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COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO VOLTA AO PORTO COM NOVO REPORTÓRIO

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A CNB regressou ao Porto para estrear o programa “Repertório”, quatro peças de coreógrafos distintos e marcantes do século XX numa análise e reafirmação do seu contributo para a dança.

O programa abriu com “Serenade”, a primeira peça que George Balanchine fez em Nova Iorque, em 1934. Pioneiro na abstração da dança, não coreografa em torno de um enredo, mas em resposta ao estímulo musical, inaugurando o estilo neoclássico. Criada para a mulher, “Serenade” é uma dança leve, esvoaçante e graciosa e uma exaltação da bailarina romântica, a mulher frágil que se transforma em heroína. A beleza feminina da música de Tchaikovsky (Serenata para cordas em Dó maior, Op. 48) é o consumar da experiência estética. Para a CNB foi estreia absoluta.

Segue-se a contrastante força masculina de “Grosse Guge”, de Anne Teresa De Keersmaeker, peça criada sob uma interpretação analítica da obra musical homónima de Beethoven. Keersmaeker aprofunda a relação da dança com a música numa correspondência exata do movimento à complexa estrutura musical e aos sons de cada instrumento do quarteto de cordas que está em palco com os bailarinos. O que se ouve é o que se vê.

“Herman Scherman” é a ambiguidade e abstração última. Não há qualquer significado subjacente, o próprio nome não tem significado, mas deixa a sensação de algo sugerido. É o cunho de William Forsythe, cujo trabalho coreográfico se desenvolve na extensão do vocabulário do ballet clássico para o movimento multidirecional. Henriette Ventura e Miguel Ramalho executaram um movimento forte e veloz, alternadamente sinuoso, com destacadas retas sem fim ou quebradas em ângulos.

O espetáculo termina com “5 Tangos” de Hans van Manen, numa última evolução do ballet na apropriação de outros estilos de dança.
“Grosse Fuge” e “Herman Scherman”, os frenéticos e impactantes, foram os que receberam mais aplausos.

Seguiu-se uma conversa com Luísa Taveira, Diretora da CNB, e Miguel Ramalho, mediada por Maria José Fazenda. Luísa Taveira falou sobre a conceção do espetáculo como um linear “portfólio coreográfico” da abordagem à dança clássica e aprofundou as características de cada coreógrafo e o seu modo de trabalhar. Já o jovem bailarino falou da sua experiência de aprendizagem enquanto aluno e do crescimento profissional do artista direcionado para a versatilidade.

Quanto ao programa “Dança e documentário”, “Portrait Series: I Miguel” é um diálogo intercultural entre o bailarino Português Miguel Ramalho e o bailarino e coreógrafo Conguês Faustin Linyekula, o “Artista na Cidade” de 2016 e convidado da CNB. No palco vemos Miguel na sua relação com o ambiente citadino e sociocultural do Congo.

A apresentação da CNB terminou com “No Escuro do Cinema Descalço os Sapatos”, documentário de Cláudia Varejão que, ao longo de 2015, acompanhou o quotidiano da Companhia.

Os dois dias de espetáculo de repertório tiveram lotação esgotada. O programa duplo segue agora para Lisboa, onde estará em cena de 5 a 20 de fevereiro no Teatro Camões.

O trabalho de Faustin Linyekula poderá ser visto ao longo do ano em diferentes espaços de Lisboa e noutros projetos diversos que criará com artistas, estudantes e habitantes da cidade.

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