é o sexo racional.

Tratar-se-á somente de uma questão de decisão? Desconheço. Apenas sei que a contemporaneidade impinge as filosofias do agora, do fugaz, da posse, do instinto. O domínio dos indivíduos por tais filosofias não decorre de uma reflexão, de um processo introspetivo, que conduza a uma posterior tomada de decisão. É e pronto. Nestes casos, que constituem uma maioria avassaladora, não nos encontramos seguramente perante uma escolha de sexualidade livre.

A liberdade decorre de um moroso movimento de entendimento, aprendizagem e de auto-realização. Movimento que remete para todas as dimensões humanas. E muito sinceramente o digo, quando afirmo crer que nenhum ser humano foi concebido para copular como coelhos.

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