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Ciência e Saúde

COVID-19: As Consequências Neurológicas

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O espetro de sinais e sintomas da COVID-19 já é largamente conhecido. Os doentes poderão ser assintomáticos; experienciar sintomas semelhantes a uma gripe (febre, tosse, dores musculares); perder o olfato e/ou o paladar; ou desenvolver quadros mais graves, como pneumonia e/ou síndrome respiratória aguda grave. No limite, poderão morrer.

Mais recentemente, começaram a ser reportados casos de pacientes que, tendo recuperado, ainda exibem sintomas da doença ou outros totalmente novos. Os sintomas podem, inclusive, desenvolver-se semanas ou meses após a recuperação. Nestas situações, está-se perante a chamada COVID prolongada (long COVID).

Um dos aspetos mais surpreendentes nestes casos é a presença de um vasto leque de sintomas neurológicos. Para além da perda de olfato e/ou paladar, alguns dos sintomas neurológicos reportados incluem nevoeiro mental, dores de cabeça e ansiedade.

Investigadores norte-americanos demostraram que há fortes indícios de que o vírus poderá atravessar a barreira do sangue-cérebro, levando o último a libertar citocinas e produtos inflamatórios. Isto poderá ser uma das explicações para a existência ou intensidade de determinados sintomas neurológicos, e para a manutenção dos mesmos no tempo.

As dúvidas relativas às potenciais causas destes sintomas mantêm-se. A resposta do corpo à infeção por COVID-19 poderá ser uma das explicações.

A prevalência destes sintomas nos diferentes grupos de pacientes também tem sido analisada. Um estudo norte-americano, publicado há pouco mais de um mês, acompanhou 150 pacientes de COVID-19 que apresentaram sintomas da doença mas que nunca foram hospitalizados, e que exibiram sintomas neurológicos durante, pelo menos, seis semanas. Quase metade da amostra apresentava depressão/ansiedade como comorbidade. Os sintomas mais comuns nos pacientes foram nevoeiro mental, fadiga, dores de cabeça, dormência, e perda de olfato.

No que toca a pacientes internados, têm sido reportadas outras manifestações neurológicas importantes como encefalite (inflamação do cérebro), AVC, convulsões e isquemia. A sua presença representa um risco acrescido de morte de 38%.

Para além disto, no último ano têm sido publicados vários estudos sobre as consequências psiquiátricas da COVID-19. Um grupo de cientistas analisou a história clínica de 62 mil pessoas diagnosticadas com a doença, e concluiu que um risco acrescido de diagnóstico de distúrbios de ansiedade, demência e insónia lhe estaria associada, independentemente do historial do paciente. Os investigadores apontam para que, no caso dos pacientes adultos, o risco de serem diagnosticados com um distúrbio psiquiátrico duplique com um diagnóstico de COVID-19. No caso da demência, o risco aumenta duas a três vezes. Uma das conclusões mais importantes do estudo é que o impacto da COVID-19 na saúde psiquiátrica é muito mais relevante do que o de outras doenças graves.

A relação entre um diagnóstico de COVID-19 e o desenvolvimento de psicose também tem sido investigada. Calcula-se que a incidência de psicose nas pessoas infetadas com o vírus esteja entre 0.9% e 4%, incluindo os pacientes sem historial de doença psiquiátrica.

Os especialistas admitem que as consequências neurológicas, principalmente as mais graves, afetam percentagens relativamente baixas de pacientes de COVID-19, e é provável que tal se mantenha. Contudo, se for tido em conta o alcance global da doença – são já mais de 150 milhões de diagnósticos em todo o mundo -, é de prever que, no fim da pandemia, sejam muitas as pessoas com sintomas neurológicos a longo prazo. A recuperação e o acompanhamento destes pacientes representam um enorme desafio a nível social e económico, e um fardo importante para os sistemas de saúde nacionais do mundo.

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Texto por Catarina Assunção. Revisto por Eva Pinto e Maria Teresa Martins.