Crónica
AS ORAÇÕES E A HUMANIDADE
Quando, na cidade de Paris dos nossos sonhos, a bomba rebenta – literalmente – a ninguém é imune o sentimento de choque e tristeza. Duvidaria, radicalmente, na existência de uma humanidade, se a alguém passasse ao lado a carnificina que aconteceu ontem na capital francesa. Repudio os acontecimentos de ontem como o facto de ter sido um alerta para tantos (demasiados) outros. Beirut. Bagdad. Apenas alguns exemplos. Sim, a França é aqui ao lado e perante isto, é a nós que nos imaginamos. Aos que nos são próximos e que estão lá. Se é lá pode ser aqui. Mas se vamos a fazer disto um movimento solidário tão grande, como nos podemos esquecer do resto?
Rezamos por Paris, limitamos o olhar a França, culpamos o extremismo religioso. Fechamos os olhos ao resto do mundo, a muitas outras mortes inocentes, fazemos de conta que não é política. Ignoramos a política como ressalvamos politiquices. Não vale a pena pensar na máquina que move a guerra.
Rezamos por Paris mas, sinceramente, quantos rezam efetivamente? Somos mesmo esta sociedade que demonstra solidariedade por hashtags que pouco dizem?
Por isso, desculpem, mas não rezo por Paris. E lamento tanto por igual. Somos todos pequenos a olhar para um problema maior. O mundo nunca esteve em paz, mas a guerra nunca nos foi tão evidenciada. Tão visível. E, por outro lado, tão ocultada. Oxalá, com isto, chegasse a uma conclusão magnífica de como vingar as vidas que foram engolidas por este jogo que de entretenimento tem zero.
Resta-me salientar que perante a brutalidade, a resposta considerável foi de transtorno e apoio – afinal, também somos parte da massa humana e, se nos toca como tocou, então há Humanidade. E, como humanidade, cada um de nós tem peso. Que não nos esqueçamos disto.