Ciência e Saúde
MULHERES QUE FAZEM CIÊNCIA, EM PORTUGAL E NO MUNDO
A presença feminina nas ciências, a nível mundial, ainda está longe de estar a par com a masculina. Segundo um estudo das Nações Unidas, em 2017, apenas 28% dos investigadores eram mulheres. No entanto, o caso português diverge do resto do mundo da melhor forma.
O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, instaurado pela ONU a 11 de fevereiro de 2016, tem como objetivo a igualdade género no setor científico. Para assinalar a data, o JUP listou alguns nomes, nacionais e internacionais, que são representativos da evolução do papel da mulher na ciência.
Caroline Herschel (1750-1848) foi uma astrónoma alemã que iniciou a sua carreira com o seu irmão William. Ao mudarem-se para Inglaterra, em 1772, registaram cerca de 2.500 novas nebulosas e aglomerados estrelares, dando as bases para o Novo Catálogo Geral que ainda hoje é utilizado. Caroline Herschel foi, assim, a primeira mulher a ser paga pelo seu trabalho científico. Ao todo, descobriu 8 cometas, 14 nebulosas e 561 estrelas.
Mary Somerville (1780-1872) nasceu na Escócia e dedicou-se à matemática, astronomia, química e física. Tanto o seu pai, como o seu primeiro marido, não eram a favor dos estudos de Somerville. Com a morte do marido, Mary vai para Londres e rodeia-se de intelectuais como John Playfair, Charles Babbage e os irmãos Herschel. Fez várias experiências envolvendo magnetismo, escreveu e traduziu várias obras. Mary Somerville, juntamente com Caroline Herschel, foram as primeiras mulheres nomeadas para a Royal Astronomical Society.
Ada Lovelace (1815-1852) foi uma matemática e escritora inglesa. É, hoje em dia, considerada a primeira programadora da História. Desenvolveu o primeiro algoritmo a ser processado pela máquina analítica da Charles Babbage, o primeiro modelo de computador.
Maria Mitchell (1818-1889) foi uma astrónoma norte-americana que iniciou a sua paixão com os ensinamentos do seu pai. O seu maior feito foi a descoberta do cometa 1847 T1, tendo ganho uma medalha de ouro do rei da Dinamarca. Foi a primeira mulher a fazer parte da American Academy of Arts and Sciences e a primeira professora da astronomia nos EUA.
Elizabeth Garret Anderson (1836-1917) foi a primeira médica inglesa. O seu percurso é marcado pelas várias barreiras que encontra nas universidades inglesas. É obrigada a fazer o seu doutoramento em Paris, não sendo reconhecida no Registo Médico Inglês. Assim, cria a London School of Medicine for Women e tem grande impacto na legalização da entrada de mulheres na profissão.
Margaret Hamilton (1936-…) é a programadora norte-americana responsável pelo programa de voo do Apollo 11, a primeira missão à lua. Foi diretora da Divisão de Software no Laboratório de Instrumentação do MIT e recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente Barack Obama, em 2012.
Maryam Mirzakhani (1977-2017) foi uma matemática iraniana. Contribuiu para o estudo da dinâmica e geometria de superfícies Riemann, uma classe especial de superfícies curvas na matemática e física. Foi a primeira mulher a receber a Medalha de Fields, o maior reconhecimento que um matemático pode ter.
E em Portugal?
Portugal destaca-se como sendo o país da OCDE com mais mulheres a frequentarem os cursos STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharia e Matemática). Em Portugal, 57% da população universitária nas ciências é feminina, muito acima da média de 39% entre os países da OCDE. É o resultado de um longo caminho que ainda não está concluído em todas as áreas científicas.
Contudo, as histórias das primeiras doutoradas em Portugal estão cheias de atribulações e fracos reconhecimentos. Eis algumas das primeiras alunas das universidades portuguesas.
Maria Gabriela de Lemos Pereira Beato (1891-?) é a primeira mulher doutorada em Farmácia pela Universidade de Lisboa (UL), em 1926. Apenas conhece-se o nome da sua dissertação (Doseamento da glicose no sangue) através da Acta das Provas. Mais tarde formou-se em Medicina e foi técnica superior de laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Branca Edmée Marques (1899-1986) foi estudante na Faculdade de Ciências da UL e foi bolseira, nos anos 30, do instituto criado por Marie Curie em Paris. Apesar do honroso trabalho, a sua carreira em Portugal foi adversa. Apenas em 1966 chegou a cátedra, com 67 anos de vida.
Seomara da Costa Primo (1895-1986) formou-se em Ciências Histórico-Naturais, em 1919, na UL. Trabalhou até 1942 como segunda-assistente de botânica, doutorando-se nesse ano. Apesar da grande experiência adquirida ao longo desses anos e de ter sido a primeira professora extraordinária contratada na faculdade, não chegaria ao topo da sua carreira.
Leopoldina Ferreira Paulo (1908-1996) doutorada em 1944 em antropologia pela Universidade do Porto (UP). Foi assistente de Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior, tendo havido poucas investigações nessa altura. Apenas em 1969 passa a professora auxiliar para se aposentar em 1976. É, assim, a primeira doutorada da Universidade do Porto.
Judite dos Santos Pereira (?-?) iniciou os seus estudos em 1932 e doutorou-se em geologia em 1945 pela UP. Devido à sua fraca saúde, teve pouca participação nas investigações e aposentou-se quando era professora auxiliar há apenas três anos.
Maria Alzira Bessa Almoster Moura Ferreira (1928-2008) licenciou-se em ciências físico-químicas na UP. Beneficiou de uma bolsa no Reino Unido onde se doutorou em 1957. Foi assistente na Faculdade de Ciências da UL, professora extraordinária em 1970 e atingiu a cátedra dois anos depois.
Maia Serpa dos Santos (1916-2001) diplomou-se no curso profissional de farmácia em Coimbra, para depois se licenciar e doutorar na UP. Nascida na ilha do Faial, é a primeira doutorada de farmácia da UP e a primeira mulher de Coimbra a doutorar-se noutra universidade. Apenas em 1970 tem a possibilidade de prestar provas para professora extraordinária e, dois anos depois, para catedrática.