Educação
SEI QUE NÃO VOU POR AÍ
Ricardo Santos tem 23 anos e é atleta de salto em trampolim. Entrou no curso de Ciências de Comunicação da Universidade do Porto no ano letivo passado, mas a sua paixão pela modalidade fê-lo saltar para o seu sonho e dedicar-se em exclusivo a lutar por ele: “No país em que estamos e com os objetivos que eu tenho seria sempre complicado conciliar [os estudos com o desporto] visto que não estudo e treino na mesma cidade. Estava sempre dependente do horário dos transportes”.
Quando se candidatou ao ensino superior, Daniela Armada (21 anos) queria ser jornalista, mas acabou por ingressar na sua segunda opção: o curso de Ciência da Informação da Universidade do Porto. No final do primeiro ano não se sentia realizada e decidiu mudar para o curso de Línguas, Literaturas e Culturas na vertente de Português-Espanhol: “A única certeza que eu tinha era que onde estava não estava bem e, então, precisava de mudar. Fiz essa escolha e felizmente consegui.”.
Marina Pinto (26 anos) entrou em 2006 no curso com o qual sempre tinha sonhado. Queria ser jornalista e o curso de Ciências da Comunicação era o seu oásis. Condicionada pela situação económica do país e pressionada pelos pais mudou para o curso de Medicina na Universidade do Porto. Apesar do esforço por continuar a seguir o caminho que os pais achavam mais viável, Marina acabou por voltar, no ano letivo passado, ao curso de Ciências da Comunicação. Inscrita a tempo parcial nos dois cursos, conciliá-los não foi tarefa fácil e, hoje, dedica-se inteiramente àquele que sempre quis: “A minha prioridade é seguir o sonho do jornalismo, por muito romântico que pareça a muita gente”, afirmou.
O papel dos pais
A maioria dos estudantes universitários vive ainda sobre a alçada dos pais e a decisão de mudar de rumo pode ser condicionada pela família e pelos seus valores.
Daniela teve o apoio total dos pais na decisão de mudar: “Eles queriam o melhor para mim, queriam que eu estivesse onde me sentisse bem”. Já a família de Ricardo colocou algumas reticências à mudança: “Foi algo que preocupou a minha mãe, mas ela também não queria que eu acabasse simplesmente com o meu sonho (…) Ela não está feliz com a situação, mas também não me rejeitou esse pedido”.
Marina sente que os pais a pressionaram a seguir um trilho que lhes parecia mais seguro por quererem o melhor para a filha e acredita que ser fiel ao sonho é o mais correto: “Acho que devemos ser honestos connosco e os nossos pais, mais cedo ou mais tarde, vão entender”.
As dificuldades na mudança
Para os três a mudança era urgente e inevitável, mas aventurar-se nos sonhos pode trazer alguns riscos.
Marina está feliz com a sua decisão, mas não deixa a Medicina completamente de parte: “Já investi demasiado tempo, dinheiro e energia naquilo, mas como não é a minha prioridade (…) deixei”.
Preocupada com a entrada tardia no mercado de trabalho, Daniela diz que se pudesse voltar atrás não teria mudado de curso: “Deixava-me estar no curso em que estava e acabava a licenciatura (…) Não é que não goste agora, mas nesta altura já estaria licenciada.”.
Ricardo não se arrepende das escolhas que fez e não tem medo de admitir que terá, possivelmente, de voltar aos estudos, mas realça que o inconformismo e a persistência nos sonhos devem ser os motores de arranque das decisões mais difíceis: “Acho que cada um deve seguir os seus sonhos dentro das possibilidades que tem. Acho que se têm a possibilidade de se concentrar única e exclusivamente nos seus sonhos o devem fazer, porque isso é o que nos deixa verdadeiramente felizes”.