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Artigo de Opinião

PELOS VISTOS AS CRIANÇAS NÃO SENTEM ANSIEDADE

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Carina Dias

Carina Dias

Há dias estive numa discussão para um projeto Europeu com alguns deputados de vários partidos. Contudo, não é o conteúdo e o tema da discussão que aqui vos trago, mas a comunicação preliminar que foi estabelecida.

Depois de um conjunto de cumprimentos hierárquicos, começa a conversa de ocasião sobre os mais diversos assuntos. Porém, um dos mais recentes veio ao centro, nomeadamente os exames para os alunos de 4º ano e a sua ponderação em 30% da nota. Pronunciei-me contra, devido a um conjunto de fatores que enunciei. E como sempre, parece que atirei lenha para a fogueira. Contudo, surge aquelas farpas linguísticas que saem sempre quando não há argumentos para explicar uma medida mal tomada, nomeadamente “no meu tempo valia 100%!”. Depois, ainda emerge algo pior, que demonstra a falta de capacidade de reconhecimento de processos humanos. A quem estiver a ler isto que se prepare antes de o fazer…Então 1, 2, 3… “AS CRIANÇAS NESTA IDADE NÃO SENTEM ANSIEDADE”. Se ficaste sem palavras, eu compreendo perfeitamente, pois foi a minha reação a ouvir. Dentro da minha cabeça, deu-se uma metamorfose de conexões cerebrais para tentar compreender e jogar com toda a informação. Apesar de todo este meu esforço cognitivo, a verdade é que não consegui encontrar um nexo de razão naquilo tudo que foi dito.

Supostamente, pessoas que estão a dirigir o país, que parecem mais fazedores de comentários em certas ocasiões, deveriam preocupar-se em perceber o desenvolvimento humano, antes de partir para uma medida deste calibre. Este comentário, só demostra que este tipo de decisões políticas (que não quero explorar a razão pela o qual o fazem) são feitas em cima de vários joelhos e não em cima de várias cabeças, que necessitam de pensar em todas as componentes, antes de partir para uma medida que influencia imenso a vida de criança.

Sim, uma criança de 9/10 anos, ou até antes e depois, pode ter ansiedade em situações como os exames (e não só). Nesta idade, as crianças precisam de brincar e descobrir os seus talentos, de experimentar e viver o máximo possível a sua idade da brincadeira, pois quando esta fase passar, mais nenhuma vem. Começam, desde pequenos, a serem instruídos por uma máquina de ensino, que tem como visão a competição, competição e mais competição.

Talvez no tempo destes deputados não era assim, e valia 100% da nota, mas estávamos em contextos sociais completamente diferentes do que temos hoje. Se a ciência estuda os fenómenos, então há que aproveitar e fazer as coisas com pés, pernas, tronco e cabeça. Não podemos estar sempre a olhar para o passado. Há que quebrar gelos e partir para medidas de promoção e desenvolvimento humano.

Saliento ainda a importância de todos aqueles que se intitulam como Doutores ou Professores, que estão no parlamento, não terem apenas um curso de economia ou várias habilitação académicas em várias partes do mundo. Era bom que tivessem um olhar de ver e crítico, perante todos os fenómenos que se colocam neste país, que ainda tem tanto para melhorar e só não melhora, porque os números são mais valorizados do que as pessoas.

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