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Ciência e Saúde

VACINAS: PARA QUÊ E PORQUÊ?

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A vacinação contra o sarampo em Portugal iniciou-se em 1973, com a introdução da vacina monovalente contra o sarampo (VAS) no Programa Nacional de Vacinação. O sarampo foi, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), eliminado em Portugal, mas há possibilidade de o vírus ser importado de outros países. Segundo a Direção Geral de Saúde (DGS), é esta a possibilidade que explica os recentes surtos em Portugal, uma vez que o número de indivíduos não vacinados em outros países europeus é crescente e tem conduzido à diminuição da taxa de cobertura da vacinação. Em 2017, o Inquérito Serológico Nacional (ISN) 2015-2016, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), indicou até que a imunidade de grupo ao sarampo já não existia em Portugal em virtude do elevado número de indivíduos não imunizados.

Em Portugal tem subido o número de indivíduos não vacinados, embora a vacinação tenha já conduzido à eliminação de diversas doenças (como poliomielite, rubéola e difteria, por exemplo) e à erradicação da varíola. De acordo com o pediatra Mário Cordeiro, em entrevista ao Expresso, o movimento anti vacinas é ‘’o resultado de muita confusão entre o que é ciência e o que são factos avulsos, divulgados maldosamente ou de forma acéfala’’.

A DGS refere que, além da proteção pessoal, a vacinação traz também benefícios para toda a comunidade, pois quando uma percentagem elevada da população está vacinada interrompe-se a transmissão da doença. Este efeito leva a uma proteção indireta de indivíduos que não podem ser vacinados (geralmente alérgicos a alguma das substâncias presentes na vacina), através da chamada imunidade de grupo, que impede que epidemias se manifestem com mais regularidade.

Num país no qual, em meados de março, o Presidente da República recomendou veemente a vacinação, e médicos como Mário Jorge Santos consideram não vacinar “um ato de negligência”, há pais que continuam a optar por não o fazer. As razões, mencionadas em sites anti-vacinação europeus e americanos, incluem a possível toxicidade de algumas substâncias presentes nas vacinas, a sua correlação com esclerose múltipla, autismo entre outras doenças ou possíveis reações adversas, por exemplo.

O uso de mercúrio nas vacinas, uma das substâncias que mais preocupa os pais, está associado ao timerosal (ou tiomersal). Este é um conservante à base de mercúrio que foi já considerado seguro e que, segundo a OMS, não representa risco para a saúde humana. Por outro lado, a associação entre as vacinas e doenças como o autismo foi feita em 1998 num estudo de Andrew Wakefield. O estudo foi descredibilizado, em 2004, por Brian Deer, após provas de que Wakefield teria aceite dinheiro de uma firma de advogados que representava famílias de crianças com autismo e adulterado o estudo (dados do The Telegraph, 2004). Outros estudos surgiram, mas também esses foram fortemente descredibilizados pela comunidade científica.

Ainda de acordo com a DGS, as reações adversas causadas pelas vacinas são ligeiras a moderadas e autolimitadas. Nenhuma reação adversa é mais grave do que a doença alvo da vacina, pois muitas das doenças que são prevenidas por vacinação podem desencadear doenças graves provocando incapacidade permanente ou mesmo levando à morte.

A DGS classifica o sarampo como “uma das infeções virais mais contagiosas, transmitindo-se pessoa-a-pessoa, por via aérea, através de gotículas ou aerossóis”, e aconselha a vacinação como a principal medida de prevenção contra a doença. As vacinas englobadas no Plano Nacional de Vacinas são gratuitas e administradas nos centros de saúde, hospitais e outros serviços de saúde devidamente autorizados.

Segundo dados da OMS, relativos a 2009, a vacinação salva, por ano, mais de 3 milhões de vidas. Já de acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), as vacinas são o mais eficaz e seguro meio de proteção contra certas doenças e, mesmo quando a imunidade conferida não é total, a vacinação conduz a uma maior capacidade de resistência à doença. Segundo a Merck Sharp & Dohme, a vacina contém, geralmente, um agente inofensivo reconhecível como uma ‘infeção’ (formas menos perigosas ou perecidas do microrganismo ou dos seus constituintes que seriam reconhecidos pelas células do sistema imune). Quando o sistema imune reconhece o agente como exógeno, induz a produção de anticorpos e memória imunológica, que, futuramente, irão conferir proteção se ocorrer a exposição à infeção real. Assim, a vacina é semelhante a um “simulacro” do sistema imune, ou seja, é uma forma de o sistema imune reconhecer mais rapidamente um agente infecioso e saber como reagir no caso de o indivíduo ser infetado no futuro.