Ciência e Saúde

Portugal organiza conferência mundial sobre saúde

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O evento sobre saúde contou com a participação de oradores e palestrantes de todo o globo em representação de diversas instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as Nações Unidas. Um dos temas transversais aos múltiplos painéis foi a pandemia da COVID-19 e o seu impacto na saúde pública a nível global, tendo sido também explorados temas como a diplomacia para a saúde e os avanços de saúde pública no continente africano.

Durante toda a conferência foi reforçada a premissa inicial de que ninguém está seguro até que todos estejamos seguros, tendo sido sublinhado em várias áreas a necessidade de cooperação e solidariedade internacionais.

Luta contra a COVID-19

Numa primeira parte do evento, foi discutido o papel da União Europeia (UE) na saúde global e os esforços que se encontra a realizar para assegurar a entreajuda e solidariedade com as restantes regiões do globo. O tema do acesso às vacinas foi demarcado, tendo em conta o contexto pandémico atual, e foram analisados os esforços da comunidade europeia na ajuda financeira e logística na sua distribuição para outras regiões do planeta.

Bens, conhecimento, recursos humanos e métodos logísticos foram distribuídos e partilhados pelos países de baixo rendimento. Dois exemplos são o financiamento de 2,2 mil milhões de euros para o programa COVAX, e o programa ACT- A (Access to COVID-19 Tools Acelerator), o que permitiu acelerar a coordenação e o desenvolvimento, produção e acesso equitativo a testes, tratamentos e vacinas contra a COVID-19 a nível global.

Estes programas permitiram o início da vacinação contra a COVID-19 em países de baixo rendimento apenas cerca de dois meses depois do início do processo em países de alto e médio rendimento. Foi denotado pelos oradores, nomeadamente por Durão Barroso – presidente do programa GAVI, que distribui vacinas nos países mais pobres –, que, embora seja um atraso considerável, se trata de uma evolução significativa na oferta de cuidados de saúde aos países de baixo rendimento, diminuindo o tempo de espera comparativamente a outras doenças infeciosas no passado.

Saúde no continente africano

Outros dos temas desta conferência foi a situação do continente africano em termos de cuidados de saúde primários e a ajuda da UE em África. Esta aliança intercontinental tem vindo a ser fortalecida e cada vez mais necessária através de uma troca bidirecional de informação, conhecimento e recursos. Algo que tem permitido aos países africanos uma maior capacidade de luta contra epidemias e doenças, e aos países europeus a vigilância e pesquisa de novas estirpes e agentes patológicos.

Vários oradores realçaram os avanços na democratização dos cuidados de saúde e no alcance dos serviços básicos de saúde no continente africano. Em contrapartida, assinalaram a necessidade das empresas farmacêuticas e organismos de investigação em ciência e medicina transferirem o seu conhecimento e recursos para territórios africanos de modo a tornar o processo de luta contra doenças infeciosas – como a COVID-19, Malária, Dengue e Ébola – mais rápido e eficiente.

Coordenação internacional e aposta na educação

Na análise da coordenação global dos sistemas de saúde, foi unânime em todas as apresentações que é necessário um esforço conjunto de coordenação internacional e intercontinental e a realização de tratados com vista o estabelecimento de regras comuns e estratégias de coordenação universal. “A saúde é agora uma questão geopolítica.”, afirmou Ilona Kickbusch, membro do grupo de trabalho para a Saúde Global da União Europeia.

“A saúde é agora uma questão geopolítica.”

Uma outra estratégia analisada foi a necessidade de educar as populações para problemas de saúde básica de forma a prevenir consequências mais dramáticas que pudessem vir a ser prevenidas. Para isso será necessário ultrapassar desafios como o “digital gap“, a desigualdade de género e os problemas causados pelas alterações climáticas.  “Não há boa saúde sem populações educadas e economias fortes”, demarcou Magda Robalo, alta comissária para a COVID-19 nas Nações Unidas.

Igualdade de género

Durante o evento foi também tratado o tema da igualdade de género na prestação e acesso aos cuidados de saúde. Estatísticas presentadas por Roopa Dhatt – diretora executiva da organização Women in Global Health – indicam que 70% dos prestadores de saúde são mulheres, mas apenas 25% dos decisores em matéria de saúde são do sexo feminino.

Esta falta de representatividade de género leva a que as decisões tomadas na saúde a nível mundial não tenham em conta as condições de metade da população mundial, como denotou Roopa: “Quando as mulheres são marginalizadas nas associações, são feitas decisões que ignoram as suas realidades e causas, resultando em danos e mortes.”

O impacto das alterações climáticas na saúde

Numa fase final da conferência, foram debatidas as consequências das alterações climáticas na transmissão de vírus zoonóticos, isto é, transmissíveis de animais para humanos. Um dos problemas identificados foi a alteração dos padrões de migração dos mosquitos e outros insetos portadores de doenças, como consequência do aumento da temperatura.

Já foi observada a migração de populações destes insetos portadores de doenças do continente africano para o continente europeu, resultando em surtos de doenças infeciosas um pouco por toda a Europa. Torna-se, portanto, necessário reforçar ainda mais a importância do combate às alterações climáticas na saúde pública.

A transmissão completa da conferência pode ser assistida no canal de YouTube da DGS.

 

Texto por Maria Amaro.

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