Política
Tensões aumentam no estreito do Taiwan
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Presidente Tsai Ing-wen discursa na 110ª Celebração do Dia Nacional da República da China (Taiwan) – 2021 Autor: 總統府
A visita de Nancy Pelosi marca a primeira vez desde 1997 que um presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos visita oficialmente a ilha do Taiwan, numa demonstração de apoio ao governo local, numa fase em que as relações com a China têm ficado cada vez mais complicadas.
Nos últimos anos, as relações entre o Taiwan e a China têm-se vindo a deteriorar rapidamente, após a anexação de Hong Kong, o governo de Xi Jinping alterou o foco para a ilha do Tapei Chinês (assim designado pelo governo comunista de Xangai). O Taiwan, designado oficialmente por República da China (RC), tem sido um território extremamente disputado nos últimos 200 anos.
Originalmente parte da dinastia Qing, foi cedido ao Império Japonês durante a fase de expansão dos nipónicos (1895-1945). Após a 2.ª Guerra Mundial, a RC voltou a tomar o controlo sobre a ilha. O status quo atual resulta do recomeço da guerra civil e da perda do território continental chinês por parte da RC para as forças Maoistas da República Popular da China (RPC). A RC viu os seus líderes exilados para a ilha Formosa, onde foi estabelecida uma comunidade capitalista com o apoio dos Estados Unidos da América (EUA), com vista a impedir a disseminação das ideias comunistas.
Durante a década de 60, a economia do Taiwan explodiu, num período apelidado de “O milagre Taiwanês” e, 30 anos mais tarde, o regime taiwanês tornou-se democrático. Com a implementação do novo sistema, a ilha transformou-se na 21ª maior economia do mundo.
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Visita ao Taiwan do então presidente dos estados unidos da américa D. Eisenhower em 1960 Imagem: 姚琢奇 (資深軍事記者, 亦曾任職勞工通訊社、美國合眾國際社(UPI)、英國路透社(Reuters)
O estatuto oficial de Taiwan (ou RC) sempre foi ambíguo dado que ainda hoje afirma ser o representante legítimo da China, posição contrária à que foi assumida pela comunidade internacional. Para as Nações Unidas, Taiwan não representa a China, desde uma votação realizada em 1971, em que os membros optaram por reconhecer a RPC em seu lugar.
A ilha é vista como histórica e geopoliticamente importante, pelo que a RPC reivindica Taiwan e recusa as relações diplomáticas com os países que reconhecem a independência do território. Xi Jinping, em 2021, apontou como maior obstáculo à reunificação da China a força da “independência de Taiwan“.
Xi afirmou que a questão de Taiwan é um assunto interno da China e “não permite qualquer interferência do exterior”. Na mesma ocasião, o presidente da RPC acrescentou ainda, em tom de ameaça, que “Aqueles que esquecerem a sua herança, traírem a sua pátria e procurarem dividir o país (…) não devem subestimar a determinação do povo chinês em defender a soberania nacional e a integridade territorial. A tarefa da reunificação completa da China (…) será definitivamente conseguida“.
Num fórum de segurança em Taipé (capital de Taiwan), Tsai Ing-wen disse que, embora o seu governo não procure um conflito militar, “Taiwan fará o que for preciso para defender a sua liberdade e o seu modo de vida democrático“.
O sentimento é corroborado por Pelosi durante a visita à ilha, que reafirmou o “compromisso inabalável de seu país em apoiar a vibrante democracia de Taiwan”. Afirmações que incitaram manifestações ameaçadoras por parte da RPC, com o ministro dos negócios estrangeiros a vir a público afirmar que a visita de Pelosi “Prejudica gravemente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, e envia um sinal seriamente errado às forças separatistas para a ‘independência de Taiwan’.
A China opõe-se firmemente e condena severamente esta situação, e fez fortes protestos junto dos Estados Unidos”. A resposta musculada da RCP vem na forma de um dos maiores exercícios militares no território que ensaiam uma eventual invasão anfíbia através do estreito do Taiwan.
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O Exército de Libertação do Povo Chinês conduzirá exercícios militares, incluindo exercícios de fogo vivo nas áreas marítimas e no seu espaço aéreo assinalado a vermelho entre os dias 4 e 7 de agosto Fonte: Data:PLA-Taiwan-202208.map
Estes exercícios militares concentram uma enorme força naval no estreito e foram lançados vários misseis balísticos para os marés que rodeiam a ilha taiwanesa, inclusive alguns terão caio já na zona económica exclusiva do Japão, tendo o governo japonês feito um protesto oficial pelos canais diplomáticos entre ambos os governos.
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Demonstrações da Independencia do Taiwan – 2007 Autor: Encyclopedist
O sentimento de nacionalidade taiwanesa tem crescido entre os insulares, sendo que hoje 68% se identifica como taiwanês e apenas 2% se identifica como chinês. Nas eleições presidenciais de 2020, o Partido Democrático Progressista, notoriamente anti-China, venceu esclarecidamente com 57% dos votos, sendo que o Kuomintang, partido político historicamente pro-China, angariou 39% dos votos. Por tudo isto, a reunificação pacífica parece um cenário pouco provável.
Artigo da autoria de Luís Jacques de Sousa. Revisto por Filipe Pereira
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