Ciência e Saúde
Holanda a um passo da descoberta da cura para a fome
A Holanda é uma pequena região do país Países Baixos. Um país densamente povoado, com mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado, e que é considerado inapto para suportar a envergadura de uma agricultura em grande escala. É, apesar disso, na atualidade, o segundo exportador mundial de géneros alimentares, superado apenas pelos Estados Unidos, cuja massa terrestre é 270 vezes maior. Pode parecer um contrassenso, mas os dados apontam para um domínio dos holandeses sobre a agricultura mundial.
O cérebro responsável por estes números impressionantes está sediado na Wageningen University & Research (WUR), 80 quilómetros a sudeste de Amsterdão. Geralmente considerada a mais importante instituição de investigação agrária a nível mundial, a WUR é o ponto-chave do Vale dos Alimentos (ou Food Valley), um robusto conjunto formado por empresas tecnológicas inovadoras e explorações agrícolas experimentais.
Ernst van den Ende, director-geral do Grupo de Ciências Botânicas da WUR, simboliza esta abordagem conjunta no Vale dos Alimentos. Ernst, em reportagem da National Geographic, frisa a importância de uma visão ampla dos desafios do futuro como pano de fundo para o sucesso do trabalho que desenvolvem no Vale dos Alimentos, dizendo que só esse esforço combinado, “o enfoque na ciência e o enfoque no mercado poderá enfrentar os desafios do futuro”.
Por sua vez, eleva a importância do trabalho desenvolvido acrescentando que o planeta precisa de produzir “mais géneros alimentares nas próximas quatro décadas do que todos os agricultores do mundo colheram nos últimos oito mil anos”. Em 2050, a Terra terá 9 a 10 mil milhões de habitantes, ao passo que hoje alberga cerca de sete mil e quinhentos milhões de habitantes. Se não se alcançarem aumentos do rendimento agrícola, acompanhados de reduções do consumo de água e de combustíveis fósseis, mil milhões (ou mais) de pessoas poderão morrer de fome.
A fome será o problema mais urgente do século XXI e os visionários que trabalham no Vale dos Alimentos acham que descobriram soluções inovadoras. “Os meios para impedir uma crise de carência alimentar catastrófica estão ao nosso alcance”, insiste Van den Ende. O seu otimismo baseia-se na informação fornecida por mais de mil projetos desenvolvidos pela WUR em mais de 140 países e nos acordos formais celebrados pela instituição com Estados e universidades em seis continentes para partilha dos progressos realizados e sua implementação.
Ernst procura aplicar ideias, criar soluções e resolver problemas de forma dinâmica e inovadora. A seca em África? “A água não é o problema essencial. É a pobreza dos solos”, afirma. “A inexistência de nutrientes pode ser compensada pelo cultivo de plantas que funcionem em simbiose com certas bactérias, de maneira a produzirem o seu próprio adubo.” E o custo galopante dos cereais para alimentação animal? “Alimentem os animais com gafanhotos em vez de cereal”, responde.
Relativamente à reprodutibilidade das tecnologias usadas na Holanda em países de menores recursos, Ernst diz: “Não seremos capazes de pôr imediatamente em prática nesses países o tipo de agricultura tecnologicamente avançada que praticamos na Holanda”, diz. “Mas já estamos bastante avançados na introdução de soluções de tecnologia média que podem fazer grande diferença.” Faz referência à proliferação de estufas de plástico relativamente baratas que triplicaram o rendimento de algumas culturas em comparação com os cultivos em campo aberto, onde as culturas se encontram mais vulneráveis a pragas e à seca.
O lema é “espalhar a palavra, alimentar o planeta”. A Wageningen University & Research, instalada no Vale dos Alimentos, é, para além de um elemento decisivo para o sucesso agrícola da Holanda, uma importante exportadora dos seus métodos inovadores para todo o mundo.
Artigo elaborado por Carina Baptista.