Ciência e Saúde
AMBIENTE: HÁ MAIS MICROPLÁSTICOS DO QUE LARVAS DE PEIXE NO DOURO
Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e do Institute of Estuarine and Coastal Studies, da Universidade de Hull (Inglaterra), elaboraram um artigo sobre a relação entre a contaminação por microplásticos e a abundância e distribuição de larvas de peixe no estuário do Douro.
No trabalho a publicar, a 1 de abril de 2019, na revista científica Science of the Total Environment, os autores estudaram o estuário do rio, habitat de não só espécies estuarinas, mas também de espécies marinhas, uma vez que lhes fornece alimento, abrigo temporário e faz parte das suas rotas migratórias. Esta zona é frequentemente afetada por atividades antropogénicas, resultando num ambiente poluído que compromete a sobrevivência das espécies do ecossistema.
Para determinar a relação entre a contaminação por microplásticos e a abundância de larvas de peixes, durante um ano foram colhidas amostras por filtração em vários locais do estuário. A partir das amostras, os investigadores conseguiram identificar as várias espécies presentes no local e avaliar a quantidade de microplásticos, partículas com diâmetro inferior a cinco milímetros. No total, foram recolhidas quase 1500 larvas de peixes de 11 famílias diferentes, sendo o Pomatoschistus microps, ou góbio comum, a espécie mais abundante. Em relação à contaminação por microplásticos, foram detetadas mais de 2000 partículas, o que corresponde a cerca de 27% da matéria inorgânica presente nas amostras recolhidas.
Pela análise dos resultados, os investigadores concluíram que a densidade de microplásticos, cerca de 17 partículas por 100 metros cúbicos de água filtrada, é superior à densidade piscícola, 11,7 larvas por 100 metros cúbicos. Foi determinada a proporção de uma larva de peixe para 1,5 microplásticos. Não se verificou, no entanto, coincidência de variação no tempo ou espaço entre os dois parâmetros.
Quando comparada com a de estuários de outros rios, verificou-se que a contaminação por microplásticos no Douro é superior à do rio Tamar (Inglaterra), com 2,8 partículas por 100 metros cúbicos, mas é inferior à contaminação de estuários na China, determinada em vários estudos. Contudo, a comparação dos resultados é limitada pela utilização de diferentes métodos e técnicas de amostragem entre eles.
A quantidade de larvas de peixe varia de acordo com as épocas reprodutivas, fatores ambientais (características físico-químicas do rio, como a corrente, a temperatura e a salinidade) e possíveis alterações induzidas pela atividade humana. Os microplásticos podem ser ingeridos pelos peixes e prejudicar a sua saúde; outro impacto possível é a competição com as larvas de peixe por espaço, luz e nutrientes.
O artigo, de Sabrina Rodrigues Magalhães e colaboradores, permitiu conhecer melhor o estado do estuário do rio Douro e abre portas a novas pesquisas, não só relacionadas com metodologias, mas também sobre os efeitos dos microplásticos nos ecossistemas aquáticos.