Artigo de Opinião
JE SUIS MOITIÉ CHARLIE
Inicio este artigo com o meu mais sincero e honesto luto pelo sucedido no jornal satírico Charlie Hebdo. Mais. Confesso-me acérrimo defensor da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, em suma da liberdade em si mesma. São direitos inatos do homem, somos livres por natureza e assim deve ser. Contudo, sempre me ensinaram desde tenra idade que “discutir futebol e religião sempre deu confusão”.
De facto, quando se trata de convicções humanas, convicções pessoais que determinam vidas, é certo e sabido que estas regulam pensamentos e modos de agir, gerem/ administram vidas. E como todos nós somos devotos a nós mesmos – porque assim a mera existência determina – se puserem em causa a nossa forma de existir, cria-se um problema de vida ou morte. Aqui reside o objeto que necessariamente tem de ser discutido depois desta barbárie se ter desenrolado.
A liberdade compreende respeito! E quando num jornal, por meio de brincadeira, se brinca com as crenças de alguém, com a fé de alguém, com a vida de alguém, está a pedir-se para se ser maltratado de alguma forma. Mal, pois claro, está a forma de reagir. É, contudo, a loucura corolário do mundo. Como assim é, estamos perentoriamente sujeitos a ela. Com isto quero dizer que matar para defender uma fé é algo imperdoável. Nem permissível, tampouco. Mas é uma possibilidade. E o jornal Charlie Hebdo sujeitou-se, por via do uso da liberdade de expressão aguçada, à tragédia. Faltou então uma das vertentes da liberdade, a tal que iniciou este parágrafo: o respeito. Pois é! É que a “nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Por esse mesmo motivo, e apesar do luto e da revolta que em mim criou, não posso ser setorial no que à Justiça diz respeito. Invadiu-se um espaço cinzento, um limbo de risco, que feriu quem nele pisou.
Não posso finalizar sem demonstrar o meu desejo de Justiça. Uma Justiça, entenda-se, Humana. Não vale a pena matar quem não tem medo de morrer. No fundo, tudo nasceu de dois extremos que colidiram. Condoo-me por isso! E que pena extremar o que é tão belo – a Fé e a liberdade…
Cláudia
13/01/2015 at 13:16
Antes de mais parabéns pelo artigo… Mais um dos pouquíssimos que concorda com a minha opinião. Lamento imenso pelas pessoas que foram mortas, mas quem se põe a jeito sujeita-se.
Brincando com este tipo de gente, com este extremismo absoluto e com a ideia que morrem pela causa e blá, blá… Já se sabe que ia dar asneira mais dia menos dia. Não têm medo de nada, e avisam, pois este jornal já havia sido alvo de destruição. Enfim…
Tanto dizem que isto assim não era liberdade de expressão, que se fôssemos levar tudo a peito andávamos a matar-nos uns aos outros.
O problema é que não se ridiculariza um povo qualquer, mas sim um povo com uma fé capaz de tudo, até de matar. E vamos nós perceber porquê… Mas que é assim é, logo o melhor é ter mais cuidado com a nossa tal “liberdade de expressão”. Não mostrar medo, isso não, mas ter tento na língua e nas imagens.
Tenho dito.
