Artigo de Opinião
O SHOW OFF DO NATAL
Chegamos à época do tudo bem, das festas antes, durante e depois. Chegamos aos coitadinhos, ao precisamos de ajudar. Chegamos à tristeza acentuada nas luzes decorativas das ruas, das montras, das janelas de lares que não temos. Aí estamos chegados à época do SHOW OFF: o NATAL.
A televisão, nesta época, estupidifica com montanhas de publicidade de todo o tipo. Coisas e coisinhas prontas a usar, outras para colar, montar, colocar pilhas e comandar. Coisas de todo o tipo, passíveis de serem presentes para alguém. Publicidade que nos impede de sermos bons pais e mães. Educadores, empurrando-nos para o consumismo, para a satisfação imediata. Um frenesim que duvido que alguma vez o tenhamos deixado. Não se educa, não se explica, não se repreende. Compra-se isto e aquilo como forma de calar a birra consequente da falta de educação.
Chegou a época dos almoços e jantares de amigos, colegas. São os do emprego (para quem ainda o tem), do ginásio, da associação de pais da escola dos filhos, do clube de futebol, almoços e jantares que nunca mais acabam até chegarmos à ceia em família do dia 24 e o almoço na mesma companhia do dia 25. Os casados e enamorados dividem-se entre a família de um e outro, num ritual que uns toleram, outros suportam e alguns fomentam mesmo sem saber muito bem porquê. Depois há os presentes, aqueles que se trocam nos ditos almoços e jantares comprados nas lojas de imposto reduzido – os chineses – e os outros que oferecemos à família com base numa pesquisa intensa junto dos interessados sobre as suas necessidades.
Esta azáfama, intensa, qual bastidores de uma grande produção, não passa em parte de um Show Off para português ver. Neste Show, junta-se os atos “solidários” de algumas associações. Associações e amigos que decidem dar de comer aos pobres, porque é um ato contínuo da sua prestação durante todo o ano e assim aproveitam os holofotes da comunicação social para se mostrarem e falarem das suas carências. Depois há as outras que usam a data para fazer a caridadezinha para a televisão, para o Instagram e o Facebook. Associações que se aproveitam da desgraça alheia para, em ambientes absurdos, aparecerem como os grandes salvadores, os alegados interessados em combater a solidão e a fome neste dia de união, de família e amor.
Chegamos, por isso, à data da maior exibição da hipocrisia humana. Aqui estamos em grande número a participar nesta dança vazia de sentido, fútil, efémera. Poucos, muito poucos, são os que se reúnem como todos os dias ou várias vezes ao ano em família e vivem a data com o sentido que ela tem.
Esta data é, no entanto, vivida este ano, para muitos talvez pela primeira vez, com um enorme sufoco, com uma passagem prévia pelo banco alimentar ou pela paróquia da freguesia, na espectativa de uma refeição melhorada e de uns doces para enganar as crianças lá em casa.
Para alguns, a data tem frio, porque as portas e as janelas da rua estão escancaradas e o teto conseguido só abriga da água da chuva. Enrolados num cobertor, perdem-se das memórias num pacote de vinho rasca ou na corrida de cavalos que lhes agita as veias. Caem no sono solitário e gelado e amanhã é outro dia, igual a todos os outros.
Para tod@s, FELIZ NATAL e um 2015 sempre melhor do que o ano que agora termina.