Ciência e Saúde

Há Marte e Marte, há ir e voltar: um projeto tão simples quanto possível

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O plano para recolher amostras de rochas da superfície de Marte e transportá-las para o nosso planeta está em processo de desenvolvimento e começa agora a ganhar forma. O primeiro grande passo neste projeto interplanetário está previsto acontecer em julho, quando a NASA lançar o veículo (rover) Perseverance para explorar a superfície marciana e recolher amostras de poeira e rocha.

Se esta expedição resultar em sucesso, os cientistas poderão ter em mãos amostras do planeta vermelho dentro de pouco mais de dez anos. Michael Meyer, cientista principal do programa de exploração de Marte, na sede da NASA em Washington DC, sublinha que as descobertas científicas que resultarão do sucesso desta expedição “serão fantásticas”.

De facto, todo o processo exigirá muitas estreias interplanetárias, entre as quais o primeiro lançamento de um pequeno foguetão da superfície de Marte e a primeira interação entre dois veículos espaciais em órbita neste planeta. É um empreendimento internacional ambicioso e dispendioso, que envolve o envio de vários veículos espaciais para Marte. Assim, compreende-se que a complexidade do processo tenha o preço de uma década de espera. “Isto não é uma tarefa simples”, disse Jim Watzin, chefe do programa de exploração de Marte da NASA em Washington DC, “mas mantivemos o mais simples possível”.

Perseverance (Mars 2020 rover). Fonte: NASA

A missão terá início com o lançamento de Perseverance. Se este for lançado aquando previsto, aterrará em fevereiro do próximo ano na cratera Jezero, a qual abriga um antigo rio. Um rio que, acredita-se, poderá conter sinais da antiga vida marciana. Já na superfície de Marte, enquanto percorre quilómetros, o Perseverance irá perfurar e recolher material para preencher cerca de 30 pequenos tubos de amostragem geológica.

Até recentemente, ainda não era claro como estes tubos iriam voltar à Terra. No entanto, nos últimos meses, e após quatro anos de projeto, a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA) finalizaram um plano que envolve o envio de dois veículos para Marte em 2026. O primeiro veículo, uma sonda, teria por objetivo a recolha dos tubos de amostragem e posicionamento destes na órbita marciana. Para tal, aterraria na cratera Jezero e, com o auxílio de um pequeno rover, que se aproximaria de Perseverance, poderia recolher os recipientes com as amostras. Terminado este passo, um “Mars ascent vehicle” (essencialmente, um pequeno foguetão) terminaria a tarefa com sucesso, trazendo as amostras para a orbita de Marte. Por sua vez, o segundo veículo ficaria encarregue da recolha e transporte das amostras da órbita até à Terra.

A NASA e a ESA dividiram as tarefas com base na respetiva experiência de trabalho em Marte. A NASA planeia construir a sonda que irá aterrar em Marte e o “Mars ascent vehicle”. Enquanto a ESA trabalhará no pequeno rover e no veículo espacial que levará as amostras para a Terra. No entanto, ao contrário da NASA, a ESA nunca enviou um rover para Marte. Tal deveria ter acontecido este ano, num projeto conjunto com a Agência Espacial Russa, mas viu-se forçada a adiar o projeto, em parte por causa da pandemia do novo coronavírus.

Se tudo correr bem, a sonda encarregue do retorno das amostras à Terra chegará a Marte em 2028. Depois de deixar Marte, as amostras chegarão ao nosso planeta em setembro de 2031. Entretanto, a NASA e a ESA abriram, este mês, um concurso para investigadores interessados em estudar as amostras que irão ser recolhidas em Marte.

 

Artigo elaborado por Carina Baptista.

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