Ciência e Saúde

Orgânico: Município do Porto Combate o Desperdício Alimentar

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O que é a Porto Ambiente e quais as áreas de atuação da mesma?

É uma empresa municipal, criada em 2017 pela Câmara Municipal do Porto, com o objetivo de operar na área da recolha dos resíduos e na limpeza da cidade.

Antes de 2017, essas funções eram delegadas a empresas do mercado da recolha de resíduos, mas o paradigma inverteu-se e a Câmara do Porto passou a realizar diretamente a gestão da salubridade através da Porto Ambiente. Desse modo, todo o processo relacionado com a recolha de resíduos foi internalizado.

Em que consiste o projeto Orgânico e qual o propósito do mesmo?

O projeto Orgânico está relacionado com a promoção dos resíduos recicláveis, por parte da Porto Ambiente. Já tínhamos os “clássicos” – papel, plástico e vidro – e, com este projeto, criámos um novo fluxo, os orgânicos, que corresponde aos restos alimentares. Contribui para a sustentabilidade ambiental e para a redução do desperdício alimentar, já que o ciclo é fechado.

Como foi financiado este projeto?

O financiamento ocorreu através de duas candidaturas, no âmbito do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (PO SEUR) e de uma candidatura com o projeto “CityLoops”, um financiamento H2020.

 Que vertentes constituem o Orgânico?

Este projeto é constituído por diversas vertentes. Entregamos um kit, para que os munícipes possam separar os resíduos orgânicos no conforto de casa e depositar o orgânico puro no contentor castanho, sem haver a possibilidade de contaminação e sem quaisquer custos associados. Temos, para além disso, stands em supermercados parceiros nas áreas de intervenção e ações de rua pontuais com a presença da mascote “O Cascas”, de modo a sensibilizar pessoas de todas as faixas etárias para a importância de aderirem ao projeto e separarem os resíduos orgânicos.

Quais as zonas que o Orgânico irá abranger?

As zonas foram selecionadas de acordo com o critério da elevada densidade populacional (edificação em altura). Por isso, as zonas já abrangidas são Antas, Paranhos, Ramalde, Cedofeita/Constituição/Pedro Hispano (Boavista Norte). E as próximas zonas a abranger serão Prelada, Foz, Nevogilde, Lordelo do Ouro, Campanhã e Viso.

Quantas pessoas já aderiram ao projeto e quanto tempo demorarão os kits a estar distribuídos por quem já aderiu?

Já temos 8 500 aderentes, com uma taxa de aceitação de 95%.

O objetivo passa por abranger 60% da população da cidade, com uma recolha prevista de 7 000 toneladas/ano. Para que isto seja possível, serão instalados mais de 500 contentores castanhos na via pública, com acesso controlado e abertura exclusiva com cartão, e serão distribuídos mais de 60 000 contentores de sete litros para a separação em casa.

Até finais de julho, prevemos ter os kits distribuídos pelos munícipes já aderentes.

De que forma serão reutilizados os resíduos orgânicos depois de separados?

Este tipo de resíduos tem uma grande vantagem, já que não vai para o aterro. Aliás, o Porto tem aterro, praticamente, zero, o que já é uma grande diferença em relação ao resto do país.

O tratamento é feito pela LIPOR, onde os resíduos seletivos são reciclados, entrando na economia circular. No caso dos resíduos orgânicos, ao serem recolhidos de forma separada, constituem um produto de muita qualidade (acima dos outros fluxos recicláveis), que irá ser transformado num orgânico, que poderá ser usado como adubo na agricultura biológica.

Aquilo que não é reaproveitado assim como o fluxo do indiferenciado, da mesma forma que os outros resíduos, é transformado, essencialmente, em energia e biogás.

Já tinham idealizado um projeto semelhante a este antes da separação de resíduos orgânicos se tornar obrigatória por lei?

O projeto orgânico já existia para a área comercial/restauração e, em 2018, começou a ser posto em prática na modalidade porta a porta residencial, em habitações unifamiliares. Isto deveu-se ao facto deste tipo de habitações reunir condições para ter contentores maiores. Nas habitações unifamiliares as pessoas fazem a própria separação e em cada dia da semana passa o camião de um fluxo diferente para esse seja recolhido. Não era um projeto em grande escala, mas já tinha algum significado.

Este ano, “demos o passo” e passámos a ter disponível a possibilidade da separação de resíduos orgânicos para habitações multifamiliares. A forma que encontrámos para tornar isto viável foi entregar um balde de sete litros por apartamento e pôr um contentor de rua com acesso limitado com cartão a quem participar no projeto.

