Ciência e Saúde

ANTIBIÓTICOS: NOVA CLASSE CONTRA BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES

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Fonte: Pixabay

Investigadores das Genentech, RQx Pharmaceuticals e WuXi AppTec, empresas localizadas em São Francisco, La Jolla (Califórnia, Estados Unidos) e Xangai (China), respetivamente, publicaram no início do mês um artigo na revista Nature reportando a descoberta de uma nova classe de antibióticos. O composto estudado tem como alvo uma peptidase (molécula responsável pela degradação de proteínas) e é específico para bactérias Gram negativas. O passo seguinte será testá-lo em ensaios clínicos, para que possa ser aprovado para uso em humanos.

Recorrendo a moléculas mais fracas e de espetro limitado – as arilomicinas – os investigadores foram capazes de desenvolver uma molécula robusta e de largo espetro, o derivado sintético G0775.  Esta molécula, de acordo com o reportado no artigo, inibe a peptidase sinal tipo I, uma enzima essencial ao transporte membranar em bactérias. A enzima é um alvo molecular já utilizado em antibióticos desenvolvidos, de que são exemplo alguns compostos β-lactâmicos.

O G0775 possui atividade contra bactérias Gram negativas multirresistentes, tanto em testes in vitro como em modelos animais, como comprovado nos ensaios pré-clínicos realizados. O composto tem ainda baixa probabilidade de desenvolver resistência espontânea. Numa entrevista publicada na plataforma ResearchGate, dois dos investigadores responsáveis pela descoberta referem que a molécula G0775 demonstrou uma atividade antibiótica forte contra um painel de bactérias recolhidas em hospitais americanos pelo CDC (Centers for Disease Control) e conhecidas por provocarem efeitos letais, incluindo uma estirpe (CDC 0106) resistente a 13 classes de antibióticos diferentes.

Um dos problemas associados ao uso de antibióticos em bactérias Gram negativas é a sua dupla membrana, que as torna menos suscetíveis ao uso destes compostos. Atualmente, está documentado um grupo de seis bactérias patogénicas que são muito frequentemente associadas a resistência microbiana – Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e o género Enterobacter (ESKAPE) – de entre as quais quatro são Gram-negativas (K. pneumoniae, P. aeruginosa, A. baumannii e Enterobacter). A busca de antibióticos para três destas bactérias é, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, de prioridade crítica e, por isso, a descoberta de novas classes é de muito interesse para a saúde humana.

O CDC classifica a resistência a antibióticos como um dos maiores desafios para a saúde pública da atualidade. Em Portugal, em entrevista ao DN, o coordenador do grupo local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) do centro hospitalar Barreiro-Montijo, destaca que “mais ou menos três pessoas por dia possam falecer por infeções por micro-organismos por bactérias multirresistentes, a nível hospitalar”.

Segundo a OMS, a resistência microbiana em bactérias ocorre quando estes microrganismos são expostos a determinados antibióticos e, com o passar do tempo, desenvolvem resistência aos mesmos, tornando os fármacos ineficientes e conduzindo a que infeções persistam, os microrganismos se transmitam e constituam gradualmente problemas de saúde muito mais graves. A resistência a fármacos é também passível de ocorrer em vírus, fungos e parasitas.

Como qualquer organismo vivo, as bactérias estão sujeitas a mecanismos de adaptação e desenvolvem formas de resistir a investidas de outros seres vivos ou do meio ambiente, no entanto, dado o seu curto ciclo de vida, são capazes de criar uma resposta rápida. As resistências microbianas são o melhor exemplo da natureza adaptável destes seres vivos que, apesar de estabelecerem relações muito importantes com outros organismos, podem também afetar a saúde humana e a de outros animais de uma forma negativa. A resistência microbiana ocorre naturalmente, mas pode ser acelerada por diversos fatores, como o uso desproporcionado e irresponsável de antibióticos, tanto na saúde humana como na produção animal, segundo a OMS.

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