POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA?

Filipa Mendes

PSP – Polícia de Segurança Pública. Esta designação poderia ser considerada uma redundância, pois quando pensamos em polícia deveríamos automaticamente pensar em segurança, porém, infelizmente, não é exatamente assim.

Desde pequenos, é-nos impingida uma noção de que o polícia é alguém mau que nos fará arrepender de uma qualquer ação alegadamente incorreta. Quando não queremos comer a sopa, os pais dizem “Ou comes ou vem aí o senhor polícia para te castigar”, ou quando fazemos uma birra somos confrontados com a mítica frase “Ou te calas ou vem aí o polícia para te calar”. Hoje, concluo que os pais e avós realmente tinham alguma razão.

Esta não deveria ser a sequência lógica da história, até porque a polícia deveria ser vista, tal como a designação indica, como a entidade que personifica a segurança. No entanto, os polícias são vistos como os bad guys, como aquelas pessoas que personalizam o medo e, consequentemente, a insegurança.

Agora, na idade adulta, não ouvimos isto dos nossos pais ou dos nossos avós mas torna-se implícito que “Ou calas, ou comes”.

É certo que a corrupção e o abuso de poder são crimes transversais a todos os poderes instituídos e a mais alguns. Mas, não acham irónico um polícia exemplificar aquilo que repudia e condena? Afinal, é presumível que a Polícia de Segurança Pública zele pela SEGURANÇA, pela DEMOCRACIA e pelos DIREITOS HUMANOS. Mas é realmente isto que acontece? Eu creio que não ou, pelo menos, não é isto a que temos assistido.

Confesso que fiquei bastante indignada pelo facto daquele agente da autoridade, que espancou um adepto do Benfica em Guimarães (por este estar no sítio errado à hora errada) ter sido suspenso apenas por 3 meses.

Não posso ceder a generalizações e afirmar que todos os polícias abusam daquilo a que se chama poder mas, a verdade, é que muitos são energúmenos ao ponto de o fazerem.

Desta forma, é mais do que óbvio que são estas atitudes que fazem com que a confiança e a credibilidade na polícia diminuam e com que o temor por este órgão de autoridade aumente. E isto é lamentável!

A autoridade desmedida nunca foi e nunca será a solução para preservar a ordem, mas parece que a vontade de “brincar” com os cassetetes e algemas (utensílios utilizados também para fetiches sexuais, retratando a subordinação ao poder) é mais forte do que qualquer força da razão.

A ironia de ver um polícia a espancar um cidadão sem razão aparente é simplesmente ridícula. Contudo, segundo o polícia, o adepto cuspiu-o e insultou-o, o que, pelos vistos, acaba por justificar e desculpar a violência exercida.

Mas é realmente irónico e caricato perceber que aquele polícia, entre muitos outros que fizeram algo parecido, não consegue entender que, tal como afirma Thoreau, “tem de evitar, dê por onde der, submeter-se ao erro que condena”.

No entanto, tal como aprendi em Ética e Deontologia (disciplina que espero que conste no plano curricular da Escola Prática de Polícia), devemos sempre tentar compreender o porquê de uma ação, o que não significa que a aceitemos.

E, honestamente, eu compreendo. Compreendo que o que não falta em Portugal são pessoas frustradas que fazem de tudo para demonstrarem uma bagatela de poder e superioridade.

Compreendo que existem pessoas que deviam efetivamente aprender o que significa SEGURANÇA PÚBLICA, no sentido literal das palavras e não no sentido desmedidamente amplo.

Até porque, agora questiono-me, estará a sociedade devidamente protegida POR estes agentes da autoridade que nada sabem sobre segurança pública? Ou deverá estar a sociedade protegida DESTES polícias?

Mas não vamos desmoralizar. Existe uma réstia de esperança, até porque nem todos são bestiais, mas também nem todos são bestas.

Todavia, ao concluir esta crónica recordo-me daquele “pobre” GNR que nasceu com o dom da boa aparência e que, por fazer as delícias das mulheres ao exibir o seu físico, foi condenado a um ano e dez meses de pena suspensa.

Há realmente coisas incríveis não há?