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Ciência e Saúde

Investigadores do i3S dão passo importante no diagnóstico do Cancro Gástrico Hereditário

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Em 2024, irá decorrer no Porto um consórcio de especialistas onde serão aprovadas as mutações singularizadas na publicação “Genotype-first approach to identify associations between CDH1 germline variants and cancer phenotypes”, da revista “The Lancet: Oncology”. O objetivo é incluí-las no tratamento da doença.

O artigo referido trata-se da colaboração entre uma equipa internacional, liderada por Carla Oliveira, investigadora principal no i3S (Instituto de Investigação e Inovação em Saúde), no Porto. No estudo, foram analisados dados clínicos europeus recolhidos entre 2018 e 2022 por parte de 29 laboratórios diferentes, em dez países europeus, provenientes da ERN GENTURIS (European Reference Network on Tumour Risk Syndromes -Rede Europeia de Referência em Síndromes de Risco de Tumores). Através de dados acerca da informação genética do gene CDH1 (gene que codifica a proteína Caderina-E), e da análise do fenótipo (características observáveis nos indivíduos), analisou-se se as mutações encontradas se traduziam em HDGC e evoluíam para tumores.

Foram encontradas três novas mutações patogénicas e foram descartadas outras que revelaram não ter influência no aparecimento da síndrome do cancro gástrico difuso hereditário. A partir dos resultados deste estudo, verificou-se que apenas as mutações que se traduzem na eliminação da produção da proteína Caderina-E tem efeito na propensão de desenvolvimento de cancro.  Estas novas mutações descritas representam a oportunidade para a aplicação de novos critérios no diagnóstico desta síndrome, cuja importância do diagnóstico precoce é elevada.

Síndrome do Cancro Difuso Hereditário

Apesar do nome, a síndrome HDGC traduz-se, frequentemente, em cancro gástrico em homens mas em cancro da mama em mulheres em idades jovens, afetando mais de 50 mil pessoas, por ano, em todo o mundo. O grupo de investigação no i3S tem vindo a estudar o gene CDH1 e a sua relação com esta síndrome. Com este estudo verificou-se que “apenas as alterações que eliminam a produção de Caderina-E aumentam o risco de desenvolver cancro da mama e cancro do estômago“, revela a investigadora principal Carla Oliveira em comunicado.

Este cancro não tem ainda formas de tratamento eficazes, sendo que a melhor opção, atualmente, é a remoção da mama ou do estômago, após os 18 anos e antes do cancro se manifestar. Apesar de drástico, este tratamento profilático é, atualmente, o mais eficaz no tratamento de pessoas com este diagnóstico. Por se tratar de uma síndrome hereditária, a investigadora Carla Oliveira acredita que os resultados deste estudo e as medidas de previsão permitirão às famílias tomar decisões mais informadas para a gestão do risco em toda a família.

O estudo teve a colaboração dos membros da ERN GENTURIS, assim como dos grupos de investigação do i3S «Population Genetics & Evolution» e «UnIGENe», do «Ipatimup Diagnósticos» e de equipas do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), IPO-Porto, GenoMed, Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra e Porto Comprehensive Cancer Centre Raquel Seruca (PCCC).

Com esta descoberta, o grupo do i3S, através de um exemplo de cooperação internacional em Ciência,  possibilitou o avanço no diagnóstico da Síndrome do Cancro Gástrico Hereditário. Com a aprovação e início da aplicação destas novas medidas de diagnóstico, abre-se mais uma porta no tratamento precoce de várias famílias que apresentem estas mutações.

Texto por Maria Amaro. Revisto por Maria Teresa Martins.