Ciência e Saúde
INVESTIGAÇÃO NO PORTO EM 2019: UM ANO DE AVANÇOS CIENTÍFICOS
Mais do que distinções individuais ou coletivas, os prémios recebidos pela investigação realizada em 2019 pelas unidades de investigação localizadas no Porto demonstram a importância da relação de proximidade do ensino com a produção científica, para além de divulgarem e reconhecerem o que de melhor se faz em ciência na Invicta. O JUP preparou um resumo de 2019 relativo aos maiores destaques em investigação científica do ano nas áreas da ciência, saúde e tecnologia.
Ciência
Na área da Física, destaque para Pedro Vieira, alumnus da FCUP, que esteve entre os galardoados da edição deste ano do prestigiado prémio Breakthrough. Este prémio distingue cientistas pelos trabalhos desenvolvidos nas ciências da vida, física fundamental e matemática. Pedro Vieira está atualmente a trabalhar no Instituto Perimeter para Física Teórica, no Canadá, tendo sido premiado na categoria Novos Horizontes na Física pelas “profundas contribuições para a compreensão da teoria quântica de campos”.
Na área da Química, Maria João Ramos (FCUP e REQUIMTE) recebeu o prémio Luso-Espanhol Madinaveitia-Lourenço de 2019, atribuído nesta edição pela Real Sociedad Española de Química. O reconhecimento decorreu do “seu extraordinário trabalho de investigação em Química”. Ainda na área da Química, Susana Soares (FCUP e LAQV/REQUIMTE) recebeu o prémio Watburg Excellence Award in Flavor Research 2019, reconhecendo desta forma o seu trabalho de investigação em aroma e paladar. Destaque ainda para Manuel João Monte (FCUP e CIQUP) que foi um dos homenageados num número especial do Journal of Chemical & Engineering Data (JCED) por ser um dos autores mais citados em artigos publicados desde o ano 2000.
Na área da genética, Pedro Ferreira (FCUP e i3S) foi distinguido pela Sociedade Portuguesa de Genética Humana (SPGH) com o prémio SPGH 2019, atribuído ao autor do melhor artigo científico na área da Genética Humana publicado em 2018, por investigadores portugueses. O artigo, intitulado “The effects of death and post-mortem cold ischemia on human tissue transcriptomes”, foi publicado na revista Nature Communications e resultou do desenvolvimento do projeto GTEx (Genotype-Tissue Expression).
Finalmente, em neurociência, foi premiado o grupo de investigação coordenado por Mónica de Sousa com o prémio Melo e Castro, pela Santa Casa, que distingue trabalhos que permitem a descoberta de soluções para a recuperação e o tratamento de lesões vertebro-medulares. O grupo de investigação do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto propôs-se a estudar os mecanismos moleculares e celulares que levam a que a espécie de rato Acomys cahirinus tenha uma elevada capacidade regenerativa, levando a que volte a andar após uma lesão completa na medula espinal.
Saúde
Na área da cardiologia, esteve em destaque a Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular (UnIC), integrada na FMUP, com a conquista de três prémios no congresso anual da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) pelos trabalhos realizados na área da cardiologia de intervenção e cirurgia cardíaca.
Em oncologia houve vários investigadores em destaque, como Helena Ramos (FFUP e LAQV/REQUIMTE) que recebeu o prémio de investigação do Encontro Nacional de Jovens Investigadores em Oncologia pelo trabalho “Descoberta de um novo ativador da p53: promissor agente anticancerígeno no tratamento do cancro colorretal”. Também a orientadora de Helena Ramos, a professora Lucília Saraiva, foi reconhecida com o prémio MED.IDEAS pelo trabalho ACTONP53 da equipa de investigação que lidera. Este projeto propõe novas alternativas farmacológicas no tratamento do cancro utilizando a ativação seletiva da proteína supressora tumoral p53. Já Carolina Costa, estudante da FMUP e orientada por investigadores do i3S e Ipatimup, foi distinguida com o prémio de apoio à investigação atribuído pela Fundação Professor Ernesto Morais (FPEM) com vista a financiar o estudo da relação entre o microbioma intestinal e a resposta imunitária nos tumores dos pacientes com cancro colorretal.
O trabalho de quase uma década realizado pela equipa liderada por Mariana Monteiro, professora associada do ICBAS e investigadora da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB), recebeu o prémio Banco Carregosa/SRNOM. A investigação em curso foca-se no desenvolvimento de uma técnica inovadora para o tratamento de diabetes e da obesidade com recurso ao bypass gástrico metabólico.
O prémio carreira da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) de 2019 foi também atribuído a um investigador do Porto. António Guerra, professor da FMUP e investigador do CINTESIS, foi dessa forma reconhecido pelo “elevado mérito das suas atividades na prática clínica, no ensino e formação, na investigação, ou em qualquer combinação das mesmas na área da pediatria”.
Na área da dor, a Fundação Grünenthal atribuiu à equipa liderada por Fani L. Neto (FMUP e i3S) o prémio de Investigação Básica pelo trabalho realizado com potencial terapêutico no alívio da dor crónica para os doentes com osteoartrose.
Nas áreas de alergologia e imunologia clínica, Bernardo Sousa Pinto (FMUP e CINTESIS) conquistou o prémio SPAIC-DIATER pelo trabalho intitulado “Frequência de reações graves subsequentes a testes de provocação às penicilinas: uma meta-análise bayesiana”.
