Ciência e Saúde

COVID-19, hospitais e medo: o impacto indireto do vírus na saúde

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Com a chegada da pandemia, o medo instalou-se de forma geral nas populações. Nos hospitais temia-se a falta de recursos. Em casa, temia-se a ida aos hospitais devido à probabilidade de contágio. De facto, não só consultas e cirurgias não-urgentes foram adiadas, como também se verificou uma diminuição no número de admissões aos serviços de saúde. Em Inglaterra, uma semana após o início da quarentena, as admissões às urgências tinham diminuído 25%.

A tendência é, no entanto, global, e tem sido também atestada pela redução do número de casos diagnosticados de doenças agudas (como enfartes do miocárdio ou acidentes vasculares cerebrais) e crónicas (como asma ou cancro). Um estudo que comparou o número de diagnósticos reportados entre março e maio de 2020 com os seus valores esperados (baseados em anos anteriores), demonstrou existir uma redução no número de diagnósticos de doenças do sistema circulatório, diabetes tipo II e problemas mentais comuns (43,3%, 49% e 50%, respetivamente).

Uma tendência a inverter

Os especialistas têm alertado para o problema associado ao decréscimo das admissões nos serviços médicos, especialmente tendo em conta que certas doenças precisam de cuidados imediatos, pelo que os diagnósticos tardios e, em alguns casos, a ausência de diagnóstico, podem ser perigosos e potencialmente fatais para o paciente. De facto, tem-se verificado um aumento no número de mortes associadas a doenças não-COVID, possivelmente devido à falha no diagnóstico e/ou no tratamento.

Em Portugal, um estudo publicado na Acta Médica Portuguesa, a revista da Ordem dos Médicos, reportou que entre março e abril de 2020 ocorreu um excesso de mortalidade, em comparação com o período homólogo. Segundo os autores, haverá três razões principais que justificam este excesso: mortes por COVID-19 identificadas, mortes por COVID-19 não identificadas e a diminuição do acesso a cuidados de saúde. Não obstante, estes dados são preliminares, pelo que é aconselhada alguma precaução na sua análise bem como em relação às conclusões retiradas.

Para além do aumento do número de mortes, outra potencial implicação do decréscimo de idas aos serviços médicos nos últimos meses é o aumento do número de diagnósticos destas doenças quando a pandemia acalmar, aumentado a probabilidade de muitos deles serem feitos tardiamente.

O futuro dos diagnósticos

A pandemia tornou mais comum o uso do serviço telefónico SNS 24, que registou um aumento de quase 80% nas chamadas recebidas, quando comparado com o mesmo período em 2019.

Antes da pandemia, os casos que davam entradas nas urgências eram em grande parte situações não-urgentes (por vezes mais de 50%). Neste sentido, serviços como o SNS 24 poderão tornar-se cada vez mais importantes para o bom funcionamento do Serviço Nacional de Saúde, ajudando a descongestionar os serviços de urgência (os casos menos urgentes são geralmente encaminhados para os centros de saúde).

Uma vez que maiores taxas de ocupação dos serviços de urgência estão associadas a maiores taxas de mortalidade, a utilização de meios telefónicos e digitais para o diagnóstico inicial aparenta ser uma política eficaz para melhorar a resposta médica em Portugal e, em especial, o serviço de urgência.

 

Artigo elaborado por Eva Pinto.

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