Artigo de Opinião
EURO NATAL
Dói-me a alma quando anuncio estas coisas, mas alguém tem que ser o portador destas notícias. O Natal já chegou meus caros. Chegou ontem, quase um mês antes da data prevista. Mas, porque já nem o Natal é o que era, só chega mesmo para alguns. Neste caso só chegou para Franceses, Ingleses e… Imigrantes.
Comecemos por França, terra de bom vinho, boa arte… E de Marine Le Pen, que para quem não sabe, é a líder da Frente Nacional, partido de extrema-direita francesa. Prometeu Le Pen esta semana que, se for eleita Presidente em 2017, nos primeiros seis meses de governo faz um referendo sobre a saída da França da UE. Boas notícias para a França, que pode assim conseguir escrever o seu nome na história da União duas vezes: um dos seus primeiros países a entrar, o primeiro a sair.
Não fica por aqui esta história. Le Pen diz também que, caso no referendo os franceses escolham o não, se demite. Ou seja, Le Pen é bastante semelhante aos produtos transacionáveis: se não ficar contente, pode devolver. Com a facilidade de que o prazo se estende até um período máximo de seis meses. O meu conselho é que, em 2017, os franceses tirem uma fotografia ao papel de voto, comprovando assim que votaram na senhora. Serve como talão de compra (depois na hora de devolver é só apresentar o dito talão).
Do outro lado do canal da Mancha, David Cameron prepara-se para começar uma cruzada. Aquelas coisas que os católicos fizeram na Idade Média. Só que agora não é contra os muçulmanos especificamente (a história só se repete até certo ponto). Agora é contra os imigrantes. O primeiro-ministro inglês prepara-se para propor à UE medidas que limitam/suprimem as contribuições sociais recebidas por imigrantes. Na prática: quem imigrar para o Reino Unido não tem direito a ajuda nenhuma da parte do Estado.
À partida, não parece nada do outro mundo. Talvez para alguém que defenda com unhas e dentes o Estado Social, mas como para maioria a questão é mais “qual Estado Social?”, não parece realmente muito grave. O grave chega a seguir. Ora, só ao fim de quatro anos no Reino Unido é que os imigrantes terão direito a descontos. Mas não quatro anos quaisquer. Quatro anos de trabalho. Quatro anos de descontos. Quatro anos de impostos.
Vou dar aos leitores um momento. Até eu preciso de um. Ora, portanto, recapitulando. Os senhores querem que os imigrantes paguem impostos e façam descontos durante quatro anos. Como qualquer cidadão britânico. Sem receber um cêntimo de volta do Estado. Como qualquer cidadão brit… Pois. Os britânicos recebem. Os imigrantes, pelos vistos, não. Digam lá que não é uma rica prenda para pôr no sapatinho.
Caminhamos assim a passos largos para um sistema de castas (a Índia aprova e diz que por lá funciona bem). Cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. Os que recebem o dinheiro do Estado e todas as regalias de se viver na Grã-Bretanha. E os que apenas pagam ao Estado para que os primeiros recebam regalias.
Eu não tinha dito que o Natal chegou mais cedo este ano? Para os Franceses vem sob a forma de uma promessa (coisa nada típica de político): se vocês quiserem, saímos da UE em 2017. Já os ingleses não querem sair. Para já. Provavelmente estão à espera de ver se corre bem à França antes de seguir o exemplo. Que isso de sair da zona de conforto é coisa de imigrante.