Ciência e Saúde
Alterações climáticas: um vírus contra a poluição?
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Já vários países europeus desistiram de produzir eletricidade através do carvão e, nos últimos dois meses de quarentena, também as termoelétricas nacionais têm estado paradas, traduzindo-se numa redução de um milhão de toneladas de CO2 libertadas para a atmosfera. No entanto, os registos obtidos pela análise de núcleos de gelo indicam que há 800 mil anos que não se viam valores como os atuais.
A Sala de Situação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) revela um crescente aumento das concentrações de CO2 desde 1958, com flutuações sazonais. Apesar destas flutuações, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera não estão apenas a aumentar como o seu aumento tem sido cada vez mais acelerado, devido às emissões antropogénicas. Em abril de 2020 bateu-se um novo recorde, com uma concentração média na atmosfera de 416,21 ppm (partes por milhão).
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Variação da concentração atmosférica de dióxido de carbono ao longo dos últimos 800 mil anos, obtida pela análise de núcleos de gelo. Fonte: UNEP
Estes resultados poderão ser surpreendentes para alguns, principalmente dada a visão otimista de que a crise criada pela COVID-19 iria reduzir as emissões globais. A verdade é que, apesar da diminuição global do tráfego e da atividade industrial, o fornecimento de energia manteve-se quase inalterado na maioria dos países (sendo obtido na sua maioria pela queima de combustíveis fósseis como o carvão), tal como os incêndios florestais que afetam vários pontos do globo.
O especialista em mudanças climáticas Niklas Hagelberg afirmou que “sem mudanças fundamentais na produção global de energia, não poderemos esperar uma mudança duradoura das emissões”. Esta pandemia só “ofereceu-nos uma oportunidade de perceção do relacionamento insustentável que temos tido com o meio ambiente e de reconstruir a economia mundial de uma forma mais ambientalmente responsável”.
Acrescenta ainda que “apoiar o estímulo fiscal e os pacotes de apoio financeiro para a descarbonização e uma acelerada transição energética para as energias renováveis é que permitirá obter uma vitória em resiliência para o futuro, para além de um ganho económico”.
Está previsto que Portugal junte-se em 2023 ao grupo, que se prevê cada vez maior, de países europeus que baniram a produção de energia elétrica a partir da queima de carvão: a forma mais barata, mas também mais poluente de produzir energia. A lista inclui já a Bélgica, a Áustria e, mais recentemente, a Suécia.
Concluindo, a diminuição das emissões para a atmosfera devido à pandemia favoreceu sim a qualidade do ar, mas não sendo uma solução duradoura nada fará a longo prazo e não foi suficiente para evitar um novo recorde da concentração global de dióxido de carbono na atmosfera. Um objetivo que só seria, portanto, conseguido com a implementação de medidas definitivas aplicadas e respeitadas por todos os países ao longo dos próximos anos.
Artigo elaborado por Alexandra Simões.
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