Connect with us

Artigo de Opinião

“UMA EUROPA DE GREGOS E TROIANOS”

Published

on

Diogo Rodrigues da Silva

Diogo Rodrigues da Silva

Esta madrugada (não sei se de nevoeiro), com o Grexit iminente, dois heróis se levantaram e apaziguaram os ventos da discórdia. Donald Tusk e François Hollande opuseram-se de forma decidida ao orgulho Alemão, quando estes empurravam com mão forte a nação helénica “borda fora” da (des)união europeia. Consta de fontes credíveis, que às 6:00h desta madrugada, gregos e alemães viraram costas em definitivo, na sequência de um confronto de titãs que durou desde domingo à tarde. Causa da discórdia: a pretensão alemã de que a Grécia orquestrasse um fundo de 50 Mil Milhões de Euros a servir como garantia de pagamento.

Quando a discussão já ia no átrio, e Alemanha e Grécia se dirigiam para fora da sala em moldes de cisão definitiva, Donald Tusk ergueu a voz para fazer voltar as partes numa demonstração de personalidade e firmeza ímpares que resultou naquilo que parecia mais uma vez impossível: a manutenção da Grécia na União Europeia.

Contudo, e apesar desta vitória europeia – e com isto evitando enumerar o prejuízo que tal saída resultaria para Portugal, mormente no concernente com os juros dos empréstimos realizados, e em geral o atrasar da resolução económica portuguesa face aos compromissos contraídos com a europa – assistimos a uma Grécia que cedeu em quase tudo, e a uma Alemanha que não receou o maior dos medos, aquele que todos temem, aquele que os ventos sussurravam faz tempo mas que ninguém acreditou ser possível, a saída de um Estado da União Europeia. Mais se diga que a Grécia viu a sua estratégia cair no primeiro grande confronto. Uma Grécia de “peito feito” contra uma União Europeia sem laços de união, achou fácil manter o “bluff” da saída da UE, sem que afinal o conseguisse fazer quando lhes são abertas as portas em definitivo. Fica, portanto, claro que o Estado Helénico não tem condições de sair da UE em condições suficientemente favoráveis ou sustentáveis, o que significa uma brecha na estratégia grega que vai permitir a imposição de medidas estruturais, financeiras, económicas (micro e macro económicas) titânicas. Começa, desde logo, pela corrida à privatização das empresas/entidades estaduais, e pela alteração do sistema judiciário grego, que por si só significam mudanças de grande escala.

Parece que uma atitude de rebeldia grega foi em absoluto sonegada pela postura vertical de uma Alemanha que não se deixou quebrar. Uma Alemanha prudente, que sabe que a Grécia jamais irá pagar o que receber, ou que dificilmente terá condições a longo prazo para o fazer. Ademais, penso que todos concordámos que um Credor antes de emprestar qualquer quantia monetária, gosta de sentir confiança que tal quantia será integralmente paga. Por outro lado, uma Grécia comprometida que pede que o fundo de garantia possa servir para investir no próprio país com vista a gerar riqueza, e assim pagar a dívida que contrair, não parece ser uma Grécia sem argumentos. Aliás, tais argumentos convenceram o Estado Francês que vem defendendo um perdão de dívida à Grécia.

Finalmente, tenho para mim que o encontro do Estado Grego com o Estado Russo, e a clara montagem de uma estratégia secreta alternativa de sustentação pós-saída da UE serviram para inflamar ainda mais a dura posição Alemã e a opinião geral dos alemães relativamente à posição Alemã nesta crise europeia, podendo tal ser entendido como uma ameaça além-fronteiras.

Esta semana será obviamente determinante para o futuro da Grécia na União Europeia e para afastar o forcing europeu numa resolução tão breve quanto possível de uma crise que só pode demorar bastante tempo a resolver em definitivo, estando dependente das medidas que forem tomadas pelo Governo Grego, e de alguma resiliência emocional que será crucial nos próximos tempos.

Em suma, uma Grécia sem estratégia, uma Alemanha destemida, e uma Europa desunida.

Save

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *