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Ciência e Saúde

Terapia imunológica emergente para a doença de Parkinson

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Um anticorpo monoclonal está a ser investigado como possível terapia para a doença de Parkinson, com capacidades de reduzir os sintomas da doença em fase precoce.

 

Fonte: Pixels

 

A doença de Parkinson (PD) é uma doença neurodegenerativa progressiva crónica, especialmente associada ao movimento. Depois da doença de Alzheimer, Parkinson é considerada a segunda doença neurodegenerativa mais comum. PD é caracterizada pela morte progressiva de neurónios dopaminérgicos localizados na substância negra pars compacta do cérebro, levando, subsequentemente, à redução de dopamina libertada no corpo estriado. Para além da morte de neurónios dopaminérgicos, as características neuropatológicas desta doença são a formação de agregados proteicos insolúveis ricos em alfa-sinucleína (chamados corpos de Lewy), aumento da reatividade glial e de processos neuro-inflamatórios.

Por consequência da redução de dopamina e morte celular na área da substância negra, que modifica o controlo de movimentos voluntários, advém a sintomatologia motora característica: bradicinesia, rigidez muscular, instabilidade postural e tremor.

Embora a etiologia da doença seja desconhecida, a oligomerização/agregação da proteína alfa-sinucleína desempenha um papel central na patogénese e desenvolvimento da PD, sendo associado ao stress oxidativo, stress do retículo endoplasmático, e disfunção da degradação proteica. A alfa-sinucleína é uma proteína de aproxidamente 15KDa, de 140 aminoácidos, codificada por um gene com 5 exões, localizado no braço longo do cromossoma 4.

Apesar de ter sido introduzida em 1817 pelo médico James Parkinson, a doença de Parkinsonainda não possui uma cura. Até à data, as terapias aprovadas para tratamento de PD centram-se em controlar sintomas e não inibir a progressão da doença.

Estudo clínico

Não obstante, em abril de 2024, um estudo da empresa Hoffmann-La Roche publicado na Nature apresentou um anticorpo como potencial tratamento para a doença de Parkinson.Prasinezumab é o primeiro anticorpo monoclonal terapêutico a ser desenvolvido para se ligar à agregação da proteína alfa-sinucleína a fim de garantir a sua desagregação.

O líder da investigação, Gennaro Pagano, explica à NewScientist: “O prasinezumab tem como objetivo reduzir a toxicidade neuronal, prevenir a transferência célula-a-célula de agregados patológicos de alfa-sinucleína e retardar a progressão da doença”. Realizado em 2017, o ensaio clínico deste estudo foi designado PASADENA, e foram administradas infusões mensais de 1,500 ou 4,500 mg do anticorpo com placebo para os pacientes com doença de Parkinson em estágios iniciais, durante 52 semanas.

Neste estudo, os investigadores analisaram os potenciais efeitos terapêuticos do anticorpo na progressão sintomatológica da doença. Os pacientes foram divididos em quatro subpopulações: pacientes com uso de inibidores MAO-B, pacientes pertencentes à escala de Hoen e Yar, presença de transtorno do comportamento do sono REM e doentes que apresentavam fenótipos malignos difusos. Os resultados revelaram sinais positivos de atraso da doença em pacientes que, inicialmente, demonstraram uma evolução rápida e significativa dos sintomas, “Os resultados indicam que numa população de progressão mais rápida, onde o grau de agravamento ao longo do tempo é maior, existe uma maior probabilidade de um potencial efeito do tratamento”, afirma Pagano. Para além disso, esta terapêutica foi eficaz em todos os pacientes ao fim de 52 semanas, em relação com os pacientes tratados com placebo.

Quanto aos resultados dos pacientes em que a doença mostrou uma evolução mais lenta, Pagano apresenta uma justificação “Isto pode dever-se ao facto de as pessoas com Parkinson de progressão mais rápida terem maiores quantidades de alfa-sinucleína mal dobrada nos seus cérebros, pelo que provavelmente beneficiariam mais de um medicamento que potencialmente elimina a proteína”.

Muita esperança está depositada nesta terapêutica, visto não existir nenhuma cura para esta doença. Porém, apesar destes resultados, ainda não se sabe como é que o anticorpo atua no cérebro, mais propriamente nas agregações da proteína: “porque os pesquisadores não tinham um biomarcador que lhes permitisse monitorizar como os níveis da alfa-sinucleína mal dobrada podem alterar”. Como perspetiva futura, os investigadores pretendem entender como atua o anticorpo em pacientes com sintomas mais ligeiros, por períodos de administração mais longos.

A doença de Parkinson exige desafios significativos e esforços coletivos aos níveis da comunidade científica, dos profissionais de saúde, pacientes e respetivos cuidadores. Embora ainda não exista uma cura, os avanços científicos vão no sentido de proporcionar uma esperança para o tratamento desta doença.

Artigo redigido por Rafael Maria Pires e Marinho. Revisto por Joana Silva

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