Ciência e Saúde
Descoberto novo antibiótico contra bactéria super resistente
Cientistas da Universidade de Harvard descobriram um novo composto antibiótico capaz de eliminar uma das bactérias mais prejudiciais à saúde humana e super resistente a antibióticos. O mecanismo de ação deste fármaco foi descrito num estudo publicado no início de janeiro pela revista Nature.
O antibiótico zosurabalpina e o seu mecanismo de ação foram descritos num estudo publicado na revista Nature no início de janeiro, com autoria de Daniel Kahne, investigador da Universidade de Harvard. Na publicação, foi provado que o composto químico foi eficaz contra estirpes super resistentes da bactéria Carbapenem-resistant Acinetobacter baumannii, mais conhecida como Crab, em modelos de ratinho com pneumonia e sepsis. Esta bactéria está classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como patogénico crítico com prioridade 1 e apresenta uma incidência de 25.1 casos por cada 1 000 pacientes na Europa. Apesar de existirem outros dois tipos de bactérias com a mesma classificação também Gram-negativas, o antibiótico estudado apenas se revelou eficaz contra a Crab por ter como alvo o transportador de lipopolissacarídeos desta espécie em específico.
De acordo com Andrew Edwards, professor de microbiologia molecular no Imperial College London, em entrevista ao jornal The Guardian, “apesar de [a Crab] não ser um patogénio agressivo, é resistente a vários antibióticos diferentes, tornando-a muito difícil de tratar”. A causa desta dificuldade reside no facto de se tratar de uma bactéria Gram negativa que possui uma parede extracelular composta por moléculas chamadas lipopolissacarídeos (LPS), constituídas por gorduras e açúcares. Esta parede é extremamente eficaz a repelir as defesas do sistema imunitário e a ação dos antibióticos que tentam penetrar até ao interior da célula, tornando muito reduzida a eficácia destes fármacos.
O mecanismo de ação do novo antibiótico impede que os constituintes da camada de LPS sejam transportados para o exterior da bactéria durante a proliferação, culminando na sua morte.
Esta descoberta científica revelou-se particularmente importante, uma vez que se trata do primeiro antibiótico aprovado para uma bactéria Gram-negativa em mais de 50 anos, o que pode trazer esperança na luta contra a Crabs, que tem elevada prevalência em hospitais, particularmente em pessoas ligadas a ventiladores.
Michael Lobritz, diretor global de doenças infecciosas da Roche Pharma Research and early Development, que desenvolveu o medicamento, afirma que esta molécula não irá solucionar todos os problemas de saúde pública atuais, mas que se trata de uma descoberta importante acerca do sistema de transporte destas bactérias, que se pode vir a tornar alvo de outros medicamentos no futuro.
Apesar deste avanço em testes em modelos animais, os cientistas referem que, devido ao longo processo de ensaios clínicos em humanos, a chegada do novo fármaco ao mercado não estará ainda para breve. Até lá, o combate a este tipo de superbactérias baseia-se em bons cuidados de higiene, especialmente em meio hospitalar, e no uso responsável de antibióticos apenas em situações em que estes fármacos sejam necessários.
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Artigo redigido por Maria Amaro. Revisto por Diana Cunha