Ciência e Saúde
Portugueses unem-se no combate à COVID-19: Mais do que viseiras, “imprime-se” esperança
Numa altura em que se verifica uma elevada demanda de material hospitalar, como máscaras e óculos, para combater a COVID-19, surgiu a ideia do fabrico de viseiras como material de proteção. Do ponto de vista epidemiológico, permite a proteção dos profissionais de saúde que todos os dias estão sujeitos a casos suspeitos ou confirmados de COVID-19, funcionando como barreira física às gotículas produzidas por tosse, espirros ou apenas por conversas tidas com os pacientes.
Existem várias iniciativas de fabrico de viseiras em curso em Portugal, e fora, sendo que o grupo “Movimento Maker – Portugal”, em que se partilha conhecimento sobre o “desenvolvimento de novas ideias/protótipos”, tem dedicado as últimas semanas à produção de material de proteção, com destaque para as viseiras.
O JUP teve a oportunidade de falar com uma das voluntárias: Mónica Santos Faria, bolseira de investigação no Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro, que nos elucidou sobre o projeto, o processo de fabricação e a chegada ao consumidor.
JUP: Como surgiu a oportunidade de integrar este projeto?
Mónica: Eu fui inicialmente abordada pelo Movimento Maker Portugal. A partir daí souberam da minha ligação com a impressão 3D e contactaram-me para saber se eu estaria disponível para imprimir viseiras.
Como se desenrola o processo após demonstração de disponibilidade e vontade em participar?
Então, é-se reencaminhado para chats de conversa divididos por localidade, no meu caso Aveiro, nos quais discute-se o melhor modelo para as viseiras atendendo, entre outros aspetos, o feedback dos profissionais de saúde. Estes modelos são constantemente modificados por participantes com maiores conhecimentos em desenho e programação das impressoras.
Qualquer pessoa pode participar ou é necessária uma formação específica para o fazer?
Qualquer pessoa que tenha vontade de entrar no movimento e possua os materiais necessários – encontrando-se entre eles uma impressora 3D, filamento de impressão, acetatos, software específico, modelo e elásticos – pode participar. Numa primeira abordagem podem parecer muitos materiais, no entanto, existem várias empresas sensibilizadas para a causa que estão a doar filamento e vários quiosques e papelarias a contribuir com acetatos. Tendo todos os materiais resta realizar a impressão, fura-se o acetato, coloca-se no acetato e o suporte é atado com um elástico.
Como é feita a ponte entre o produtor e o utilizador?
Nos grupos de conversação existem duas a três pessoas com mais contactos na localidade em questão, os quais tratam de distribuir um formulário em hospitais, centros de saúde, em quarteis de bombeiros e mesmo supermercados. Estas viseiras são destinadas a todos os profissionais de saúde e/ou pessoas com contacto permanente com o público que possam estar a precisar de maior proteção. Após esta requisição, todos os voluntários daquela localidade trabalham na produção e, posteriormente, um voluntário encarrega-se da recolha e entrega aos utilizadores.
Os voluntários recebem algum tipo de recompensa pelo seu trabalho?
Apesar de este evento ser público e o que estamos a fazer também o ser, é anónimo no sentido que é um ato voluntário desprovido de qualquer reconhecimento monetário ou moral.
Gostaria, por fim, de perguntar como tem sido a tua experiência neste projeto?
Stressante, sem dúvida, porque os pedidos não param. Mas vale muito a pena. Pela gratidão que os profissionais de saúde mostram de cada vez que recebem as viseiras e pelo companheirismo e carisma solidário de todos os membros que pertencem a este projeto.
Para participar ou saber mais informação, pode-se consultar a página de Facebook do Movimento Maker – Portugal.
Artigo elaborado por Carina Baptista. Revisto por Mariana Miranda.