Política
Tensões aumentam no estreito do Taiwan
A visita de Nancy Pelosi marca a primeira vez desde 1997 que um presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos visita oficialmente a ilha do Taiwan, numa demonstração de apoio ao governo local, numa fase em que as relações com a China têm ficado cada vez mais complicadas.
Nos últimos anos, as relações entre o Taiwan e a China têm-se vindo a deteriorar rapidamente, após a anexação de Hong Kong, o governo de Xi Jinping alterou o foco para a ilha do Tapei Chinês (assim designado pelo governo comunista de Xangai). O Taiwan, designado oficialmente por República da China (RC), tem sido um território extremamente disputado nos últimos 200 anos.
Originalmente parte da dinastia Qing, foi cedido ao Império Japonês durante a fase de expansão dos nipónicos (1895-1945). Após a 2.ª Guerra Mundial, a RC voltou a tomar o controlo sobre a ilha. O status quo atual resulta do recomeço da guerra civil e da perda do território continental chinês por parte da RC para as forças Maoistas da República Popular da China (RPC). A RC viu os seus líderes exilados para a ilha Formosa, onde foi estabelecida uma comunidade capitalista com o apoio dos Estados Unidos da América (EUA), com vista a impedir a disseminação das ideias comunistas.
Durante a década de 60, a economia do Taiwan explodiu, num período apelidado de “O milagre Taiwanês” e, 30 anos mais tarde, o regime taiwanês tornou-se democrático. Com a implementação do novo sistema, a ilha transformou-se na 21ª maior economia do mundo.
O estatuto oficial de Taiwan (ou RC) sempre foi ambíguo dado que ainda hoje afirma ser o representante legítimo da China, posição contrária à que foi assumida pela comunidade internacional. Para as Nações Unidas, Taiwan não representa a China, desde uma votação realizada em 1971, em que os membros optaram por reconhecer a RPC em seu lugar.
A ilha é vista como histórica e geopoliticamente importante, pelo que a RPC reivindica Taiwan e recusa as relações diplomáticas com os países que reconhecem a independência do território. Xi Jinping, em 2021, apontou como maior obstáculo à reunificação da China a força da “independência de Taiwan“.
Xi afirmou que a questão de Taiwan é um assunto interno da China e “não permite qualquer interferência do exterior”. Na mesma ocasião, o presidente da RPC acrescentou ainda, em tom de ameaça, que “Aqueles que esquecerem a sua herança, traírem a sua pátria e procurarem dividir o país (…) não devem subestimar a determinação do povo chinês em defender a soberania nacional e a integridade territorial. A tarefa da reunificação completa da China (…) será definitivamente conseguida“.
Num fórum de segurança em Taipé (capital de Taiwan), Tsai Ing-wen disse que, embora o seu governo não procure um conflito militar, “Taiwan fará o que for preciso para defender a sua liberdade e o seu modo de vida democrático“.
O sentimento é corroborado por Pelosi durante a visita à ilha, que reafirmou o “compromisso inabalável de seu país em apoiar a vibrante democracia de Taiwan”. Afirmações que incitaram manifestações ameaçadoras por parte da RPC, com o ministro dos negócios estrangeiros a vir a público afirmar que a visita de Pelosi “Prejudica gravemente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, e envia um sinal seriamente errado às forças separatistas para a ‘independência de Taiwan’.
A China opõe-se firmemente e condena severamente esta situação, e fez fortes protestos junto dos Estados Unidos”. A resposta musculada da RCP vem na forma de um dos maiores exercícios militares no território que ensaiam uma eventual invasão anfíbia através do estreito do Taiwan.
Estes exercícios militares concentram uma enorme força naval no estreito e foram lançados vários misseis balísticos para os marés que rodeiam a ilha taiwanesa, inclusive alguns terão caio já na zona económica exclusiva do Japão, tendo o governo japonês feito um protesto oficial pelos canais diplomáticos entre ambos os governos.
O sentimento de nacionalidade taiwanesa tem crescido entre os insulares, sendo que hoje 68% se identifica como taiwanês e apenas 2% se identifica como chinês. Nas eleições presidenciais de 2020, o Partido Democrático Progressista, notoriamente anti-China, venceu esclarecidamente com 57% dos votos, sendo que o Kuomintang, partido político historicamente pro-China, angariou 39% dos votos. Por tudo isto, a reunificação pacífica parece um cenário pouco provável.
Artigo da autoria de Luís Jacques de Sousa. Revisto por Filipe Pereira