Ciência e Saúde

O CLIMATE CHANGE LEADERSHIP 2019 EM REVISÃO

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Local de encontro de profissionais do setor agrícola e ambiental, a Climate Change Leadership dividiu-se entre o Porto Summit 2019, a feira de exposições “Exhibition fair” e o ciclo de conferências “Solutions for the Wine Industry”.

Al Gore foi orador principal da conferência. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Soluções para a Indústria do Vinho

As Conferências do Vinho tiveram início a 7 de março e duraram até à manhã do dia seguinte, momento em que houve maior densidade de conteúdos científicos.

Manhã de dia 7

Começando com a abertura oficial do evento por Álvaro Costa, Presidente da Associação Comercial do Porto, e Pau Roca, Diretor Geral da OIV, a CCL continuou com os painéis da manhã e da tarde nas “conferências do vinho”.

Pela manhã, os trabalhos focaram-se essencialmente nos testemunhos de alguns dos maiores produtores vitivinícolas do mundo e também no testemunho da Corticeira Amorim e da Marks and Spencer.

Miguel Torres abriu o primeiro painel com um claro aviso sobre o teor do problema em debate.

A questão principal das alterações climáticas não são apenas o simples facto de estas existirem tal como noutras épocas da História Natural, mas o ritmo a que estas ocorrem e a incapacidade de adaptação dos sistemas naturais e, em particular, do Homem.

Assim demonstraram-se algumas das que são as adaptações feitas pela sua própria produção na Catalunha, antevendo exemplos das medidas gerais que os produtores estão a adotar, como a compra de terras a maiores altitudes em resposta ao aumento da temperatura, a recuperação de variedades de vinho perdidas antes do surto de filoxera, o investimento em tecnologias verdes, como os painéis fotovoltaicos ou uma frota plenamente elétrica, e o estabelecimento de um prémio internacional de incentivo à investigação científica no setor agroalimentar.

Mariana May demonstrou iniciativas de cariz geralista que se têm tomado em Villa Banfi, a propriedade de cerca de 2830 hectares de solo na Toscânia, na qual são produzidos os vinhos Castello Banfi. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Já Margareth Henriquez abordou de uma forma direta a sua experiência, não só na Argentina, como na região de Champagne, na adaptabilidade climática. Tendo iniciado atividade profissional na Argentina, aposta nas orientações do terreno para Oeste, de forma a diminuir a quantidade de radiação direta sobre a vinha, assim como na implementação do regadio gota-a-gota. O propósito é transladar os seus conhecimentos para aquela que é, nas suas palavras, “uma das regiões mais afetadas pelas alterações climáticas na Europa”.

Paul Willgloss, moderador do painel que juntou António Amorim e Richard Halstead, coordenou o debate com uma linha condutora que terminou na definição daquelas que são as melhores práticas de marketing sustentável no setor. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

O final da manhã foi, por fim, o momento de debate que juntou Richard Halstead, CEO da Marks and Spencer, e António Amorim, CEO da Corticeira Amorim. Destaque da sessão foi a clara abordagem de António Amorim à importância da sustentabilidade para o mundo empresarial, contrariando a ideia da sustentabilidade como um custo de produção adicional.

Stands

O JUP teve ainda oportunidade de visitar stands de algumas das organizações presentes na exibição, tendo sido nota de curiosidade o da Govino. Para o fundador e CEO Mark Burns, os assuntos ambientais, como o do uso do plástico, são tópicos por vezes erradamente enquadrados e que devem ser abordados com precaução.

“O plástico é uma realidade e não podemos fugir desta em muitas das ocasiões. O que ocorre é que temos de combater a produção e comercialização de plástico com uso único que é prontamente descartado e não pode ser reutilizado como o da Govino” – contou Burns.

A Govino é uma empresa de produção de copos plásticos com características semelhantes à do cristal de um copo de vinho para ocasiões de reutilização, como concertos ou eventos de grande dimensão.

Roger Boulton sobre as “Vinhas do Futuro”. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Tarde de dia 7

A tarde do primeiro dia de Climate Change Leadership decorreu sob uma perspetiva fortemente técnica e científica, com apresentações marcantes, como as de Roger boulton (USA) e dos investigadores do projeto europeu Life ADVICLIM.

