Connect with us

Crónica

OITENTA E OITO SEGUNDOS

Published

on

Ana Rita Costa

Ana Rita Costa

Na sexta-feira o mundo parou. O mundo parou durante oitenta e oito segundos. Oitenta e oito segundos que transformam homens feitos em miúdos chorosos de dez anos.

O sétimo episódio da saga que vai sustentar o apelido Lucas até à obliteração do sistema solar, também conhecido como Star Wars: The Force Awakens – e deixemos assim, porque sempre preferi títulos na língua original, de más traduções estão o inferno e o cinema cheios – já tem teaser trailer. Note-se que não é um trailer daqueles de três minutos que chegam para resumir um filme e sustentar uma família de quatro. É só um daqueles aperitivos que quando levados à boca nos deixam com mais fome ainda. Podia bem ser profecia, porque, tão certo como o contorcer geral quando o Luke leva um linguado da Leia, ficamos todos com uma larica tremenda.

Fosse só disso que Hollywood nos deixa à míngua e a situação estava resolvida. Afinal, o que é mais um ano de fotos manhosas tiradas à entrada de estúdios e tweets provocadores do elenco?

Mas a pontaria dos produtores em escolher originais, nos dias que correm, segue com tanta qualidade como a de um stormtrooper. A verdadeira pergunta é: num mundo de prefixos e sufixos, entre sequelas, prequelas, remakes e reboots, por onde param os argumentos originais? Definitivamente não no topo das tabelas. Da dezena de filmes mais rentáveis de 2013, apenas dois têm argumentos materializados do nada, oito são adaptações, continuações e continuações de adaptações.

A tendência é simples. Na Meca do cinema, seguir a mesma fórmula até que falhe por exaustão. Já nada é sagrado em Hollywood. Daqui a umas semanas assiste-se às últimas desventuras de um hobbit que é tio daquele outro hobbit que conhecemos há dez anos. Daqui a uns meses voltamos ao zoo de dinossauros, porque há uma nova fornada de mosquitos. Mais um ano e o Tom Cruise trata de ir buscar os óculos-de-sol, porque não chegaram a acabar aquela partida desnecessária de voleibol.

Vão ao cinema mais próximo. Numa (muito) boa semana, um terço dos filmes não são histórias originais, é uma fração quase tão infalível como a lógica do Spock. Franchises que J. J. Abrams também fez questão de misturar quando deixou o reboot de uma viagem pelas estrelas por uma guerra das estrelas e brincou com os sentimentos de qualquer nerd digno do título.

A era de ouro da 7ª arte já lá vai. Agora, é mais verde. Menos criativa, mas mais rentável. Em Hollywood ter uma ideia original equivale a ser-se original ao quadrado, vender uma ideia original já eleva a originalidade para lá da décima potência. Mas não é preciso perder a mão direita à custa disso, juntemo-nos todos ao lado negro da força porque, afinal de contas, é como se já tivéssemos comprado o bilhete.

Save

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *