Ciência e Saúde

INVESTIGADORES PORTUGUESES DO I3S DESCOBREM MECANISMO CELULAR QUE EVITA ANOMALIAS LIGADAS AO CANCRO

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Publicada no último dia 8 de janeiro na revista científica “Journal of Cell Biology”, a descoberta dos investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) do Porto identifica um novo mecanismo utilizado pelas células que garante a correta distribuição dos cromossomas durante a divisão celular e evita o desenvolvimento de anomalias celulares ligadas ao cancro.

O projeto, como explica o líder da investigação, Carlos Conde, em declarações à agência Lusa e ao noticias.up.pt, destina-se a “perceber como é que as células, quando se dividem, transmitem corretamente o material genético”. Na prática, “queríamos estudar como é que as principais proteínas que regulam a divisão celular se distribuem pela célula de forma a exercerem corretamente a sua função molecular”, continua o investigador do grupo de Divisão Celular e Estabilidade Genómica do i3S.

Resultado de uma investigação de seis anos, o mecanismo estudado pelos investigadores está associado à proteína conhecida como MAD1 (Mitotic Arrest Deficient), responsável por monitorizar a ligação dos cromossomas e evitar que as células iniciem a divisão de forma incorreta. “Sabemos agora que a MAD1 está inicialmente na membrana nuclear que envolve o material genético, mas que quando começa a divisão celular, se liberta e move para os cinetocoros (estruturas nos cromossomas que circundam o material genético)”, salienta Carlos sobre o papel regulador desta proteína na divisão celular.

Na publicação de Carlos Conde no Twitter, o investigador afirmou que está “entusiasmado por começar 2020 com a publicação do seu mais recente trabalho na revista Journal of Cell Biology”, partilhando um esquema ilustrativo da proteína MAD1 durante divisão celular.

Segundo os investigadores, testes laboratoriais em “mosquinhas da fruta” revelaram a importância da movimentação da proteína MAD1 dentro da célula, uma vez que, se não se libertar da membrana celular, os cromossomas são distribuídos de maneira desigual pelas células filhas. “Se não acontecer essa desassociação, isto é, se a proteína não conseguir sair do núcleo, ocorrem erros na divisão dos cromossomas que estão muitas vezes na origem de cancro”.

Como consequência, a identificação deste mecanismo permite esclarecer algumas questões para as quais a comunidade científica ainda não tinha respostas, particularmente no contexto do cancro. “Estes resultados expandem o nosso conhecimento sobre um processo fundamental da Biologia e permite-nos perceber melhor a origem de determinados tipos de erros na divisão do material genético em células cancerígenas”, explica Carlos.

O investigador ainda revela que, “como identificámos mutações específicas numa proteína que está associada quando este mecanismo não funciona, ele serve como uma potencial ferramenta de diagnóstico.” O desafio agora para o grupo de investigadores é tentar perceber o que motiva a proteína a libertar-se da membrana nuclear, tema que será foco de novos estudos.

Para além do impacto da publicação da descoberta no meio académico, o projeto do grupo de investigadores foi recentemente distinguido com o prêmio “Bem Barres Spotlight Award” da revista científica “eLife”, que promove a visibilidade de jovens investigadores. “O reconhecimento do mérito e potencial impacto deste projeto vai promover a visibilidade do nosso trabalho e da nossa equipa perante a comunidade científica internacional, gerando assim novas oportunidades de discussão e colaboração que certamente fortalecerão a qualidade da nossa investigação”, finaliza Carlos.

 

Artigo elaborado por Giovanna Vernacci. Revisto por Mariana Miranda.

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