Tecnologia
Um dos grandes destaques do ano resultou da atribuição do prémio Nobel da Química de 2019 ao norte-americano John B. Goodenough que, sendo professor da Universidade do Texas (EUA), é também professor convidado da FEUP, colaborando com Helena Braga, investigadora do Departamento de Engenharia Física da FEUP. A atribuição do prémio Nobel da Química a três investigadores, incluindo Goodenough, deveu-se ao desenvolvimento das baterias de iões de lítio, invenção que revolucionou o mundo da tecnologia através de baterias recarregáveis. Assim, também a equipa de Helena Braga, da FEUP, foi alvo de atenção aquando da atribuição do prémio, sendo que encontram-se a desenvolver novas baterias mais seguras.
Na área da Engenharia Química, Alírio Rodrigues (FEUP e LSRE-LCM) foi distinguido com a Medalha de Excelência em I&D&I, atribuída no 3º Congresso Internacional de Engenharia Química (CIBIQ 2019), como “reconhecimento de uma extraordinária carreia de investigação na área de Processos de Separação e Reação Química”.
Em Engenharia Civil e Arquitetura, André Furtado (FEUP) conquistou o Building Travel Award 2019, uma distinção internacional destinada aos melhores trabalhos de investigação realizados por estudantes de doutoramento na área dos edifícios. O trabalho premiado dedicou-se à avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios de betão armado com paredes de enchimento e desenvolvimento de soluções de reforço. Também José Correia (FEUP, CONSTRUCT e INEGI) foi distinguido na área de Engenharia Civil, pela Universidade de Ciência e Tecnologia da China e pela Universidade de Beihang, devido à sua contribuição científica nas áreas da fadiga, fratura e integridade estrutural.
Em Engenharia Biomédica, Miguel Coimbra (FCUP e INESC TEC) recebeu, em Berlim, uma distinção atribuída pela primeira vez a Portugal (IEEE EMBS PT) pela IEEE Engineering in Medicine and Biology Society. O prémio IEEE EMBS Outstanding European Chapter 2019 reconhece assim a “excelência do trabalho da comunidade nacional em engenharia biomédica”.
O projeto “MedLIS – Medicamentos que Falam”, desenvolvido por estudantes e docentes da licenciatura em Engenharia Biomédica do ISEP, ganhou o prémio João Cordeiro 2019, na categoria Inovação em Farmácia. O MedLIS propõe uma etiqueta eletrónica e interativa que, após colocada pelo farmacêutico na caixa do medicamento com a informação necessária, pode ser ouvida pelo utente quando aproxima o seu telemóvel da mesma.
O projeto Digital Patient, desenvolvido na FMUP em parceria com o Centro Hospital Universitário de São João, foi vencedor dos Prémios Health Intelligent Talks & Trends, na categoria “Value Proposition”, sendo distinguido assim pela “adoção de estratégias focadas na eficiência de cuidados de saúde baseadas nos sistemas de informação e que apoiem a tomada de decisão”. O projeto, iniciado em 2016, pretende recorrer à inteligência artificial para criar uma plataforma que possibilita o acesso imediato a informações sobre o histórico de cada paciente.
O spin-off da Universidade do Porto iLoF– Intelligent Lab on Fiber foi distinguido pelo Wild Card, um programa de aceleração do EIT Health. Foi premiado um novo sistema portátil que funciona com uma biblioteca de biomarcadores de várias doenças neurodegenerativas, permitindo testes rápidos e pouco invasivos em doenças como o Parkinson ou tumores cerebrais, uma vez que utiliza apenas microlitros de sangue. A tecnologia desenvolvida resultou do trabalho de investigação de Joana Paiva (FCUP e INESC TEC), Paula Sampaio (FCUP e i3S), Luís Valente (INESC TEC) e Mehak Mumtaz (Universidade de Oxford, Reino Unido).
Outra spin-off premiada em 2019 foi a Didimo, criada por Verónica Orvalho (FCUP), que obteve financiamento ao abrigo do programa SME Instrument da Comissão Europeia. A empresa, incubada na UPTEC, cria réplicas dos rostos humanos com base em fotografias tiradas por telemóvel, pretendendo trazer autenticidade às interações virtuais e simplificar a maneira de integrar e dimensionar a produção de personagens 3D de alta fidelidade. A equipa por detrás do projeto conta com mais de uma década de investigação em computação gráfica, machine learning e animação facial.
A terceira startup em destaque deve-se à atribuição do prémio de inovação europeu do EIT, na categoria de mulheres, a Trigger Systems, cofundado por Sara Guimarães Gonçalves (alumna FCUP). Trigger Systems, que tem como alvo o setor agrícola e os jardins urbanos, permite otimizar até 50% nos consumos de água e energia, sem recurso a sensores, através de sistemas de previsão que resultam numa distribuição de água eficiente.
O prémio Arquivo.pt foi atribuído à aplicação móvel desenvolvida por Nuno Moniz (FCUP e INESC TEC), Arian Pasquali (FCUP) e Tomás Amaro (Hostelworld). Denominada por meuparlamento.pt, a aplicação simula o plenário da Assembleia da República e pretende trazer as discussões e propostas legislativas ao telemóvel dos cidadãos.
Artigo por Mariana Miranda.