Artigo de Opinião
ODE À VITÓRIA DO NÃO GREGO, E AGORA PORTUGAL?
Chegou mais do que a hora da alma lusitana também se pronunciar.
Foram tempos em que o espírito de iniciativa e coragem para ‘navegar por mares nunca dantes navegados’ nos acompanhava. E que o diga o nosso Camões! Tempos hoje que escarneiam a memória colectiva de tantos portugueses que já há muito perderam a esperança! O mito sebastianista impõem-se nesta era também. Recordamos quem fomos, e esquecemo-nos do que somos capazes!
Ouço tantas vezes pelas «conversas de café» da geração dos avós ou da geração dos pais, que aquilo pelo qual tanto lutaram se esvanece nesta nova geração. Os corajosos que ainda lutam, e lutam agora pela nossa geração e pela vindoura, são precisamente muitas vezes aqueles que pertencem à geração de 60/ 70. A vontade em mudar o que não está certo ainda se mantêm. Mas esse grupo de corajosos está a lutar por nós, já nem tanto por eles.
E nós? Que geração é a nossa? Ainda temos uns tantos corajosos que vão lutando pela mudança! Lutam contra este comodismo enfermo, lutam para reavivar o sentido de justiça, lutam contra o velho do Restelo…
É possível mudar sim, mas só é possível agindo. Não basta dizer não sem acção. A acção é a única capaz de mobilizar um povo, de uni-lo em direcção a um objectivo. E esta é a hora.
É necessário um sentido de responsabilidade cívica que seja visceral e não o total desinteresse pela política. Reconheço, no entanto, que o interesse tem aumentado. As medidas de austeridade tocam-nos a todos. Impactam famílias inteiras. Mas é preciso mais jovens realmente interessados, realmente motivados para lutar contra este estado caquético em que nos encontramos actualmente.
Porque vivemos “naquele” Portugal que se rende ao comodismo. “Um” Portugal que sente na pele os efeitos da crise mas prefere não se pronunciar. “Um” Portugal dos pequeninos sempre que prefere o politicamente correcto. O Politicamente correcto que sempre me causou “febres”.
“Ai, não digas isto porque parece mal” “ai, não faças isto porque vai cair mal para os outros e não vai ser aceite pela sociedade”.
Bem, partilho uma opinião diferente quando acredito que renunciar ao politicamente correcto não significa renunciar às pessoas que compõem a sociedade porque sim o ser humano não é uma ilha. Mas também confesso que muitas vezes prefiro ser ilha a ter que me “habituar” àquilo que se opõe à minha natureza. Ou seja, renuncio a qualquer tipo de natureza do “politicamente correcto”. Há várias “variantes” que se aplicam ao grupo dos politicamente correctos: ora uns preferem o discurso de moderador para que conflitos entre duas partes se evitem. Aqui reside uma legitimidade que respeito. Outros optam por serem politicamente correctos por questões sociais i.e. para não destoarem do grupo, para cairem nas boas graças de alguém, para não serem deselegantes – isto claro na opinião deles- à bom salazarista. Para mim este último tipo de ‘politicamente correctos’ são os pobres de espírito, sem guelra… E, a sátira que se dirige a este tipo de ‘politicamente correctos’ é deliciosa em Eça de Queirós.
Bem, há uma grande diferença que muitos confundem: renunciar ao politicamente correcto não significa faltar ao respeito, ser deselegante ou perder a postura. Muito diferente daquele que diz o que apetece quando apetece. Isso faz parte dos apetites. Renunciar ao politicamente correcto é ter coragem para dizer não – com justificação para isso- quando o grupo diz sim. Renunciar ao politicamente correcto é não ter medo de não cair nas boas graças de quem quer que seja porque sabe que o que diz é a favor da justiça e da verdade.
E, renunciar ao politicamente correcto é o que os portugueses precisam. Chega a hora que é preciso não ter medo de fazer o que está certo, de lutar pelos nossos direitos sem esquecer os nossos deveres enquanto cidadãos.
Chega a hora que o Zé Povinho deve sair do comodismo. Foi sempre o comodismo que nos destruiu a alma. A defesa da retórica de «ficar em casa pelo sofá e pringles porque o Estado paga», ou de viver do rendimento social de inserção quando lhes é oferecida a possibilidade de trabalhar, ou ainda a nova geração dos d-o-u-t-o-r-e-s que Deus os livre de se humilharem a outra condição profissional quando o resto da família passa fome…A estes não consigo dirigir-lhes o meu respeito.
Basta com este comodismo que mata. Basta com este governo que diz sim à precariedade humana e se sujeita a uma união supranacional unicamente alemã.
Foi preciso a Grécia ter lutado também por nós, i.e. por todos os europeus, contra o grupo dos “politicamente correctos”.
A resposta é uma: “Digam aos portugueses que na Grécia lutamos também por vocês”.