Ciência e Saúde
Ventiladores na COVID-19: Sim ou Não?
O quadro geral sugere que os doentes com COVID-19 que são ventilados apresentam uma maior taxa de mortalidade em comparação com aqueles com pneumonia ou com pulmões colapsados. Todavia, mais estudos são necessários para conseguir compreender a relação entre a ventilação e a taxa de mortalidade. Ainda que os ventiladores apresentem uma grande importância quando o estado de saúde deteriora, estes exibem riscos associados, sobretudo se forem usados frequentemente, muito cedo ou por profissionais não qualificados, comentam os profissionais de saúde.
Num paciente saudável, a saturação de oxigénio é cerca de 96%. Quando a saturação de oxigénio é menor, diz-se que o doente está em hipoxia, geralmente causando desconforto ao respirar. Para se averiguar a utilização de ventiladores nestes casos, é necessário avaliar determinados fatores, como a velocidade da respiração ou o batimento cardíaco. Muitas vezes, a utilização dos mesmos não é estritamente necessária.
A maior preocupação anda em torno dos ventiladores mecânicos. O paciente é intubado, através da inserção de tubos pelas vias respiratórias, e sedado, para que os músculos respiratórios relaxem. Isto permite não só o bombeamento de ar para os pulmões, mas também a sua expelição, substituindo inteiramente a respiração. Por outro lado, os pacientes intubados apresentam uma recuperação lenta e podem sofrer danos permanentes nos pulmões, tornando-se um método invasivo. Desta forma, o paciente fica mais tempo nos cuidados intensivos, impedindo a admissão de novos pacientes.
Um estudo realizado pelo professor de Anestesiologia e especialista em ventiladores Luciano Gattinoni demonstrou que a COVID-19 não leva aos problemas respiratórios típicos do Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), apesar dos sintomas serem idênticos. O SDRA justifica a rápida intubação dos pacientes, e, por isto, extrapolou-se o mesmo tratamento para a COVID-19, mas comprovou-se que os pulmões têm um melhor funcionamento do que é esperado e apresentam uma maior elasticidade. Desta forma, a ventilação mecânica na COVID-19 é justificada se a sua pressão for diminuída.
Existem outras máquinas menos invasivas para o aumento da saturação de oxigénio, como respiradores automáticos, dispositivos de respiração modificada e máscaras de respiração. Estas últimas são uma forma mais simples de ventilação e são mais fáceis de administrar, mas podem libertar micro-gotas denominadas de aerossóis, resultando na disseminação da doença. Alguns médicos defendem a prática de outras técnicas, como o proning, em que os pacientes se deitam de barriga para baixo, para que os fluidos pulmonares se alojem à frente e para que o espaço para a expansão pulmonar aumente.
Além dos efeitos colaterais que os ventiladores mecânicos apresentam, os médicos entrevistados pela Reuters consideram que o aumento do uso destas máquinas requer um maior número de profissionais com habilitações para as manusear. Assim, a falta de profissionais qualificados e a utilização incorreta dos ventiladores podem resultar no agravamento do estado do doente.
Agora que o pico da infeção já foi atingido em vários países, os médicos têm tempo para examinar outras formas para combater a COVID-19 de um modo mais eficaz.
Artigo elaborado por Francisca Ferreira.