Que apelo gostaria de fazer para que mais munícipes adiram ao projeto?

Maria Teresa Martins (editora JUP) e Artur Jorge Basto (Presidente Porto Ambiente)

Este é um projeto de coresponsabilidade entre a Porto Ambiente e os munícipes.

À Porto Ambiente compete criar condições de comodidade para que as pessoas ao fazer a separação dos resíduos não tenham trabalho acrescido e ter políticas e ações de sensibilização para incentivar à adesão. Aos munícipes compete fazer a separação em casa e depositar, posteriormente, os resíduos no contentor castanho.

Posto isto, têm que ser tidas em conta a questão ambiental, é uma obrigação de todos nós sermos o mais sustentáveis possível; a questão do desperdício alimentar, já que 30% dos alimentos são desperdiçados e; a questão financeira para os munícipes, quanto mais pessoas fizerem a separação de resíduos, mais resíduos seletivos serão entregues para tratamento e reciclagem e menor será a taxa paga por tonelada de indiferenciados, já que menos indiferenciados serão entregues para queima.

No universo LIPOR, a câmara do Porto é das que tem a taxa de resíduos mais baixa e queremos que isto se mantenha, ou, até mesmo, que baixe mais.

É muito importante que toda a comunidade esteja envolvida neste projeto, que tem condições para ter muito sucesso, visto que, de momento, os números são muito satisfatórios, o que cria uma expectativa muito positiva relativamente à parceria entre os munícipes e a Porto Ambiente.

COMUNIDADE ACADÉMICA

Como se posiciona a Porto Ambiente junta das universidades?

A Porto Ambiente tem uma relação muito próxima com a comunidade universitária, ao nível da divulgação e do envolvimento nos nossos projetos.

Temos o exemplo do ISEP que foi reconhecido com o certificado “Coração Verde”, atribuído pela câmara do Porto, a Porto Ambiente e a LIPOR, devido aos projetos “Agir Local, Pensar Global”, “Dose Certa” (serviço de recolha de orgânicos na cantina para prevenir o desperdício alimentar) e à adoção de práticas gerais de prevenção da produção de resíduos. E da nossa equipa comercial que realiza ações de sensibilização e formações em diversas instituições, sendo uma delas as universidades.

Começámos pela questão mais pesada, a recolha dos resíduos, mas, agora, estamos a evoluir no sentido de criar novas parcerias, de modo a chegar a um universo mais alargado de pessoas e a nichos de mercado. Com a pandemia torna-se mais difícil chegar de forma mais direta às pessoas, mas é um caminho que tem de ser feito aos poucos, de forma a aproveitar todas as oportunidades para passar as nossas mensagens à comunidade estudantil.

Seria possível estarem disponíveis contentores para a separação dos resíduos orgânicos por parte da comunidade académica?

Tal como o ISEP, já muitas instituições têm contentores castanhos para a separação de resíduos orgânicos por parte das cantinas. Mas, com certeza, vamos por um contentor mais pequeno, de forma a que a comunidade académica possa depositar os restos dos snacks ao longo do dia.

TESTEMUNO DA MUNÍCIPE EVA FONSECA

De modo a compreender o que leva as pessoas a aderir ao projeto “Orgânico”, o JUP acompanhou a entrega de um kit e entrevistou a munícipe que o recebeu.

Kit Orgânico

Chamo-me Eva Fonseca e tenho 35 anos. Aderi a este projeto porque acho que para além de ser bastante importante em termos ecológicos, pode educar a população acerca da separação dos resíduos.

As pessoas da minha idade já cresceram com a ideia da reciclagem, fomos, talvez, a primeira geração que teve contato em contexto escolar com este tema.

Agora, é importante educarmos as pessoas o quanto antes para que todos minimizemos a nossa pegada ecológica e são projetos como este que nos permitem avançar. Acho que o passo seguinte, apesar de ter noção que é algo complicado, seria abolir os plásticos no supermercado.

Caso a câmara do Porto promovesse mais iniciativas como esta participaria, até como voluntária, porque acho muito importante fazermos tudo o que está ao nosso alcance para quebrar hábitos antigos, apesar de ser um processo trabalhoso, que exige planeamento e tempo (não é automático), é urgente mudarmos mentalidades e “lutarmos” por um mundo mais sustentável.

Adere ao projeto e esclarece as tuas dúvidas no Website do Orgânico

Texto por Maria Teresa Martins. Revisto por Eva Pinto.

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