Roger Boulton, cientista do vinho e enólogo UC. Davis, deu aquela que, em termos científicos, poderia ser a apresentação mais representativa do congresso.

Apesar de se assemelhar a um cenário futurístico, a adega LEED Platinum é um caso de estudo desenhado e construído por ele com o apoio de investidores privados, cujo objetivo é única e exclusivamente uma produção totalmente autossustentável de vinho, dando mesmo assim outras soluções que não as californianas para este fim.

Mais do que isso, deixou também sugestões no que toca ao setor vitivinícola no seu todo em relação ao assunto das alterações climáticas, numa problemática coloca em causa a totalidade da eficiência de LEED Platinum, o mercado de carbono.

Outras sessões da tarde foram focadas na energia e na água, áreas associadas indirectamente ao setor. Pancho Campo moderou a sessão de gestão da água. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Sendo este, hoje em dia, sem valor e meramente acessório no que foram as suas ambições, a sugestão do autor é que a indústria vitivinícola atue novamente como ponta de lança na sua revitalização e, portanto, também na sua lucratividade, nomeadamente através do estabelecimento de um programa internacional certificado que receba a contabilização de emissões de carbono das diferentes indústrias de forma confiável e imparcial, bem como do apoio aos esquemas de investimento financeiro internacional de carbono.

Alguns dos restantes painéis foram importantes, sobretudo pelas notas científicas que trouxeram à própria sustentabilidade da produção agrícola das variantes de Vitis – tentar manter a vinha apesar do clima em mudança-, o tema central do ADVICLIM.

Alejandro Espinoza, por exemplo, apresentou algum do trabalho do ENVIRO, projeto da Organização Internacional da Vinha, dedicado a estudar a produção sustentável, tendo salientado o aumento da altitude da canópia, a escolha de raízes mais resistentes à seca ou a combinação certa entre a variedade vinícola e as condições climáticas e abióticas.

A Climate Change Leadership foi realizada para promoção do Porto Protocol.

Por fim, Chris Foss deu um contributo tecnologicamente complexo de inteligência artificial aplicada à produção, nomeadamente pelo estudo geográfico de várias variáveis pedológicas, climáticas e hidrológicas para a definição das espécies e condições mais apropriadas de vinha, em resposta às problemáticas muito salientes da micro-climatização.

Testemunhos – dia 8

Os testemunhos casuais foram em linha com esta dualidade empresarial e científica do segundo dia da CCL.

Para Daniel Neves Pereira, do Turismo de Portugal, as sessões da manhã foram muito interessantes por mostrarem o que as empresas estavam a adotar de uma forma generalista; apesar disso, durante a tarde, houve alguma dificuldade em transpor as perspetivas científicas numa comunicação mais comum.

Já para Ben, produtor que não se quis identificar, são os consumidores do Vinho as pessoas que, per capita, mais têm responsabilidade de produção no mundo, através de um modo de vida exigente e muitas vezes insustentável. Nesse sentido, também a Climate Change Leadership é uma ocasião para exercer mudança nos hábitos de vida.

O dia terminou com o regresso dos participantes ao Infante Sagres e Yeatman, localizações próximas e ligadas ao grupo Taylor’s Yeatman, sendo o regresso à Alfândega do Porto agendado para as 8h15 de cada dia.

Conclusão – dia 9

O Porto Summit foi apresentado por Catarina Furtado, que recordou o impacte das alterações climáticas nos países em desenvolvimento. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Terminando o ciclo de conferências do vinho da Climate Change Leadership, com as formas pelas quais a indústria se adapta às alterações climáticas, a manhã do terceiro dia foi dedicada a continuar e encerrar esta iniciativa de apoio ao Porto Protocol.

Assim, esta teve como apresentações mais importantes o painel moderado por Richard Siddle, sobre o transporte e empacotamento dos produtos vitivinícolas.

Foi o português Tiago Moreira da Silva quem interviu em defesa do vidro e das suas vantagens face a outros materiais.

