Ciência e Saúde
FMUP: NIELS PEEK EXPLICA A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA NA SAÚDE
A quarta sessão do Ciclo de Palestras em Informática Médica na FMUP aconteceu na passada sexta-feira. “Opportunities and Challenges of Learning Health Systems” foi o mote da palestra do professor e investigador holandês Niels Peek, atualmente a trabalhar na University of Manchester.
“O evento existe há mais de 5 anos e tem procurado oferecer aos estudantes uma mistura de oradores nacionais e internacionais”, explicou Pedro Pereira Rodrigues, organizador do ciclo de palestras e investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS). As sessões surgem, principalmente, “no âmbito do segundo ano do Mestrado em Informática Médica”.
O orador começou a palestra com boa disposição. Era uma experiência muito especial. “Se desse uma palestra destas a uma sexta-feira às 17 horas em Londres, a sala estaria vazia”, confessou Niels Peek. Facto que não se verificou na Sala 3 do Centro de Investigação Médica (CIM), que estava quase repleta. O discurso dividiu-se em três partes.
“Health Informatics”
Em primeiro lugar, o professor explicou que os sistemas de saúde são “uma ponte entre duas áreas: tecnologia e cuidados de saúde” e que “é necessário trabalho de equipa para a construir”. Além disso, alertou que “equipar profissionais com conhecimentos informáticos faz com que estes possuam um potencial superior comparativamente aos que não detêm este poder”. No entanto, adverte que a “tecnologia por si só nunca é superior a profissionais humanos cientificamente certificados”.
“Os sistemas de saúde têm mais a ver com pessoas do que com tecnologia” e “para funcionarem, têm que oferecer algo que a pessoa ainda não saiba”. “Por estes sistemas serem constituídos por uma interação entre pessoas e máquinas, não podemos deduzir resultados previamente”, explicou o investigador holandês.
“Learning Health Systems”
No segundo momento da apresentação oral, Peek fez uma analogia entre os sistemas de saúde e os cartões de crédito. Os cartões também são sistemas que “aprendem”, recolhem dados eletrónicos e possuem uma “rede de segurança” atualizada continuamente, que alerta os proprietários em caso de suspeita de fraude.
Através de “Ciclos Virtuosos”, o palestrante expôs uma forma de resolver problemas de interesse. O método passava por uma interação e reciprocidade entre a tomada de decisão acertada, ação, recolha de dados, análise de dados e interpretação dos resultados. “Aprender um sistema de saúde é um processo que nunca acaba”, vinculou o professor.
Um sistema de saúde adota, então, alguns princípios fundamentais: não se restringe somente a uma parte do sistema, é descentralizado, recíproco e maior do que um enorme volume de dados, trazendo também conhecimento para a prática.
“Challenges”
Na terceira e última parte, o investigador referiu que, hoje em dia, os sistemas de saúde enfrentam três desafios principais. O primeiro desafio é a crença de que “os dados devem ser utilizados apenas para o propósito para o qual foram recolhidos”. O segundo passa pela utilização de “um grande volume de dados e a aprendizagem de máquinas nunca substituírem métodos tradicionais de pesquisa”. E o terceiro, “para acelerar a pesquisa, todos os dados de cuidados médicos e de saúde devem estar disponíveis para cientistas de dados”.
Para esta parte da comunicação Niels Peek trouxe tecnologia e originalidade, levando a cabo uma dinâmica através da app Sli.do. O público votou se concordava ou não com o desafio em questão. Após todos os presentes na sala terem dado o seu feedback e de serem revelados os resultados finais da votação, Peek procurou saber junto da sua audiência o porquê de determinada resposta ter sido a mais votada.
Em declarações ao Jornal Universitário do Porto (JUP), o investigador holandês afirmou que “quando estamos doentes vamos ao médico mas, muito frequentemente, já vamos tarde e se depois tentarmos resolver o problema vai ser muito difícil e podemos tornar-nos num paciente com uma doença crónica, por exemplo”.
Os sistemas de saúde devem servir a população de uma maneira diferente. Niels Peek explica que a abordagem tradicional já não funciona e que é necessário “prevenir que os problemas aconteçam”.
Palestras que “ajudam os estudantes”
Vera Pinto, aluna do Mestrado em Informática Médica da FMUP confessou que “este tipo de palestras ajudam os estudantes a obter acesso a temas que estão a ser estudados e debatidos na atualidade” e que a pode, provavelmente, “ajudar a desenvolver um trabalho no futuro [tese de mestrado]”.
Já Diana Silva, estudante do mesmo ramo, acrescenta que no mercado de trabalho saturado da sua área (radioterapia) é importante perceber como se diferenciar de outros estudantes e “diversificar o leque de oportunidades”.
Pedro Pereira Rodrigues voltou a falar como organizador do ciclo de estudos. O espírito vivido na sala foi o que o fez notar diferenças. “O mais importante é podermos ter um ambiente mais informal onde não há uma perspetiva de validação de trabalho científico humano como há normalmente nos Congressos”, revelou. O professor ainda acrescentou que “existe uma possibilidade para os alunos de interagirem de perto com oradores de renome”.