Continua com os artigos 🙂 🙂
David Guimarães
13/01/2015 at 17:38
Essa retórica de que os cartunistas se “puseram-se a jeito e esse jargão prosaico de que “não se pode discutir política e religião” é abjecto! São duas das realidades mais interessantes e instigantes que a cultura humana produziu. Quem diz isso ou é acrítico, ou, então, é um ser estanque no politicamente correcto que em nada faz evoluir a nossa sociedade e o seu pensamento. O cartunista é excessivo por natureza e vocação. O seu trabalho é sintetizar realidades através de traçados grossos e objectivos, numa sátira inquietante, chocante e perturbante até. O Charlie Hebdo é incómodo até para as nossas sociedades europeias consideradas livres, cujo pensamento é aprisionado por amarras limitadoras, auto censura e auto flagelação, ou ainda, por uma passionalidade pura que amarfanha. Eu escrevo sobre futebol Diogo Rodrigues da Silva, o meu cronista preferido é o Frei Bento Domingues (um beneditino). O problema da nossa sociedade é pensar que a paixão não contempla razão e que a fé não contempla reflexão. Esse pensamento é limitador e demonstrativo da pequenez humana. Por essas lógicas morreram grandes homens da verdadeira liberdade. Da verdadeira liberdade porquê? Porque o intocável e o sagrado para eles não existe (utilizo aqui estes dois termos sem questionar a inabalável fé metafísica, totalmente legítima e compreensível, mas no sentido da abertura infinita ao pensamento). Sabe porque é que os homens que morreram incomodam tanta gente? Porque eles nos fazem sentir pequenos. Também Deus, Allah, Jeová (à escolha do crente) nos devia reduzir a um tamanho minúsculo. Temos que perceber que Deus nos dá a noção da nossa real dimensão, nós nunca chegaremos à perfeição do divino, devemos sim, todos, evoluir no caminho da bondade com o seu exemplo. A última exortação apostólica, redigida pelo Papa Francisco, denomina-se “evangelii gaudium”, que em português significa a “alegria do evangelho”. Nada mais é preciso dizer. No dia 7 de Janeiro de 2015 morreram 12 alegres, os mais alegres de todos nós! Deus recebeu-os sorrindo!
The Magician
13/01/2015 at 19:49
Ó David Guimarães, com que então a política e a religião “são duas das realidades mais interessantes e instigantes que a cultura humana produziu.” E já agora, uma outra seria o futebol, não?
“A beleza salvará o mundo”: DOSTOIÉVSKY, Fedor – O Idiota
Não me parece que exista nada de belo nem na política, que só tem dado o que tem, mas pelos vistos, tu deves estar de estômago bem cheio, para vires com essa falácia, nem na religião, que se faz de uma história de abuso e assassinatos, inclusive de algumas das mentes mais brilhantes que a humanidade já conheceu.
Se há alguma coisa que deve sobreviver à criação do homem é a arte. E não sou eu que o digo, mas esse grande romancista, que era bem melhor do que nós os dois juntos, primeiro do que tu, por causa das barbaridades que escreves, e depois do que eu, por ainda me estar a dar ao trabalho de as invectivar.
The Magician
13/01/2015 at 20:25
E outra coisa, David Guimarães, o teu Papa Francisco, que até é um ser humano a sério, não é, infelizmente para ele, coitado se ele soubesse, a entidade que coordena, ou seja lá o verbo que quiseres utilizar (eu só uso de basófia a sério quando estou a escrever as minhas peças de teatro), aquelas almas bondosas que presidem aos ofícios da igreja e que vedaram a entrada a um dos meus amigos, enquanto ele preparava a tese de Mestrado em História de Arte e precisava de estudar de um desses edifícios, por ele ser negro? Vai mas é para o raio que te parta. Não passas de um retrógrado armado em culto e sensato, quando tens a puta da cabeça cheia de ideias feitas. A sentir-me minúsculo, sinto-me perante o mar, o sol e a Natureza.
David Guimarães
16/01/2015 at 01:46
Peço desculpa pelo engano onde está “política” deveria estar “futebol”. Senhor mágico és um cobarde! Refugias-te no insulto sem ter coragem de dizer o nome. Como escreves teatro se nem um miserável comentário teu sai sequer escorreito? Qualquer pessoa que cite Deus ou Papa num comentário é retrógrado (que mentalidade cavalar). Tens uma patologia agressiva do tamanho do nariz do Cyrano de Bergerac, infelizmente, o teu cérebro é mais tolhido que o do “Parvo” do Gil Vicente. A tua sorte é que todos os débeis têm lugar no céu…