Ciência e Saúde

Relatório do IPCC: Alterações Climáticas e o Futuro da Humanidade

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Foi publicado, no passado dia 9, o relatório do Grupo de Trabalho I para a 6ª Avaliação das Alterações Climáticas do IPCC, intitulado “A Base da Ciência Física”. Esta é apenas a primeira parte de uma avaliação que se espera estar concluída em 2022.

Elaborado por 234 cientistas, que analisaram mais de 14 mil estudos, o relatório reforça que a atividade humana é “inequivocamente” a causa do aquecimento global observado nos dias de hoje e previsto para o futuro. Com o aumento da temperatura média global, os subsistemas terrestres, como a atmosfera, os oceanos e a biosfera são também afetados, num efeito cascata causador de fenómenos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e intensos. O nível médio dos oceanos sobe e a perda de biodiversidade é agravada, mas estes são apenas alguns dos impactos.

As consequências das alterações climáticas já estão a ser sentidas em todas as regiões do mundo, e alguns dos impactos já se tornaram irreversíveis nos próximos milénios.

Os futuros possíveis

Para a avaliação foram estudados e modelados cinco cenários futuros, relacionados com as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), uso do solo e poluição atmosférica. As previsões foram feitas a curto (2021-2040), médio (2041-2060) e longo prazo (2061-2100).

Em todos os cenários considerados o aumento da temperatura média vai continuar até, pelo menos, meio do século, consequência dos GEE já emitidos até aos dias de hoje. É de esperar que fenómenos como ondas de calor, secas intensas, precipitação extrema, inundações e ciclones tropicais continuem a piorar até lá.

A temperatura média global já aumentou 1,1ºC desde o período pré-industrial, e até nos cenários mais otimistas, que admitem emissões de GEE muito baixas (cenário 1) ou baixas (cenário 2) e emissões líquidas de carbono neutras até 2050, prevê-se que este valor aumente para 1,5ºC até 2040. No entanto, nestes cenários é possível estabilizar neste valor até ao final do século, não ultrapassando os 2ºC de aumento até 2100, e cumprindo assim o que foi definido no Acordo de Paris.

Já no cenário intermédio (cenário 3), que assume a manutenção do atual ritmo de emissões, o planeta atingirá os 2,0ºC de aquecimento a médio prazo, situação na qual ondas de temperatura extremas já atingem os limiares de tolerância para a agricultura e a saúde humana. Prevê-se ainda que este valor continue a aumentar a longo prazo, atingindo os 2,7ºC de aumento até ao final do século.

Nos dois piores cenários considerados, que assumem um aumento elevado (cenário 4) e muito elevado (cenário 5) das emissões GEE e o dobro das emissões de carbono atuais, o aumento da temperatura poderá chegar aos 3,6ºC e 4,4ºC até 2100, respetivamente. Com cada aumento incremental de temperatura, também os fenómenos climáticos extremos ficam cada vez mais frequentes e intensos, pelo que, nestes cenários, as consequências para os humanos seriam catastróficas e até difíceis de prever.

O futuro que precisamos

Como suplemento ao relatório, é ainda publicado um “Sumário para Decisores Políticos” (Summary for Policymakers, em inglês) que resume os resultados e as principais conclusões, de forma a facilitar a tarefa de quem tem de tomar as decisões políticas. A principal mensagem deste primeiro relatório é que apenas reduzindo as emissões de GEE e atingindo a neutralidade carbónica até 2050, se torna possível limitar o aumento da temperatura média global a 1,5ºC, e assim evitar os potenciais impactos drásticos que se preveem.

Os próximos relatórios da avaliação irão focar-se nos “Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades” (Grupo de Trabalho II) e na “Mitigação das Alterações Climáticas” (Grupo de trabalho III), pelo que poderão conter informações ainda mais úteis para a criação e implementação de políticas.

Segundo Jim Skea, co-presidente do Grupo de Trabalho III, “limitar o aquecimento a 1,5ºC é possível segundo as leis da física e da química, mas para isso são necessárias mudanças sem precedentes”. Fica o aviso. Se queremos garantir que única casa que conhecemos continue a ser habitável, é preciso agir agora.

Em novembro irão reunir-se em Glasgow, no Reino Unido, representantes de cerca de 200 governos para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). Um dos principais objetivos é assegurar que os participantes se comprometem a atingir a neutralidade carbónica de forma coordenada e cooperativa.

As alterações climáticas já estão a demonstrar a sua força, e os eventos climáticos recentes têm destruido casas, bens e patimónio natural, mas, em muitos casos, o custo é também humano.

As chuvas torrenciais na Alemanha, que levaram às piores indundações dos últimos 700 anos, os incêndios na Grécia e Turquia, que duraram semanas, ou as chuvas intensas na cidade de Zhengzhou na China, cujas enchentes deixaram o metro, túneis e estacionamentos subterrâneos completamente inundados mostram que ninguém está a salvo do que pode estar para vir. As decisões tomadas hoje vão ditar o futuro da humanidade.

Texto por Eva Pinto. Revisto por Maria Teresa Martins.

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