De acordo com dados da Federação Europeia de Embalagens de Vidro, recordou que o vidro é um material obtido a partir de matérias-primas naturais, como a areia a argila, e 74% dele é reciclado e reposto no mercado europeu, bem como apontou como a indústria e especialmente a BA Vidros têm planos para uma maior sustentabilidade, indicando, por exemplo, o projeto de fornecer oito megawatts de energia fotovoltaica em aplicações urbanas.

Em destaque esteve ainda a participação de Vincente Migallón, que se apresentou em defesa do transporte do vinho em contentor por via marítima.

De acordo com o orador, é cada vez maior o número de empresas a entender os benefícios da transportação a granel e da embalagem do vinho na zona de comercialização, uma mudança que representa uma poupança de 2 quilogramas de carbono em dióxido de carbono por cada 100 quilómetros de viagem.

O último debate da conferência teve foco na relação entre a Economia e o Ambiente.

Stephen Rannekiev desenvolveu como o Rabbobank, banco holandês, começou por crescer com base na aposta em soluções inovadoras por parte do tecido económico agroalimentar e como, até hoje, este banco está empenhado nesse papel, apesar do seu desenvolvimento como instituição financeira multisetorial.

Já para Mike Veseth, escritor do The Wine Economist, foi importante recordar como o interesse pelas problemáticas ambientais tem como principal razão o facto da produção estar ligada a famílias multigeracionais. Para ele, a dedicação à Terra e a consecutiva procura pelo aprimoramento de técnicas vínicas tem levado estas famílias a ter uma perspetiva de longo prazo no desenvolvimento económico e no uso dos recursos naturais.

Sessão de Encerramento

Coube a Luís Araújo, do Turismo de Portugal, fazer o fecho das sessões de conferências.

Para ele, a grande importância das Conferências do vinho complementa os objetivos de trazer educação, conhecimento e inovação ao turismo em Portugal, apesar dos desafios em conciliar o crescimento com as tradições e o ambiente de cada região.

“O setor do vinho assume uma posição inestimável neste âmbito e queremos que em Portugal sejamos o melhor destino turístico do vinho em termos de sustentabilidade” – contou Luís Araújo.

Palavras que sublinharam a perspetiva de Adrian Bridge ao considerar o ciclo de conferências como tendo excedido as expectativas no que foi a aprendizagem e a partilha de experiências, no que são factos atuais e contemporâneos de como a procura por soluções ambientais positivas é já uma realidade assinalável.

Além do trabalho a ser desenvolvido pela indústria, é importante transmitir aos consumidores como, ao escolher o vinho, eles podem contribuir para a sustentabilidade económica, social e ambiental.

Porto Summit 2019

O Porto Summit foi o momento mais esperado da Climate Change Leadership e contou com um forte e irascível apelo à ação por parte de Al Gore.

Com a apresentação, pela segunda vez, de Catarina Furtado e a presença institucional não só da Câmara Municipal, na pessoa de Rui Moreira, como da Presidência da República em comunicado final, o Porto Summit contou com a presença de Al Gore num apelo direto ao combate às alterações climáticas.

No contexto do Porto Protocol, a iniciativa lançada em 2018 com o patrocínio de Barack Obama, o objetivo da cimeira de 2018 foi manter a necessidade de envolvimento e, tal como é princípio deste acordo mútuo entre associações e membros individuais, de fazer mais e melhor no que é a sustentabilidade.

Palestra de Al Gore

Al Gore foi incidente na sua intervenção. Apesar de apresentar como o crescimento populacional e o crescimento económico tem levado a cada vez maior reconhecimento de que a Terra e os sistemas naturais são limitados em termos de recursos, abordando aspetos relacionados com o uso dos solos pela maior necessidade agrícola ou a destruição alarmante das florestas mundiais, o foco deu-se no que seria a poluição por carbono.

Numa expressão repetida do uso da pequena camada que rodeia a terra como um esgoto aberto para as emissões de gases com efeito de estufa, a tónica foi dada às consequentes alterações climatéricas. Através de uma absorção cada vez maior de energia térmica, o gradual e sucessivo deslocamento da distribuição de temperaturas médias da atmosfera terrestre ou a alteração a larga escala da dinâmica do sistema climático, coloca em perigo todo o clima como o conhecemos a uma escala de tempo imprevisível.

