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Cultura

MANOEL DE OLIVEIRA – O HOMEM E A OBRA

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A sessão era uma das mais esperadas da semana, aguardada com ansiedade e entusiasmo no átrio no Rivoli. A sala esgotada aclamou de pé a entrada de Manoel de Oliveira. No dia do seu 106º aniversário, o mais reconhecido cineasta português esteve presente no Porto/Post/Doc para a estreia do seu novo filme, o “Velho do Restelo”.

Na curta-metragem, Manuel de Oliveira convoca Dom Quixote, Luís Vaz de Camões, Teixeira de Pascoaes e Camilo Castelo Branco para uma conversa em pleno século XXI, num banco do jardim que fica diante da sua casa. Apoiados nos escritos e feitos dos artistas, principalmente no livro “O Penitente” de Teixeira de Pascoaes, o filme oscila entre passado e futuro, num mergulho na História de Portugal e na própria humandade.

Depois da entoação dos parabéns por todo o público, Dario Oliveira anuncia publicamente que, se o cineasta o conceder, o principal prémio do Festival em futuras edições terá o nome de “Prémio Manoel de Oliveira”.

Recordam-se depois 83 anos de carreira e o Rivoli assite a “Douro, Faina Fluvial”, de 1931, o primeiro filme do realizador. Segue-se ainda de “O Pintor e a Cidade”, de 1956, e “Os Painéis de São Vicente”, de 2010.

Durante a tarde, no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli prosseguiu-se à exibição dos filmes em competição, já referidos noutros artigos: “As Cidades e as Trocas”, de Luísa Homem e Pedro Pinho, “Danger Dave”, de Philippe Petit e “João Bénard da Costa – Outros amarão as coisas que eu amei”, de Manuel Mozos. Torna-se, ainda assim, importante voltar a destacar esta última longa-metragem, onde uma intensa reflexão sobre várias referências cinematográficas se torna o pano de fundo para a concretização de uma obra que, falando sobre a morte, celebra a própria vida. Se o cinema morresse, tudo isto teria valido a pena?

O Grande Auditório do Teatro Rivoli recebeu ao início da tarde a obra de Raya Martin e Mark Peranson, intitulada “La Última Pelicula”. Sob o mote da suposição do fim do mundo lançada pela cultura Maia, a equipa de produção vai tornando ténue a linha que separa os conceitos ficcional e documental, daí o título da secção “onde está o real?”. Um documentário sobre a condição que existe implícita às criações eternizadas e sobre a sociedade contemporânea e a sua forma de procurar apoio no fantástico. Surge assim o dilema: será esta uma criação que vai durar para sempre, dona de tempos onde o mundo se diz a acabar mas não existe maneira de tal acontecer?

Na sessão seguinte, de tom experimental, as escolhas pertencem ao Festival Internacional de Cinéma de Marseile- A Deusa Branca e Motu Maeva, ambos sobre viagens, ambos recriando a partir de imagens de arquivo. No primeiro, uma incursão amazónica de Flávio De Carvalho, provocador artista brasileiro dos anos 60, faz nascer o difícil objeto que é um filme por fazer, um filme nunca feito. “Motu Maeva” foi a curta-metragem vencedora da competição nacional do DocLisboa 2014 e, na atmosfera concedida pelas películas de 16mm recuperadas, conta-nos a história de vida de uma mulher que encontramos agora sozinha na homónima ilha do Haiti.

Já na sala do Passos Manuel, espaço paralelo ao festival, o público foi levado até à Asia com “Snakeskin”, na sessão das 19h. O documentário, que foi apresentado como o filme que “nos permite conhecer a verdadeira Singapura” de Daniel Hui, o autor de “Eclipses”, estando no festival pela rubrica Carta Branca e aconselhado por Dennis Lim, faz uma analepse entre o ano de 2066 e 2014. Entre estórias e testemunhos de vida, que se cruzam nesta cidade de prédios altos e modernos, e através da história traumática do país, é mostrado ao público a opressão governamental singapurense duma forma quase ficcional. No filme, a película é queimada, assim como um livro sobre a história moderna de Singapura, uma analogia entre o fogo e a destruição, mas principalmente a tudo aquilo que o tempo pode fazer.

A noite terminou com DJ Specialist e um toque de Soul e R’n’B.

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