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Ciência e Saúde

Insetos que se alimentam de plástico

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Foi descoberta, no Quénia, uma espécie de insetos que é capaz de se alimentar de plásticos, surgindo uma nova ferramenta na redução natural de resíduos.

 

Poliestireno

Fonte: Somewang

Fonte: Somewang

O poliestireno, mais conhecido pelos nomes comerciais estiropor, isopor e esferovite, é um material composto principalmente por carbono e hidrogénio, tipicamente derivado do petróleo. Este polímero é utilizado como isolante térmico e elétrico, bem como na fabricação de objetos plásticos.  Apesar da sua versatilidade, a utilização deste tipo de material acarreta consequências ambientais, uma vez que se trata de um poluente de difícil degradação e apresenta riscos para a saúde humana, uma vez que liberta gases tóxicos. Na fabricação de poliestireno, são libertados mais de 50 subprodutos químicos, responsáveis pela contaminação do ar e água, e consequentemente, do solo.

Atualmente, África é o segundo continente mais poluído do mundo, com mais de 500 contentores de resíduos importados a cada mês, valor que se estima que duplique, nos próximos 5 anos. Deste modo, a descoberta de insetos que se alimentam de plásticos, revelou-se importante, uma vez que estes se inserem nos métodos biológicos de gestão deste tipo de resíduos.

 

Larvas tenébrios

Fonte: TRIBUNADEMINAS

 

A espécie de insetos identificada denomina-se de larvas tenébrio, também conhecida como larva-da-farinha, e é capaz de consumir poliestireno que subsequentemente lhe fornece energia a partir do consumo de hidrogénio e carbono do polímero.

A larva tenébrio é uma forma larval do besouro escuro Alphitobius. Esta espécie é encontrada principalmente em aviários e, ambientes quentes. Este tipo de locais reúnem as condições ideais para o seu crescimento e reprodução, uma vez que proporcionam uma fonte constante de alimentos.

Para além deste papel ambiental, este inseto foi recentemente introduzido no mercado alimentar, sendo utilizado como ingrediente de ração animal ou até mesmo vendido em mercados e bancas de comida de rua. A farinha de larvas é rica em aminoácidos essenciais e ácidos gordos insaturados. Ademais, sublinha-se que os insetos foram identificados no plano de ação 2020-2030 da União Europeia para sistemas alimentares saudáveis, como fonte de proteína com baixo impacto ambiental e potencial de ajudar a produção de alimentos mais sustentável.

 

Estudo experimental realizado ao inseto

O estudo destes insetos foi realizado pelo Centro Internacional de Fisiologia e Ecologia de Insetos. Durante um mês, as larvas foram divididas em três grupos, de acordo com a sua alimentação: apenas poliestireno, apenas farelo (rico em nutrientes), combinação de farelo e poliestireno. Observou-se que, as larvas alimentadas com a mistura sobreviveram em taxas mais altas do que aquelas que apenas se alimentaram de poliestireno, tendo-o também consumido de forma mais eficiente, ou seja, é necessário que a dieta destes insetos inclua, também, uma fonte nutritiva. Ainda assim, as taxas de sobrevivência das larvas, nos três grupos de tratamento, foram acima de 80%, durante o período total do estudo. Acrescenta-se que as larvas-de-farinha, cuja dieta incluía a combinação de farelo e poliestireno, foram capazes de destruir aproximadamente 11,7% do poliestireno total, durante o período experimental.

Este estudo dedicou-se também à análise de bactérias intestinais dos insetos, de modo a identificar e isolar as comunidades bacterianas e enzimas específicas que podem apoiar o processo de manipulação do plástico.

A exposição das larvas-de-farinha a dietas ricas em poliestireno levou a um aumento da diversidade bacteriana do intestino, quando comparadas com aquelas em dietas de controle.  Assim, foram identificadas bactérias pertencentes predominantemente aos filos Proteobactérias e Firmicutes. Também, bactérias dos géneros Kluyvera, Lactococcus, Citrobacter, Klebsiella, foram dominantes nos três grupos de dieta e são capazes de se adaptar a vários ambientes e de produzir enzimas capazes de decompor uma vasta gama de materiais complexos (como é o caso dos plásticos sintéticos). Além disso, através da análise experimental, concluiu-se que a ingestão de poliestireno levou a um aumento significativo da família Enterobacteriaceae, tornando este grupo de bactérias o candidato que provavelmente está mais envolvido na degradação inicial do plástico, no intestino das larvas.

Como tal, formulou-se a hipótese de que os insetos podem conter, nos seus intestinos, enzimas digestivas responsáveis pela degradação de plásticos, sendo esta uma reação sinérgica ou simbiótica entre os microrganismos intestinais e o hospedeiro.

 

Embora as larvas tenébrios sejam uma estratégia sustentável de gerenciamento de resíduos promissora, existem ainda desafios, reconhecidos cientificamente, na ampliação, otimização, aplicação e garantia de segurança que necessitam de ser abordados e estudados mais afincadamente. A contínua pesquisa e investigação, neste campo, permitirão explorar o potencial deste tipo de larvas, e de outros organismos semelhantes (com a mesma finalidade), de modo a ajudar a resolver o problema dos resíduos de plástico.

Artigo redigido por Beatriz Novais Ferreira. Revisto por Joana Silva.

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