Matos Fernandes apresentou os objectivos do Governo Português na área do ambiente. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Com exemplos specíficos e estatísticos desta tendência, a vivacidade e celeridade da apresentação de Gore resultou das consequências que estes fenómenos têm e terão para as comunidades humanas, no que serão vagas migratórias, incapacidade de adaptação, destruição económica e patrimonial, em condições de dar aos delegados uma irascível e inequívoca direção de mudança.

Matos Fernandes e o Governo Português

Os bons exemplos a seguir, como o cada vez mais ambicioso plano de descarbonizar a economia mundial, mesmo apesar da eventual retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris não passaram sem um cumprimento ao caso português e ao seu papel de liderança no passado e presente.

Apanhando de surpresa a apresentadora Catarina Furtado e chegando quando não seria previsto ao palco do Climate Change Leadership, depois de um vídeo extenso, Matos Fernandes colocou o acento naquela que é a estratégia de desenvolvimento portuguesa nas décadas depois do Acordo de Paris.

A Câmara Municipal do Porto apoiou a Climate Change Leadership. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Nas suas palavras, numa época de clara instabilidade política e desinformação, a necessidade de garantir a sustentabilidade pela tripla via contemplada neste programa da descarbonização, ordenamento do território ou da economia circular é cada vez crescente, terminando com um repto forte:

“Pensem nos vossos filhos, netos e sobrinhos” – apelou Matos Fernandes.

Ações Cívicas e a ação da Câmara Municipal do Porto

De acordo com o apelo cívico foi também a receção dos participantes do Porto Summit pelo presidente da câmara Rui Moreira, numa intervenção curta e otimista sobre o tempo e a oportunidade para a ação atuais.

A cidade do Porto tem feito esforços por estar na dianteira dos bons exemplos, especialmente no que toca à gestão dos resíduos, corroborando aquela que é a perspetiva de Rui Moreira de que as cidades têm um papel importante e podem fazer muito mais.

“A forma como estamos a viver não permitirá a que os nossos netos possam viver pelo que este é o tempo de agir e estou muito orgulhoso que isso seja aquilo que estamos a fazer aqui no Porto” – contou Rui Moreira.

Adrian Bridge e o Porto Protocol

Afroz Shah partilhou a sua experiência de advogado tornado activista climático pela sua paixão pelo Oceano. Fotografia: Miguel Marques Ribeiro.

Recordado pelo seu promotor Adrian bridge logo em abertura da edição de 2019, o Porto Protocol, inaugurado em 2018 com a presença de Barack Obama, tem não só o objetivo de fazer convergir o tecido empresarial, como o de aproximar pessoas.

Neste sentido, para além de promover o intercâmbio e publicitação dos casos de estudo de mitigação e sustentabilidade ambiental das empresas parceiras, o Porto Protocol tem o carácter inovador de ter como primeiro princípio o compromisso dos seus signatários de fazer no futuro melhor em termos do que é o impacte e a capacidade ambiental das empresas no presente.

Nas palavras do próprio, é objetivo permitir que “quando o tempo chegue, cada um tenha a oportunidade de dizer que procurou fazer algo”.

Afroz Shah e o contributo de cada um

Inspiração esta que Afroz Shah parece ter tomado à letra quando há uma década atrás se lançou individualmente na empresa de limpar uma praia totalmente atulhada de lixo plástico trazido pelas correntes indicas à capital de Nova Deli.

Numa referência ao que se tornou uma relação de amor pelo oceano, o advogado tornado empreendedor social foi claro e frontal na sua denúncia do que entende como uma zona de confusão por contraponto à necessidade de agir.

De facto, depois de no dia anterior ter feito limpeza de praias conhecido vários jovens locais, recebeu uma mensagem no pessoal de uma jovem de 16 anos a indicar-lhe como tinha sido tão importante para ela tê-lo conhecido e ouvido para tomar ação.

“Olhem para esta rapariga de dezasseis anos que conheci por cinco minutos na praia ontem. (…) Nós queremos ouvir os planos de ação dos primeiros ministros e políticos, mas estes são os jovens líderes entre os 14 e os 18 anos que nos estão a tentar agir e dizer-nos algo e que nós não queremos ouvir.” – contou Afroz Shah.

Está tudo nas nossas mãos.

 

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