Connect with us

Cultura

JIMMY P: “SEI EXACTAMENTE QUE TIPO DE ARTISTA QUERO SER”

Published

on

Centro Comercial STOP. São 14h25 e espero que Jimmy P chegue. Ainda tem 5 minutos, mas rapidamente a sua silhueta é avistada. Caminha descontraído, tão descontraído como a sua música.

A sala de estúdio é no primeiro piso. Ainda está meia confusa porque “instalámo-nos aqui há pouco tempo”, explica, desculpando a falta de organização que só ele vê.

Jimmy P é um perfecionista puro e isso pode-se ver não só no seu percurso enquanto músico, mas também quando fala. A sua exatidão não deixa espaço para segundas interpretações. Sinceridade, honestidade e naturalidade, este é Jimmy P.

Começamos a nossa conversa a falar, inevitavelmente, do seu pai. Jorge Plácido é um ex-futebolista consagrado que quase levou o filho a seguir os mesmos passos. Aliás, o futebol foi a razão por que Joel Plácido, o nome que aparece no B.I. do músico, deixou Paris e veio para o Porto. Apesar disso, foi com a vinda para a Invicta que começou a «brincar» com a música, como conta.

O gosto foi crescendo e passou a dividir a música com os estudos, depois com o trabalho como brand manager. Contudo, o trabalho não o preenchia totalmente e a música dizia ao rapper que precisava de ser mais que um hobbie. E foi assim que Jimmy P trocou a estabilidade de um emprego «normal» pelo calor dos palcos.

Esta decisão não foi fácil, mas o conhecimento que adquiriu com marketing ajudou-o a lançar-se como artista independente num mercado onde quase todos têm o apoio de grandes editoras. Mas a voz do artista falou mais alto e «o menino com voz de ouro» conseguiu chegar ao grande público em 2012, com o álbum “#1”. Apesar disso, o cantor faz questão de explicar que sempre teve público, ainda que fosse um “nicho”.

Até porque Jimmy P teve a sua primeira participação “oficial” aos 19 anos, no primeiro disco dos Expensive Soul. Nesta altura a adolescência passada em Paris ainda era uma influência e as rimas eram em francês. Por isso mesmo, o rapper passou a investir o seu tempo na escrita em português – “Era uma necessidade” e enquanto os primos podiam sair à noite, Jimmy P ficava em casa “porque queria isto mesmo a sério”.

A partir daí, “foi um processo de maturação porque para te descobrires como artista também tens de te conhecer como indivíduo”. O seu percurso foi começando a crescer através de colaborações, como afirma, “tive a sorte de colaborar com artistas que já eram muito maiores do que eu”, o que foi “extremamente enriquecedor para me descobrir a mim próprio”. Depois disso, o rapper experimentou várias coisas até perceber onde é que se sentia em casa e agora pode dizer que “está a chegar a esse ponto”. “Estou mais próximo do que aquilo que estava. Há uns anos atrás tudo era descoberta. Acima de tudo, sei exatamente que tipo de artista quero ser”.

Mas este percurso não foi só feito pela experimentação. O feedback do veterano Valete foi também muito importante, como explica Jimmy P. “Quando estás a começar tens sempre a necessidade de ter um feedback por parte das pessoas que tu aprecias”, por isso o músico usava o MySpace para dar a conhecer o seu trabalho e para pedir opiniões aos rappers que mais apreciava. “O Valete foi a única pessoa que teve a dignidade de me dar uma resposta”, dando-lhe uma crítica que ainda hoje Jimmy P considera que foi importante para ele. Desde aí, o contacto manteve-se e, com o primeiro álbum do rapper, a primeira colaboração veria nascer a luz do dia.

A amizade surgiu e mantém-se até hoje. A partilha da estrada e de opiniões é normal e poder “conviver de perto com pessoas que tens como referência” é muito satisfatório, “acima de tudo quando não te desiludem”, acrescenta.

E para Jimmy P só a partilha faz sentido – “Eu não sou uma pessoa individualista e para mim isto só faz sentido se for um movimento coletivo”. E movimento coletivo é, para o músico, artistas entreajudarem-se para elevar a fasquia do rap nacional. Isto porque se há uns anos só havia três ou quatro nomes conhecidos, a diversidade hoje é imensa.

Contudo, certas coisas não evoluem e ainda hoje muitos são os rappers que se fecham na «concha» do meio hip hop. “75% das pessoas que fazem rap têm essa postura e isso denota uma falta de informação e uma ignorância tremenda relativamente ao rap como forma de expressão artística”. O músico continua “Se há uma palavra que define esse universo cultural é a liberdade”.

E Jimmy P percebe bem a importância desta liberdade, o que se nota em quase todo o seu novo álbum. Famvly First é, na sua maioria, um cross over entre o rap e o R&B. Apesar disso, Famvly First inclui dois temas que saem deste tipo de composição melódica: Blau Grana e A Marcha (a primeira é aquilo a que chamam um ego trip, ou seja, um exercício de estilo onde exibes “as tuas qualidades técnicas e rítmicas”).

O músico que se inspira em Mia Couto para “fazer coisas simples, mas bonitas” tem também uma ideia muito clara quanto à liberdade na temática do rap. “Não é menos rap se for uma coisa íntima”. Foge de Mim Part.I é um exemplo claro da intimidade que Jimmy P traz às músicas, ao mostrar como “é muito fácil levitar” com o que traz a exposição. “São festinhas no ego”, acrescenta.

E como é que gostaria de ser lembrado? Como alguém que, em conjunto, deixou um legado no hip hop nacional.

Este é o Jimmy P!

 

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *