INAUGURAÇÃO DE “SE JÁ NÃO FOSSE…” DE SUSANA CHIOCCA

Se já não fosse… é uma exposição multidisciplinar que cruza diversas formas de linguagem (vídeo, fotografia, performance e poesia) e que se constrói a dois tempos: por um lado a consciência da situação política e social europeia e, por outro, a exploração poética da imagem, que remete o espectador para o conceito de invisibilidade, abordado frequentemente pela artista.

A exposição, constituída por Europa, Lamento, Se já não fosse, Bruciferno e mais duas obras sem título, não estando fisicamente delimitada, pode ser dividida em dois espaços concetuais.

O primeiro procura reinterpretar as raízes de símbolos identitários dos espaços político e cultural europeus. Observamos, assim, a consciência de uma autofagia em que a bandeira da União Europeia é mutilada nas suas doze estrelas (Europa) e, do corpo mutilado, restam ossos destruídos que a bandeira portuguesa abraça (Lamento) . Em Bruciferno (obra filmada em Cuenca, localizada na província de La Mancha, e com texto de Luca Argel), há a transposição de D. Quixote para a atualidade, algo que lembra o conto de  Borges. De uma dialética entre a personagem e o moinho, em que se ouve a voz da máquina e, na paisagem, se sobrepõem ventoinhas eólicas, surge um questionamento moderno acerca da realidade técnica, a partir da qual surge a dúvida: como reinscrever um símbolo que, por si só, já é identitário de uma realidade presente e, em simultâneo, histórica?

O segundo espaço concetual, constituído pelas restantes obras, na maior parte fotografias, aborda as investigações mais poéticas de Chiocca. Aqui, temos imagens que revelam uma essência escondida (invisível) por debaixo da perceção mais imediata. A disposição das fotografias (na vertical e na horizontal) obriga a uma relação corporal entre o espectador e o objeto, desenvolvendo este uma performance pessoal, ao mesmo tempo que interpreta o que vê. Quem observa torna-se, deste modo, um “inter-ator”, consumando a criação artística.

Susana Chiocca, que “fabrica em torno de conceitos e derivados como o de ligamento/ponte/conexão/alteridade/impressão”, encontrar-se-á em residência artística no espaço MIRA até 5 de março, dia em que se realizará Amanheceu enquanto conversávamos, um diálogo entre a artista, Joclécio Azevedo e Alexandra Balona, bem como a performance BITCHO.