Política
A Alemanha depois de Merkel
O adeus da “eterna chanceler”
Angela Merkel, considerada a “eterna chanceler” tanto na Alemanha como no exterior, liderou a nação germânica e tornou-se figura chave da União Europeia (UE) por 16 anos. No cargo, Merkel enfrentou a crise económica de 2008, a crise dos refugiados, o aumento de extremistas no seu país, o conflito com a China bem como com a Rússia, e por fim, a pandemia. A chanceler, que continua no cargo até o partido vencedor conseguir formar uma coligação para começar a sua governação, será lembrada pelo seu protagonismo na UE e pelo “compromisso com os valores democráticos e liderança pragmática”.
Apesar da popularidade de Angela Merkel na Alemanha, o seu partido, CDU (União Democrata-Cristã) não conseguiu vencer as eleições em setembro. Armin Laschet pediu a demissão de presidente do partido após a derrota, não conseguiu sair da sombra de Merkel. O partido vê este insucesso como resultado das ações de Merkel, já que, segundo a CDU, a chanceler alienou vários votantes devido às suas políticas mais progressivas, como a aceitação de refugiados no país ou a aposta nas energias renováveis para combater as alterações climáticas. O vencedor da noite das eleições acabou por ser o vice chanceler e ministro das finanças em gestão, Olaf Scholz, que agora procura formar uma coligação com Os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP) para obter a maioria necessária para constituir um governo.
O legado de Merkel
Apesar de uma elevada popularidade interna e na Europa, Merkel deixa para trás um legado complexo. Por um lado, a chanceler apoiou medidas consideradas progressivas que não foram bem aceites pelos sociais-democratas, levando a que fosse culpabilizada por “erodir a identidade do partido”, que resultou na derrota nas eleições.
Apesar da aposta em políticas para enfrentar as alterações climáticas, a Alemanha encontra-se numa posição desfavorável em relação a outros países pertencentes à UE, já que, segundo a Union of Concerned Scientists, foi o país europeu com maior emissão de CO2 em 2018. Embora Merkel tenha sido sempre uma figura predominante nas discussões sobre a implementação de medidas em outros países que possam diminuir o impacto de emissões de gases nocivos para a atmosfera, o esforço não é igual na Alemanha. Esta situação levou a uma onda de manifestações, principalmente da geração mais nova, que culpa o governo pelo atraso da transição energética e por um “desperdício da década entre 2010 e 2020” com uma política climática com demasiadas exceções para evitar prejuízos às grandes indústrias nacionais.
A missão de Scholz
O Partido Social-Democrata (SPD) foi o grande vencedor da noite eleitoral. Com 25,7% dos votos, o SPD voltou ao grande palco político enquanto o CDU (partido de Merkel) teve o seu pior resultado (24,1%). As conversas entre social-democratas, Os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP) para formar uma coligação decorreram durante algumas semanas até a coligação “semáforo” ter sido apresentada ao público pela primeira vez.
O ainda vice chanceler destacou que o foco deste novo governo é “trazer à Alemanha o progresso e a modernização necessária”. Apesar do otimismo que rodeou as negociações, os Verdes tiveram como demanda para participar na coligação a antecipação para 2030 do cessar do uso do carvão, entre outras medidas que pretendem compensar o atraso da última década no combate às alterações climáticas no país.
O maior problema será conseguir arranjar fundos públicos para financiar estas medidas, já que as exigências do FDP incluíram o não aumento dos impostos e o aumento do salário mínimo. Embora uma coligação alternativa entre estes dois partidos e o CDU fosse uma aposta menos popular, não é algo que estivesse completamente descartado e por isso as semanas de negociações foram extremamente importante para que Scholz e o SDP conseguissem encontrar pontos em comum entre os social-democratas, os verdes e os liberais de forma a chegar a acordo sobre o futuro do governo e do país.
Artigo da autoria de Beatriz Carvalho. Revisto por Filipe Pereira e Inês Pinto Pereira