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Ciência e Saúde

Canal do Suez: um problema ambiental

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É evidente a importância comercial que o canal do Suez tem tido, desde que foi inaugurado em 1869. A conexão liga o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo, bastante diferentes em termos de composição, sendo o segundo mais rico em nutrientes e com níveis mais baixos de salinidade. Devido a estas discrepâncias, alguns seres vivos atravessam o canal em busca de melhores condições, a maioria em direção a norte. Este tipo de fenómeno é designado por migração Lessipsiana. Encontrando-se num habitat em que não nasceram, as espécies são consideradas invasoras, e podem causar problemas às espécies nativas daquele local.

Nesse sentido, um estudo realizado por cientistas ligados à Ecologia marinha, publicado na revista Frontiers in Marine Science, teve como objetivo descobrir quais os impactos Humanos causados naquela região. Estima-se que o canal do Suez já levou perto de mil novas espécies para o Mediterrâneo. Segundo os investigadores, os três principais fatores que levaram à dispersão foram: a abertura do canal do Suez, a travessia das embarcações pelo mesmo, e ainda o crescimento da aquacultura. Também o aumento da temperatura, devido às alterações climáticas, facilitou a migração de algumas espécies.

O primeiro é, sem dúvida, o mais impactante, tendo sido responsável pelo aparecimento no novo habitat de cerca de 420 espécies, a maioria peixes e alguns invertebrados. Os peixes Siganus (rabbitfish) são um exemplo de invasores que, devido à sua necessidade de alimentação excessiva (entre outras causas), são os seres que mais prejudicam espécies nativas da região. Neste caso, estes peixes alojam-se principalmente na zona Sudeste do Mar Levantino, onde grande parte das espécies invasoras provenientes do Mar Vermelho se encontram.

Estando relacionado com o fator anterior, os navios são a segunda maior causa das alterações na biodiversidade daquela zona. Por ser um meio de transporte que faz paragens em diversos portos, alguns organismos (nomeadamente invertebrados) viajam através de águas de lastro (que conferem estabilidade ao navio) e por incrustação. Desta forma, estas espécies conseguem ir ao encontro das costas banhadas pelo Mediterrâneo.

Por último, a aquacultura tem também um papel significativo, levando cerca de 64 espécies para fora do Mar Vermelho. Para além de alguns invertebrados, esta indústria deslocou 41 espécies de plantas marinhas.

Os investigadores chegaram também à conclusão de que as espécies nativas diminuem com a profundidade das águas, e a sua ocupação aumenta de sudeste para noroeste. Mostraram ainda que, em alguns locais onde o número de espécies invasoras é maior, a quantidade de nativas é menor.

Outra conclusão do estudo é que, globalmente, a diversidade da região aumentou, mas que localmente diminuiu em alguns pontos, onde a atividade das espécies invasoras é mais destrutiva para as espécies nativas. Apesar de alguns resultados importantes, os autores dizem ser preciso mais investigação sobre o tema.

Em 2015, o canal foi aumentado, e com isso a quantidade de navios a realizar a ligação também cresceu. Em 2019, com a celebração dos 150 anos da abertura, esta intervenção foi alvo de críticas por parte de alguns especialistas, relembrando os problemas já existentes e que se podem tornar irreversíveis.

Apesar de poder passar despercebido, as adversidades causadas pelas espécies invasoras afetam todo um ecossistema de seres vivos, como é o caso do Mar Mediterrâneo, naquela que pode ser considerada “a mudança biogeográfica mais significativa, atualmente”.

 

Texto por Pedro Rodrigues.