Ciência e Saúde
TERRITÓRIO DO LOBO IBÉRICO MANTÉM-SE DEMARCADO
Num recente artigo publicado na revista Scientific Reports, investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO) e da Universidade de Oviedo, em Espanha, verificaram que o território ocupado pelo Lobo Ibérico (subespécie Canis lupus signatus) continua inalterado, enquanto a análise genética demonstra que se podem diferenciar 11 grupos diferentes. Tal diferenciação é admirável tendo em consideração o reduzido alcance de território (140 mil quilómetros quadrados) e o próprio comportamento e a mobilidade dos animais.
Neste estudo, entre os investigadores do CIBIO-InBIO e o grupo da Universidade de Oviedo, era esperado que a identificação de variações na população do lobo se refletisse nos marcadores moleculares de alta variação e evolução, que podem ser estudados através da análise dos “microssatélites”, parte do DNA com rápida e extensa variação do DNA. Foram amostrados 218 indivíduos e analisados 46 loci, isto é, posições ocupadas por determinados genes. Essa análise permitiu diferenciar quatro grupos, não apresentando grandes barreiras topográficas ou falhas na sua dispersão, algo que ajudaria a explicar a ocorrência desses grupos. O tamanho e diferenciação dos grupos é variável, apresentando quatro grupos geneticamente distintos identificados ao longo da montanha de Cantabrian, dois a três grupos aparentam estar presentes em Portugal, a norte do rio Douro, e parte da Galicia e Castilla y Leon encontra-se ocupada por lobos de um único grupo genético.
Os resultados são consistentes com os de outros estudos de populações de lobos, que podem ser caracterizadas por um relativo baixo nível de fluxo génico e uma dispersão geográfica restrita. Neste caso, a população do Lobo Ibérico mostra uma população geneticamente reticulada, a uma escala que não é comparável com relatórios anteriores sobre populações de lobos.
Subpopulações geneticamente diferenciadas são descritas a uma escala continental, pois apresentam habitats mais heterogéneos e falhas entre a distribuição geográfica das populações. Isso proporciona e origina adaptações a nível ecológico e deriva genética nas populações, o que, no entanto, é geralmente bastante mais baixo em populações com pouca dispersão geográfica.
Mais estudos deverão ser realizados para aprofundar o fundamento da diferenciação genética observada, pois há ainda que ter em consideração a influência das pressões urbanas, pecuárias e de território nas características do animal.